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Vivo para cuidar de ti

Vivo para cuidar de ti

Os dias de Manuel ficaram melhores quando a Santa Casa chegou. Já lá vão quatro anos a cuidar da vida de Angélica, a quem uma doença neurológica tirou a autonomia. Hoje, a esposa só sobrevive. A Manuel as dúvidas inquietam o pensamento: “O que posso fazer mais por ela?”.

Ação social

O sol tímido que se esconde por detrás das nuvens deixa Manuel num limbo entre a luz e a escuridão. Entre acenos e expressões faciais ocultadas pela máscara, dá indicações de que estamos no caminho certo. O som de guitarras do blues rock guia-nos pelo corredor de um prédio, paredes meias com o Clube de Rugby do Técnico, em Lisboa. “Entrem, fiquem à vontade. Vou desligar a música, apesar de gostar muito. Lembra-me a minha altura, quando era jovem”, recorda.

Olhar pela janela é o único contacto que vai mantendo com o exterior. Antes da Covid-19 ainda saía para comprar o jornal, mas eram raras as vezes que podia parar para olhar as páginas com calma. Não sobra tempo na vida deste cuidador informal. Os dias preenchem-se: entre cuidar da esposa, da lida doméstica e, quando dá, cuidar um pouco de si. É assim há quatro anos, altura em que a sua vida foi tomada pela vida da mulher.

A palavra confinamento não entrou no dia a dia deste casal apenas em 2020, por força da pandemia. Estar confinado deixa de ser um problema quando se torna num modo de vida. Hoje, como em todos os 365 dias do ano, estava com Angélica, de 78 anos, em casa. “Não tenho outra hipótese. Não a posso deixar sozinha. Além disso, isto da Covid não ajuda nada”, desabafa Manuel, enquanto ajuda Angélica a exercitar partes do corpo adormecidas. A Organização Mundial da Saúde (OMS)  declarou 2021 como o ano internacional dos trabalhadores de saúde e cuidadores” que, sobretudo nesta fase de pandemia, “têm demonstrado dedicação, sacrifício e compromisso extremos”.

restrato de um homem com mulher no fundo

As palavras da OMS traduzem na perfeição aquilo em que a vida de Manuel se tornou. São tempos difíceis para este homem de 73 anos, com um passado marcado pela liberdade de escolha. Em 1975 bateu às portas do Polo Norte. Portugal recuperava de mais de 40 anos de ditadura, e Manuel já colocava os pés a caminho da maior aventura da sua vida. Foram 33 dias de viagem, com um amigo, “num dois cavalos”, o mesmo carro que mais tarde levaria Manuel e Angélica até Marrocos. Nesta viagem pela Europa, Leninegrado (atual São Petersburgo) era o destino. A passagem para a Rússia, pelo lado finlandês, foi interrompida na fronteira entre os dois países devido à ausência de visto. Ainda hoje lamenta ter perdido o rasto ao diário de bordo, com texto e fotografias, que elaborou durante a viagem.

Dos tempos que viveu em Macau, entre 1985 e 1989, a conversa é diferente. Objetos de decoração oriental adornam o lar deste casal. São pequenas peças, “mas com muito valor”, que transportam Manuel para um período da sua vida em que tudo era diferente. Na altura, vislumbravam-se poucos portugueses naquela região. Recebeu um convite para trabalhar em Macau, como diretor comercial e marketing de uma empresa, depois de 13 anos numa firma de madeiras em Portugal. Foi aqui que, um dia, olharam para Manuel e disseram: “Ó Manel, tu é que eras bom para entrar num filme”. Fez de figurante no The Boys From Brazil, filme estreado em 1978, que foi em parte rodado em Portugal, onde figuravam Gregory Peck, Laurence Olivier e James Mason.

A curta carreira de um jovem que nunca aspirou ser ator terminou num ápice. No currículo de Manuel não constam mais participações em longas-metragens. O mais próximo que voltou a estar dos grandes ecrãs foi em Macau, ao comprar espaço publicitário na principal televisão daquele país.

Seis meses depois, Angélica juntou-se ao marido naquela região, na altura administrada por Portugal. O plano estava feito: “Já éramos casados há uma série de anos. Eu fui primeiro, para ver se me ambientava”. Correu tudo bem. Angélica acabaria por deixar o cargo de administrativa para se juntar ao marido no sudeste asiático. Manuel recorda que, na altura, deram a Angélica uma licença sem vencimento, “o que não era habitual”, mas como “ela tinha um currículo excelente” – marcado pela conquista de medalhas e diplomas de mérito – o superior dela disse: “Para a Angélica, tudo, tudo o que ela quiser. Ela vai o tempo que ela quiser para Macau e, quando voltar, tem o lugar dela à espera”.

E assim foi. Em 1989, no regresso a Portugal, ela recuperou o cargo outrora ocupado. Para Manuel foi diferente. Com experiência profissional como militar no Congo Belga, como diretor comercial de uma empresa macaense e até como aspirante a ator, acabaria por conseguir trabalho numa área que, na sua visão, “era só para meninos bonitos”: o turismo. Nos anos 90, começou a trabalhar em hotéis, primeiro em Lisboa e depois na praia da Barra, em Aveiro.

Foi já como aposentado que tudo mudou. A depressão de Angélica viria a desencadear coisas piores: uma demência. Os problemas do foro neurológico foram provocando o declínio progressivo da mente e do corpo. Para Manuel é difícil perceber como chegaram aqui. Como, hoje, o melhor que consegue obter da esposa é pequenas reações que se traduzem em quase nada. “Ela não fala comigo. Emite uns sons, repete o que eu digo na melhor das hipóteses”, refere.

Homem a cuidar da esposa

Manuel olha para o relógio. Está na hora! Dirige-se à cozinha para preparar um lanche para a mulher, o docinho de sempre, “que ela tanto adora”. Os cuidados a Angélica começam bem cedo: “Preparo o pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar. Dou-lhe toda a alimentação e medicação. A minha vida é isto, completamente dedicado a ela, 24 sobre 24 horas”.

Angélica é carregada por braços que já não têm a força de outros tempos. Uma pessoa não chega para a tirar da cama ou do sofá, “quanto mais tratar da higienização”. Entretanto, começou a perceber que duas mãos não dão para cuidar de tudo. Após várias pesquisas, alguém indicou a Santa Casa. As auxiliares de geriatria e apoio à comunidade, do Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) Madredeus, vêm todos os dias, de manhã e ao final da tarde, para ajudar Manuel a aliviar a carga diária. “Vamos lá tomar banhinho, minha querida Angélica?”, questiona a auxiliar Eugénia Efigénio.

 

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