Chegar ao Centro Editorial da Santa Casa significa entrar no interior do Convento de São Pedro de Alcântara, subir escadinhas estreitas e percorrer longos e frios corredores, os mesmos onde há muitos séculos cirandavam os religiosos da Ordem de São Francisco. Atualmente, é no primeiro piso que está sedeado o serviço que produz anualmente cerca de 14 obras sobre temas tão diversos como a Rainha D. Leonor, património, jogo, ação social, sem esquecer as demais áreas de atuação da instituição.
“Mais do que um produtor de livros, o Centro Editorial deve ser reconhecido como um agente facilitador para divulgar conhecimento da Santa Casa”, começa por explicar Samuel Esteves, diretor do Centro Editorial desde 2012, quando foi convidado a substituir a “criadora” do serviço, Rita Valadas.
Nestes 13 anos que passaram, muito mudou. O livro transformou-se, com o digital a conquistar espaço ao papel, e o Centro Editorial da Misericórdia de Lisboa foi ”forçado” a acompanhar as mudanças e a adaptar-se aos novos tempos: as obras expostas nos escaparates ainda existem, coexistindo agora com os inevitáveis livros digitais, que enchem a loja online da Santa Casa e aos quais se pode aceder através de um simples clique.
Entretanto, também a reduzida equipa de escritores foi alargada – hoje são 10 -, fazendo parte do grupo dois ex-jornalistas, um historiador, um especialista em História de Arte, entre outros. Um grupo de peso, justificável pela “importância da oferta” literária da Santa Casa que, segundo Samuel Esteves, “é notável”.

Samuel Esteves (à direita) juntamente com alguns dos escritores do Centro Editorial
A oferta é diversificada, destinando-se a um público-alvo também diversificado e, acima de tudo, muito específico: estudantes, leitores de cariz religioso que procuram informação sobre arte sacra ou sobre a dimensão religiosa da instituição, sem esquecer o saber acumulado ao longo de séculos de atuação na Ação Social. E se dúvidas persistissem quando à procura destas obras, as mesmas dissipar-se-iam na Feira do Livro anual, com o espaço da Santa Casa a ser procurado por muitos e muitos visitantes.
Mas não só de vendas (na Casa Ásia, na Loja do Museu ou na Loja Online) “vive” o Centro Editorial . Além dos clientes à consignação, como livrarias ou editoras, cerca de 1.500 cadernos públicos foram já oferecidos a todas as misericórdias e bibliotecas municipais do país, sendo também enviados para universidades ou outras instituições. Percebe-se, uma vez mais, a razão pela qual os livros são os “veículos” da Misericórdia de Lisboa: afinal, são eles que “transportam conhecimento sobre a instituição”, como refere Samuel Esteves.
PRODUÇÃO NO PERÍODO 2012-2024
Edições Publicadas: 182
Média anual de edições produzidas: 14
N.º de edições digitais online: 154
N.º de downloads: 2.882
Ofertas institucionais: 97.974
Livros, livros e mais livros
Coleção Reliquiarum, Coleção Património, Cadernos Técnicos, Sebentas, Catálogos de exposições e roteiros, Coleção Beneméritos, Cadernos Solidários… Estes são alguns exemplos da produção do Centro Editorial da Santa Casa, produção essa que aumenta de ano para ano. Deste serviço saem muitas mais obras, algumas delas com reconhecido sucesso, como é o caso do “Caderno de Exercícios de Estimulação Cognitiva”, um livro que foi lançado durante a pandemia de COVID-19 e que é considerado por Samuel Esteves como um “verdadeiro sucesso de vendas”, sempre “muito procurado” na Feira do Livro.
O livro – resultado de uma ideia do Espaço Santa Casa – destina-se aos idosos e pode ser encontrado na FNAC ou na Porto Editora, sendo constituído por exercícios criados pelos técnicos da Unidade de Animação Sócio Educativa (UASE) para estimular o desenvolvimento cognitivo.
Em contagem decrescente está o lançamento de uma outra obra, o segundo volume de “É a Revolução, Pá”, já no próximo dia 28. Ou, mais para a frente, o livro “Princesa Leonor, Rainha de Portugal e Fundadora da SCML”, em português, braille e em versão audiolivro para o público infanto-juvenil, ou ainda “História da SCML no feminino”, entre muitas outras que estão em preparação.
“A faturação da Feira do Livro representa, em média, cerca de 21% da faturação global”
Samuel Esteves

Segundo volume de uma trilogia, o qual será lançado no dia 28
Perfil
Com 20 anos de “casa”, Samuel Filipe Henriques Esteves estreou-se na Misericórdia de Lisboa como subdiretor da Ação Social, em dezembro de 2005. Formado em Sociologia, o “salto” para o Centro Editorial ocorre em 2012, onde se mantém desde então, orgulhando-se das 182 obras publicadas sob a sua supervisão, as quais permitem que o conhecimento perdure no tempo. Afinal, como faz questão de referir, “o que não se escreve, o que não fica protegido de forma organizada e escrita, irá desaparecer”, razão pela qual considera que o que ficar para a posteridade constitui “uma questão de responsabilidade social”.
Não se julgue, porém, que uma década à frente do Centro Editorial é sinónimo de trabalho concluído. Na lista de trabalho por realizar está a app Cultura Santa Casa, um projeto que está atualmente em fase de “avaliação tecnológica”.
“Muitos descarregamentos dos nossos livros nem sequer ocorrem em Portugal. Para mim, é um motivo de muito orgulho quando sei que uma assistente social de Luanda descarregou um livro técnico da Misericórdia”
Samuel Esteves

Samuel Esteves
Dia Mundial do Livro
Assinala-se no dia 23 o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, uma efeméride instituída em 1995, na 28ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, com o propósito de encorajar a leitura, promover a proteção dos direitos de autor e destacar a importância dos livros enquanto elemento basilar da educação e do progresso de uma sociedade.
Este ano, o Rio de Janeiro (Brasil) é a Capital Mundial do Livro, sendo a primeira cidade de língua portuguesa a receber este título – que é concedido pela UNESCO -, sucedendo a Estrasburgo.
As cidades designadas como Capital Mundial do Livro da UNESCO comprometem-se a promover o livro e a leitura junto de todas as idades e grupos, dentro e fora das fronteiras nacionais, assim como a organizar um programa de atividades para o ano.