O ritual foi cumprido rigorosamente, como se de surfistas profissionais se tratassem. Chegada à praia de Carcavelos pela manhã, vestir os fatos com mais ou menos dificuldade, pegar nas pranchas e dirigirem-se para a água. Primeiro, testando a temperatura, depois entrando no mar, uns com mais confiança e outros a medo, mas sempre apoiados pelos monitores da SURFaddict (Associação Portuguesa de Surf Adaptado) que, durante a aula exclusiva para os utentes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa ajudaram estes surfistas amadores a relaxar e a aproveitar todas as sensações possíveis que o surf consegue proporcionar.
Estas aulas anuais de surf adaptado já não constituem uma novidade para alguns dos utentes do Centro de Paralisia Cerebral Calouste Gulbenkian (CPCCG). Desde 2017 que este equipamento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa se associou à SURFaddict. A primeira experiência ocorreu na praia da Areia Branca, na Lourinhã; no ano seguinte, a aula passou para a praia de Carcavelos, tal como nesta terça-feira.
“Neste grupo, para três deles foi a primeira vez que participaram”, explicou Paula O`Neill, terapeuta ocupacional do CPCCG, assegurando que os estreantes “adoraram” a experiência. Os restantes, já habituados a estas aulas de surf adaptado, já sabiam o que os esperava: “Uma sensação de liberdade, muita adrenalina, o recordar dos dias na praia e uma sensação de maior facilidade em se movimentarem”, relatou a responsável.
Experientes ou estreantes, certo é que os níveis de expectativa destes utentes, com idades entre os 20 e os 50 anos, nunca tinha sido tão elevada. De tal forma, que existia muita ansiedade pela atividade, algum receio e muita alegria, com os dias a passarem e a mesma pergunta a repetir-se diariamente: “Vai mesmo acontecer?”.
Após duas horas a “furar” as ondas, até perto da hora do almoço, os efeitos desta aula terapêutica já se faziam sentir (e notar) junto destes utentes. Calmos, com confiança para estar na água e com mais energia são alguns dos benefícios apontados por Paula O´Neill. Já os rostos destes surfistas deixavam transparecer alegria e felicidade, sentimentos que eram verbalizados com frases como “quero mais” ou “não esperava que fosse tão bom”. Emoções que não deixam ninguém indiferente no CPCCG e que “fazem tudo valer a pena”, como faz questão de sublinhar a terapeuta ocupacional que os acompanha nesta “aventura”.
“É por isto que continuamos a apostar sempre, e cada vez mais, em atividades de integração”, conclui Paula O´Neill sem hesitações, após mais um dia inesquecível para estes utentes da Misericórdia de Lisboa.