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“Experiência fantástica”: Uma aula na Escola de Natação para pessoas com cegueira

“Experiência fantástica”: Uma aula na Escola de Natação para pessoas com cegueira

Projeto-piloto nasceu de parceria entre a Santa Casa e a Federação Portuguesa de Natação e destina-se a utentes e colaboradores cegos ou com baixa visão.

Ação social

aula de natação

Catarina chega com antecedência ao Complexo de Piscinas do Jamor. A aula de natação para pessoas cegas/com baixa visão está agendada para as 14 horas, como acontece todos os sábados. Mas meia-hora antes já a colaboradora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa sobe as escadas até à entrada principal e não vem sozinha. Com ela traz o seu cão-guia, companheiro inseparável de Catarina e os seus olhos no mundo.

É apenas a segunda vez que participa neste projeto da Escola de Natação Santa Casa, nascido da parceria com a Federação Portuguesa de Natação, com o apoio dos Jogos Santa Casa. Mas a vontade de repetir a experiência da primeira aula supera os constrangimentos para chegar ao Jamor por meios próprios.

“Há potencial, só temos a debilidade de isto não estar perto, por exemplo, de uma estação de metro, mas temos de dar a volta. O projeto tem tudo para funcionar”, diz Catarina.

A boa memória faz-lhe adivinhar o caminho até aos balneários e em poucos minutos já caminhamos com ela e o seu companheiro de quatro patas à beira da piscina, onde encontramos os restantes praticantes, Luísa, Suelene e Paulinho, e as duas treinadoras, Ana Santos e Cátia Fonseca.

À exceção de Catarina, os restantes companheiros são (Luísa e Suelene) ou foram (Paulino) utentes do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, estabelecimento integrado na Santa Casa que tem como missão promover a reabilitação de pessoas com cegueira adquirida ou baixa visão, visando a sua autonomia e inclusão.

aula de natação

Um mundo diferente

Os quatro nadadores do dia entram na água, numa pista alargada a duas, mas dividida ao meio em termos de comprimento. Chegou a hora de estar atento às indicações das treinadoras, mas, em simultâneo, de descontrair num meio controlado, muito diferente do que o mundo lá fora representa para uma pessoa com cegueira.

“A água permite uma facilidade de descontrair. As pessoas cegas, por natureza, estão sempre alerta. Há uma tensão muscular. Por exemplo, hoje a Ana disse-me ao início que a piscina tinha a corda ao fundo. A partir daquele momento fica definido o espaço, a área de segurança”, refere Catarina, que na pista ficou encostada à corda do lado esquerdo.

“É importante termos as cordas para tocarmos, porque isso dá-nos uma segurança espacial. Há pouco fiquei contente, porque o rapaz do lado veio para o meu lado e eu disse-lhe: ‘Olha, não sou a única que sai fora de rota!”, acrescentou, entre risos.

Do lado oposto da pista está Paulino. Já não frequenta o Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, mas a ligação manteve-se e daí surgiu esta oportunidade. É a quarta vez que vem à piscina e o facto de ser o único homem entre tantas mulheres não o intimida.

“Já me sinto à vontade. Sou cabo-verdiano e lá andava sempre na praia, por isso é normal”, explica, bem-disposto.

No mesmo tom animado está Luísa, que partilha o lado direito da pista com Paulino: “A dificuldade maior para mim é o direcionamento, mas as professoras portam-se muito bem. Quem se pode portar mal é a aluna!”.

Balanço positivo

Os 45 minutos da aula esgotam-se rapidamente e o entusiasmo de Suelene, já fora da água, fala por si.

“Tem sido uma experiência gratificante. Já tinha tido contacto com a água, mas não tinha as técnicas. Vinha com medo quando cheguei, por não conhecer o espaço ou de chocar contra os colegas, porque a minha baixa visão não é recente, mas houve um agravamento e ainda estou a conhecer espaços. Mas agora já estou mais descontraída, as profissionais têm sido impecáveis”, relata ao lado de Ana e Cátia, cujos sorrisos não conseguem esconder.

“Um bem-haja à Santa Casa. Tem sido uma oportunidade fantástica, que de outro modo eu não poderia ter. Estou muito feliz pela experiência”, conclui Suelene.

Esse receio inicial também aconteceu com Catarina quando nadou pela primeira vez e a colaboradora da Santa Casa admite-o, até devido ao desafio de comunicar com tanto ruído à mistura.

“Quando qualquer pessoa, cega ou não, chega a um sítio novo, há o chamado receio inicial. No nosso caso, a capacidade auditiva neste meio fica sempre afetada, porque há muito barulho à volta e temos de ter a noção de distinguir de onde vem o comando. Mas há uma linguagem de toque, um toque para parar ou continuar. Quando há uma maior ligação, podemos reparar que além da voz começa a haver um código de toque”, frisa Catarina.

As treinadoras Ana e Cátia também são relativamente novas nesta função. Isto porque apesar de terem anos de experiência na natação, nunca tinham trabalhado com pessoas cegas/com baixa visão.

“Ao início foi um desafio um bocadinho assustador, mas está a correr muitíssimo bem e é gratificante”, afirma Ana, dizendo ainda que os alunos “têm-se portado lindamente, tem havido uma grande progressão e já conseguem fazer praticamente tudo”.

Por seu lado, Cátia sublinha que este “é um processo de aprendizagem também para as professoras”, que vão “criando estratégias” para responder aos desafios de cada aula.

aula de natação

Um projeto para crescer

Esta vertente da Escola de Natação Santa Casa nasceu da intenção de aproveitar ao máximo os patrocínios existentes, tornando-os úteis, e retirar deles uma lógica de responsabilidade social. Estabelecido o projeto da Escola de Natação Santa Casa em 2019, nasceu este ano o projeto-piloto para pessoas cegas/com baixa visão e o objetivo passa por divulgá-lo, incentivar à sua replicação por parte de outras entidades e, quiçá, expandi-lo num futuro próximo.

Maria da Cunha, subdiretora da Direção de Comunicação e Marcas da Santa Casa, aborda a importância deste tipo de iniciativas.

“Queremos, com estes projetos de promoção do desporto adaptado, demonstrar que o desporto deve ser entendido como uma importante ferramenta na inclusão e integração social da população com necessidades especiais. O objetivo para o qual continuamos a contribuir é que as pessoas com deficiência possam ter uma vida ativa ou mais normal possível. Todos sabemos que a prática de desporto pela população melhora a saúde, aumenta o grau de autonomia, reforça a autoestima e aumenta a capacidade de relacionamento com os outros. É com este espírito e visão que desafiámos, este ano, a Federação de Natação, a alargar o projeto das Aulas de Adaptação ao Meio Aquático, da Escola de Natação Santa Casa, iniciado em 2019, a um novo público-alvo, desta feita, utentes e colaboradores cegos e com baixa visão”, começa por dizer.

A responsável da Santa Casa lembra que este projeto “contempla, para já, 8 vagas e o objetivo passa por divulgá-lo, incentivar à sua replicação por parte de outras entidades e, desta forma, ajudar a Federação Portuguesa de Natação a promover o desporto adaptado”.

“O projeto está a ser um sucesso em termos de adesão, temos já um universo total de 30 utentes de equipamentos e colaboradores a frequentar as aulas de natação e cinco utentes e colaboradores a participar nas aulas de natação adaptada. O feedback que temos, por parte dos utentes, é fantástico. Estamos muito satisfeitos e orgulhosos com a concretização desta nova vertente para a natação para cegos e pessoas com baixa visão. É, de facto, um projeto diferenciador”, resume Maria da Cunha.

Por seu lado, Isabel Pargana, diretora do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, elogia o projeto em duas perspetivas.

“Primeiro a vivência do real, do contexto natural. Faz todo o sentido que tenham esta perspetiva de que há vida para além da cegueira. Não têm de ficar agarrados à sua condição, podem continuar a ter atividades sociais lúdicas, recreativas… Outra perspetiva, que é ótima: a possibilidade de porem em prática um conjunto de competências que ali desenvolvem e transferi-las para o mundo real”, sublinha.

Já Pedro Brandão, responsável da Federação Portuguesa de Natação e coordenador do projeto, explica que a ideia tem vindo a evoluir e pode ser replicada.

“Estamos numa fase de aprendizagem. Por isso, de momento estamos a trabalhar só com adultos. A ideia é em breve capacitar os professores para poderem trabalhar com idades a partir dos cinco ou seis anos. Desta forma, logo que consolidado o projeto no núcleo do Jamor, estaremos em condições, juntamente com os Jogos Santa Casa, de replicar o modelo para outras piscinas, alargando e diversificando a base de trabalho, e aproximando-nos mais dos centros de ensino das crianças e das respetivas zonas de habitação”, termina.

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