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Saúde mental. O trabalho das ERPI e Centros de Dia da Santa Casa junto das pessoas idosas

Saúde mental. O trabalho das ERPI e Centros de Dia da Santa Casa junto das pessoas idosas

Outubro conjuga as comemorações do Mês do Idoso e do Dia Mundial da Saúde Mental. Dois temas que ganham especial importância nas ERPI e Centros de Dia da Santa Casa, onde se ajuda os que já têm mais idade a darem sentido à vida.

Ação social

“A pandemia veio fazer com que as pessoas percebessem que a nossa saúde não é só física”. A frase é da psicóloga clínica e da saúde do Centro de Dia e Residência Quinta das Flores, Susana Catarino, para quem é impossível falar em saúde sem falar em saúde mental. No caso de Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI) da Santa Casa como o Centro de Dia e Residência Quinta das Flores, a expressão “mente sã em corpo são” ganha especial importância. As pessoas mais velhas necessitam que esta, “que é a casa delas”, tenha um olhar que proporcione esse cuidado, “de modo a potenciar o que de melhor elas têm”, explica Susana Catarino.

Apesar da pandemia ter trazido o tema da saúde mental para a opinião pública, a verdade é que na Santa Casa a preocupação com esta temática é antiga. Exemplo disso é a aposta em equipas multidisciplinares onde a psicologia está presente. No âmbito do trabalho de equipa (permanente e de apoio) realizado, são planeadas atividades dinamizadas por vários elementos da equipa, que têm como principais objetivos a ocupação, a promoção do bem-estar e a prevenção do declínio cognitivo. No caso do psicólogo, este pode ainda prestar um apoio mais individualizado face a uma necessidade de estabilização, quer ao utente, quer ao seu agregado familiar.

O Centro de Dia e Residência Quinta das Flores é o reflexo de tantos outros equipamentos da Misericórdia de Lisboa. Aqui, a promoção da saúde mental faz-se de atividades diárias com os utentes, oficinas de estimulação cognitiva, passeios, salas de snoezelen e contacto com familiares. Trata-se de uma intervenção multidisciplinar, onde os diferentes saberes dialogam e se conectam de modo a enriquecer o serviço que é prestado.

A generalidade dos equipamentos e serviços da Santa Casa conta com o apoio de um ou mais psicólogos, que prestam apoio na área da saúde mental. A cultura organizacional da instituição é, para Susana Catarino, um fator muito importante neste apoio prestado aos utentes, pois está, “cada vez mais, focada nesta questão da saúde mental”.

“A doença não define uma pessoa. Temos de ter um olhar comum capaz de dignificar e de potenciar o melhor do ser humano. Isso faz com que, cada vez mais, possamos fazer com que as ERPI sejam lugares de vida e que não sejam vistas como o fim de alguma coisa”

Encontrar sentido na arte

A promoção da saúde mental nos equipamentos da Misericórdia de Lisboa verifica-se também nas diversas atividades que vão surgindo. É o caso do projeto “Oficinas do Eu” (dinamizado em alguns centros de dia da Santa Casa), onde a utilização da arte terapia em pessoas mais velhas tem permitido resultados muito positivos, nomeadamente ao nível da estabilização emocional.

No Centro de Dia e Residência Quinta das Flores, Carlos Manuel Peraltinha é o exemplo máximo de que a arte pode salvar. Susana Catarino recorda Carlos como “um senhor que aqui realizou um dos seus sonhos”. Trata-se de um utente que tinha o sonho de escrever um livro e conseguiu fazê-lo através do Centro Editorial da Santa Casa. O livro, que surgiu na altura da pandemia, é feito de poemas.

“Fiz algumas sessões de arte terapia com ele e, em conjunto, foram surgindo imagens que estão neste livro. Fui-me apercebendo, durante as consultas, que o facto de este senhor gostar muito de escrita, de ter um lado criativo apurado, ia permitir que ele se organizasse”, explica.

A escrita foi ganhando lugar. Carlos foi organizando as coisas de tal forma que chegou a dizer: “Doutora, gostava de colocar estes poemas em livro”. E assim foi. “Poesias: Primavera de Abril” é uma obra que demonstra que a criatividade e o dar espaço aos utentes para resgatarem as essências, mesmo numa altura de restrições impostas pela Covid-19, às vezes salva ou, pelo menos, potencia a saúde.

“Perante adversidades e barreiras existem coisas que podem salvar-nos. Temos aqui exemplos disso, de pessoas que encontraram na escrita, na música ou até na jardinagem sentidos existenciais”, frisa a psicóloga.

 

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