Aos poucos, os “quadradinhos” foram preenchendo a tela. Cerca de 30 famílias de acolhimento disseram presente no “I Encontro de Famílias de Acolhimento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa,” que, devido à Covid-19, aconteceu através de videoconferência. Como referiu a diretora da Unidade de Adoção, Apadrinhamento Civil e Acolhimento Familiar da Santa Casa, Isabel Pastor, a sessão ocorreu “quase como em todas as famílias portuguesas”, que, este ano, viram-se obrigadas a encurtar distâncias através da tecnologia.
Mas este grupo de famílias de acolhimento é por si só uma família. “O ambiente que aqui se vive, de partilha e compaixão, é um ambiente intimista”, acrescenta Isabel Pastor. Foi uma tarde longa, mas que passou num ápice. Nos vários quadradinhos viam-se rostos de felicidade, sorrisos e lágrimas de emoção. Aos poucos as famílias ganhavam à-vontade para partilharem as histórias vividas durante um processo nem sempre fácil. Ao mesmo tempo que as colunas do computador emitiam os testemunhos de quem sente que faz a diferença na vida de alguém, no ecrã multiplicavam-se os sorrisos e o abanar de cabeça num gesto perfeito de quem se revê naquelas palavras.
A reunião serviu para a partilha de histórias, mas também para recolher sugestões que permitam à Santa Casa melhorar um serviço que arrancou em força, em novembro de 2019, e que manteve o ritmo mesmo durante a pandemia de Covid-19: desde março de 2020 foram acolhidas 21 crianças.
À reunião juntou-se a equipa de acolhimento da Santa Casa. É este grupo que, todos os dias, trabalha na proteção das crianças e jovens em perigo. Neste papel, a sua missão é uma só: permitir que as crianças em risco vejam o direito de crescer no seio de uma família salvaguardado. E, neste âmbito, é preciso não descurar as duas partes, porque através do acolhimento estas crianças podem ter um projeto de vida que até então estaria destinado à institucionalização.
Portugal é um país a duas velocidades no que ao acolhimento familiar diz respeito. Ainda que os dados apontem para um aumento do número de famílias disponíveis, Portugal é dos poucos países da Europa em que o acolhimento residencial (97%) continua a ser preferido em relação ao acolhimento familiar (3%). Em 2020, a Santa Casa registou 52 candidaturas, sendo que 20 famílias foram selecionadas e nove desistiram ou não foram selecionadas. As restantes 23 terminarão a avaliação em 2021.