A entrega dos Prémios Santa Casa Neurociências decorreu esta quinta-feira, 17 de novembro, no Auditório Mariano Gago (Pavilhão do Conhecimento), em Lisboa. Os vencedores desta 10ª edição são responsáveis pelo desenvolvimento de projetos que permitem regenerar a medula espinhal em mamíferos e analisar com detalhe os dados neurofisiológicos de pacientes com doença de Parkinson implantados com a nova geração de neuroestimuladores.
No valor de 200 mil euros, o Prémio Melo e Castro – que se destina a apoiar estudos que potenciem a recuperação e o tratamento de lesões vertebro-medulares- foi entregue a Mónica Mendes de Sousa e à sua equipa de investigação do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, pelo projeto: “TARGET: Traduzir a capacidade regenerativa de Acomys”.
O grupo de Regeneração Nervosa do i3S descobriu recentemente que o ratinho espinhoso africano (Acomys) é capaz de regenerar e recuperar a função após uma lesão completa da medula espinhal, sendo uma exceção única nos mamíferos. O projeto TARGET pretende continuar a desvendar os mecanismos subjacentes à capacidade regenerativa da medula espinhal de Acomys, sendo que esta investigação poderá ser ponto de partida para o desenvolvimento de novas terapias para doentes com lesão medular.
“Já tínhamos recebido o prémio há três anos e neste espaço de tempo já conseguimos identificar os primeiros mecanismos que permitem que este mamífero possa regenerar e ganhar função após uma lesão completa da medula espinhal. Com este prémio vamos conseguir continuar o projeto”, refere Mónica Mendes de Sousa.
Já o estudo “Melhorando a Eficácia da Estimulação Cerebral Profunda em Doença de Parkinson, com Biomarcadores Eletrofisiológicos Personalizados e Estimulação Baseada em Avaliações Quantitativas Objetivas”, liderado por Paulo de Castro Aguiar, do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, foi galardoado com o Prémio Mantero Belard, também no montante de 200 mil euros, que financia a investigação científica ou clínica de doenças neurodegenerativas associadas ao envelhecimento, como Parkinson e Alzheimer.
O projeto vencedor, que conta igualmente com a colaboração de clínicos do Hospital de São João e investigadores do INESC-TEC, tira partido de uma nova geração de neuroestimuladores, para registar a atividade neuronal na zona do cérebro que está a ser estimulada. O objetivo é desenvolver algoritmos “inteligentes” que otimizem os parâmetros da estimulação elétrica de acordo com as características da atividade neuronal de cada paciente. Além do i3S, este projeto conta com a colaboração de clínicos do Hospital de São João e investigadores do INESC-TEC.
“Estes prémios são um catalisador para fazer com que a comunidade médica e a comunidade de investigação trabalhem em conjunto. Este projeto é o concretizar dessa vontade”, explica Paulo de Castro Aguiar.
Também na cerimónia foi entregue o Prémio João Lobo Antunes. Criada, em 2017, em homenagem ao neurocirurgião João Lobo Antunes, esta distinção destina-se a licenciados em medicina em regime de internato médico, com o objetivo de estimular a cultura científica e a investigação clínica na área das neurociências.
O vencedor deste ano foi o investigador David Berhanu, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e do Serviço de Imagiologia Neurológica do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, que recebe 40 mil euros para levar a cabo um projeto sobre a abordagem clínica dos doentes com patologias neurológicas e neurocirúrgicas. O estudo “Optic Nerve Anatomy and Imaging – A Surrogate for Intracranial Pressure” utiliza técnicas neuroimagiológicas não invasivas, para determinar a pressão intracraniana no paciente.
“Este é um projeto multidisciplinar. Só assim é possível, com esta colaboração entre todas estas pessoas, até porque estou numa fase ainda precoce do meu percurso profissional”, sublinha o galardoado.
Na sua intervenção, Edmundo Martinho, provedor da Santa Casa, salientou que os Prémios Santa Casa Neurociências são “um sinal de uma investigação científica rigorosa e com qualidade”, salientando que “é um orgulho para a Santa Casa poder estar associada a percursos de investigação e desenvolvimento que tanto têm contribuído para que possa existir mais qualidade de vida dos nossos doentes e para avanços científicos muito significativos”.
“A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem a consciência de que o melhor contributo que pode dar para a investigação científica e clínica é, por um lado, podermos ser parceiros e de nos associarmos aos esforços de investigação, e, por outro, conseguirmos incorporar no nosso trabalho diário todas as dimensões da investigação científica”, afirmou o provedor.
Os vencedores desta edição foram escolhidos por um júri presidido por José Manuel Castro Lopes (vice-reitor da Universidade do Porto), do qual também faziam parte Catarina Aguiar Branco (Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação), Catarina Resende de Oliveira (Universidade de Coimbra), Cristina Januário (Sociedade Portuguesa de Neurologia), Jorge Jacinto (Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão), George Perry (College of Science, da Universidade do Texas e nomeado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa), João Malva (Sociedade Portuguesa de Neurociências), José Ferro (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e nomeado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa) e Mamede de Carvalho (Universidade de Lisboa).
Na cerimónia decorreram, ainda, duas mesas redondas sob os temas “Investigação clínica e inovação Biomédica – uma componente chave na prestação de melhores cuidados de saúde” e “Como fazemos ciência em saúde”.
Reveja o vídeo da cerimónia, em baixo.