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Residência Faria Mantero

Residência Faria Mantero

O equipamento residencial, legado à Misericórdia de Lisboa por Enrique Mantero Belard para acolher artistas, distingue-se pela forma personalizada como recebe e trata os seus utentes.

Lugares com história

Busto Enrique Mantero Belard

É no n.º 3 de um pequeno largo no Restelo que habita um edifício da década de 1940, projetado pelo arquiteto Vasco Regaleira, exemplo do revivalismo que caraterizou a arquitetura da época.

Em tempos, foi pertença de Enrique Mantero Belard, um bem-sucedido empresário do século XX, gestor de uma avultada fortuna, construída a pulso nas roças de cacau de São Tomé e Príncipe pelos seus antepassados, e de sua mulher, D. Gertrudes Verdades de Faria.

Mas o edifício tornou-se muito mais do que uma mera referência arquitectónica. Pela sua afinidade com as artes e atenta aos mais desfavorecidos, D. Gertrudes tinha um desejo: que, após a sua morte, ali passasse a funcionar uma ‘casa’, um verdadeiro ‘lar’ para cidadãos que se distinguissem pelo mérito cultural. Enrique Mantero de Belard concretizou o sonho da mulher: “Fortuna, método, generosidade, apreço pelas artes e cultura ou altruísmo foram ingredientes pessoais que o casal teve a sabedoria de conseguir combinar nas doses certas para fazer nascer uma obra humanitária singular a nível nacional. Obra em muito sonhada por ela. Mas no todo executada por ele”. (1)

E assim nasceu, em 1986, a Residência Faria de Mantero, doada, inicialmente, à Fundação Calouste Gulbenkian, que a transmitiu, posteriormente, à Misericórdia de Lisboa, para acolher “pessoas idosas, cultas de mérito e necessitadas”. (2) Por ali já passaram, nos seus últimos anos de vida, figuras como a pintora e ilustradora Maria Keil, a fadista Teresa Tarouca, a escritora Olga Gonçalves, o poeta e ensaísta António Ramos Rosa ou o pintor Barata Moura.

“Esta é uma casa feita de forma personalizada para quem aqui passa. É o que a torna tão especial”, explica Neli Monteiro, diretora da Residência. “Temos poucos utentes, todos ligados à cultura, à escrita e às artes, sendo que alguns deles mantêm as atividades profissionais. É uma ERPI (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas) de portas totalmente abertas. As pessoas têm liberdade para sair, para ir ver espetáculos, dar aulas, fazerem os seus passeios”.

A casa principal tem capacidade para cinco utentes, dispõe de um salão com capacidade para acolher eventos diversos (o último foi uma ópera), uma sala de jogo e outra de leitura, sendo que o sítio mais requisitado e visitado é a varanda sobre o jardim.

Residência Faria Mantero

É aí que Teresa Abecassis, pintora, passa a maior parte do seu tempo desde que chegou à residência há oito anos, depois de ter sofrido, em 2004, dois aneurismas que lhe roubaram a memória de curto prazo. Apesar disso, não esqueceu a técnica de pintar, algo que continua a fazer e que mostra, com orgulho: tem mais de 15 aguarelas no seu quarto, que quer expor em breve.

Além da casa principal, a estrutura residencial da Misericórdia de Lisboa ganhou, em 2022, três apartamentos de tipologia T0+1 (que se somam aos dois que já existiam), dotados com zona de estar/dormir, kitchenette (equipada com eletrodomésticos), televisão, telefone, internet e ar-condicionado, conferindo mais autonomia e conforto aos utentes.

“Os apartamentos estão dotados de condições para uma maior autonomia de quem neles habita. Foram pensados para mobilidade condicionada, têm pequenos eletrodomésticos para quem quiser cozinhar para si ou para quando recebem visitas. Tudo funciona em função da casa – refeições e tratamento de roupa, por exemplo –, mas as pessoas adaptam-se às suas necessidades. Até têm animais de estimação”, descreve Neli Monteiro.

É num desses apartamentos que encontramos a D. Helena. Recém-chegada – “estreei a minha casa no dia da coroação do rei Carlos III de Inglaterra”, diz-nos entre risos, como que se a sua chegada fosse, também ela, digna de coroação –, faz questão de nos mostrar duas pinturas, inéditas, feitas “só para mim”. Para cada uma delas, tem uma história: “o Carlos Pereira [autor das obras] só faz trabalhos a preto e branco e eu devo ser a única pessoa que tem coisas dele a cores. Um dia, viu-me a desfazer um casaco de cabedal (porque eu adoro fazer coisas com cabedal). Pediu-me um bocado e fez-me aquele desenho, que tem mais de 50 anos. Já me tinha feito também uma mosca verde no mesmo cabedal, mas esse já não está comigo. Ofereci ao Júlio Cortázar [escritor argentino], em Paris, por ele ter escrito um conto chamado A Mosca Verde”.

Da história benemérita de Enrique Mantero Belard fazem parte também os Prémios Nunes Correa Verdades de Faria instituídos, por vontade expressa no seu testamento, com o objetivo de destacar “os indivíduos que, em Portugal, mais tenham contribuído pelo seu esforço, trabalho ou estudos, para o cuidado e carinho dos idosos desprotegidos, para o progresso da medicina na sua aplicação às pessoas idosas e o progresso no tratamento das doenças do coração.” (3)

D. Helena lê, neste ato, uma “profunda declaração de amor” de Enrique Mantero pela sua mulher: “ela morreu com problemas do coração. E ele, para a homenagear, deixou escrito que os prémios deveriam ter o nome dela. Ironia do amor, ele também morreu pelo coração que lhe falhou”.

Mais do que um lugar com história, a Residência Faria Mantero acolhe uma infinidade de histórias, vividas, sentidas e transmitidas por quem lá passa. Talvez fosse, também este, o propósito de Enrique Mantero e Gertrudes Verdades de Faria.

* (as referências 1, 2 e 3 foram retiradas do livro da Coleção Beneméritos, da SCML, dedicado a Enrique Faria Mantero).

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