A Academia Equestre João Cardiga possui um ambicioso projeto desportivo de âmbito internacional, denominado “Cavalgar até Tóquio 2020”. O objetivo principal deste projeto passa por preparar, e qualificar, a sua equipa de sete cavaleiros de Paradresage, a maioria com paralisia cerebral, para os Jogos Paralímpicos de 2020, que se realizam em Tóquio.
Ao longo desta parceria, verificaram-se diversas situações em que a prestação dos atletas foi abalada por situações contextuais.
De forma a ser dada uma resposta a estas necessidades específicas dos atletas, os Jogos Santa Casa promoveram um protocolo pioneiro entre o Hospital de Sant’Ana e a Academia Equestre João Cardiga. Através deste protocolo, o Hospital passou a fornecer acompanhamento especializado de psicologia desportiva aos atletas de Paradressage da Academia Equestre João Cardiga.
“Um apoio fundamental”
A primeira atleta a usufruir deste apoio foi Sara Duarte, que foi acompanhada, nos últimos seis meses, por Valdemar Barbosa, psicólogo do Hospital de Sant’Ana.
Sara Duarte tem 34 anos e é portadora de Paralisia Cerebral. Teve, por indicação médica, o seu primeiro contacto com o hipismo aos 7 anos, ao experimentar a hipoterapia (terapia que tem por base a convivência entre a pessoa e o cavalo). Desde então que nasceu e cresceu a sua paixão pelos cavalos e pela equitação, bem como a aptidão para o desporto.
Aos 15 anos começou a praticar Paradressage e aos 24 anos teve a sua primeira experiência olímpica com os jogos de Pequim em 2008. É atleta paralímpica de paradressage/ equitação adaptada, do grau 2. Está na caminhada paralímpica para as suas terceiras olimpíadas e assim vai representar uma vez mais Portugal, nos próximos Jogos Tokio 2020.
É uma cavaleira de sucesso e foi sempre muito disciplinada ao conseguir manter os estudos e a prática desportiva. Mestre em Ciências Farmacêuticas, consegue conciliar a sua profissão de técnica farmacêutica com a prática da modalidade.
Sara acredita que é “fundamental ser acompanhada por um especialista na área da psicologia desportiva. Andava à procura há uns tempos e o apoio dos Jogos Santa Casa tornaram possível o preenchimento desta lacuna que sentia, espero vir a ter uma prestação mais focada, atingir os meus objetivos e praticar uma competição mais saudável”.
Fundamental é também o adjetivo encontrado por Valdemar Barbosa para falar sobre a importância de um acompanhamento constante a estes atletas: “Não se pode propriamente chegar a um ponto em que se diz, este atleta está trabalhado e não necessita de mais acompanhamento. Tal como o trabalho, do treinador e do preparador físico, o do psicólogo deve seguir uma linha contínua no tempo. Há sempre situações novas no dia-a-dia dos atletas que devem ser constantemente trabalhadas (restabelecimento de objetivos, controlo das atividade diárias, gestão de lesões, gestão de expectativas, etc.)”.
Desde que começou a ser acompanhada pelo psicólogo do Hospital de Sant’Ana, a atleta sente que dá mais atenção a detalhes de preparação física, “faço um trabalho de interiorização das minhas capacidades físicas, emocionais, e tenho aprendido a tomar consciência e a arranjar alternativas”, refere.
A vertente motivacional do projeto é enaltecida por Valdemar Barbosa. O psicólogo defende que este protocolo “é da máxima importância, principalmente, porque esta relação de cumplicidade origina uma situação muito relevante para o desempenho de atleta, a confiança. A atleta que confia 100% no seu cavalo, isto é, que sabe que ele é capaz de realizar as tarefas que se lhe pedem, é uma atleta mais preparada para a realização de qualquer prova, uma vez que estará mais focada nos aspetos controláveis da competição”.
Uma das características do Paradressage é a relação emocional entre o atleta e o cavalo. Sara Duarte lembra que “no contexto desportivo de alta competição, o reforço da intervenção da psicologia desportiva é fundamental para a melhoria da performance e para um aumento da intensidade da relação entre cavalo e atleta”.
A atleta confidencia que sentiu “muita dificuldade em superar a perda do meu cavalo “Napolitano”, mais tarde, percebi que que quando o perdi, “eu sabia ganhar, mas não sabia perder” e enquanto atleta de alta competição tive que aprender a saber perder para voltar a ganhar e querer criar uma relação forte e de cumplicidade com o meu novo cavalo “Daxx Du Hans”. Hoje, acho que estou no bom caminho!”, diz confiante.
O desafio que se avizinha no horizonte são os Jogos Tokio 2020. Valdemar Barbosa acredita que com o trabalho desenvolvido “a atleta chegará a Tokio a conhecer-se melhor, enquanto competidora, e saberá lidar melhor com os fatores de stress inerentes à competição. Terá rotinas psicológicas que a ajudaram a preparar melhor as provas, saberá controlar melhor a sua ansiedade e apreciar mais a situação competitiva”.
Sara aponta ao pódio naquela que será a sua terceira participação olímpica: “Enquanto atletas, temos o sonho de alcançar as medalhas, no entanto, obter o 5º lugar em Pequim, foi quase como chegar à medalha! Atualmente sinto-me mais forte, confiante e sei que tenho um bom cavalo, com bom nível e apesar de sabermos o nível da concorrência internacional, e de eu ocupar o 11º lugar no Ranking Mundial, do grau2, do FEI (Federação Equestre Internacional), a nossa equipa trabalha arduamente e diariamente para ambicionar a medalha”, conclui.