Quase cinquenta pessoas encontram aqui, todos os dias, uma “janela de oportunidades”: formação, ocupação e, sobretudo, dignidade. O CASSB é um espaço onde a inclusão se faz com paciência e talento, e onde cada utente descobre que ainda tem muito para dar. Para os guiar e ajudar, contam com uma equipa de formadores. Não. De monitores. Ou será que são técnicos? Não interessa o nome ou o cargo. Acima de tudo, uma equipa que motiva, diariamente, os utentes que ali procuram e encontram um propósito.
O primeiro andar: a cozinha que alimenta mais do que o corpo e o ateliê de costura e da pasta de papel
No primeiro andar do Centro, temos a cozinha, liderada pela chef Lucinda, e na qual seis utentes preparam perto de cem refeições diárias. O cheiro dos tachos enche o espaço, mas o que realmente se sente é o orgulho. Como o do Sr. Coelho que faz este trabalho há 28 anos, ali.
As refeições servem quem trabalha no Centro, chegam a utentes diferenciados que ali vão comer e, muitas vezes, seguem para casa, como jantares que levam consigo. Há também pratos vendidos, porque aqui o trabalho tem valor e gera autonomia. Cada refeição é, ao mesmo tempo, sustento e símbolo de inclusão.
Saímos da cozinha e, também no primeiro andar, encontramos arte. Uma arte que devolve confiança numa sala onde o papel de jornal ganha nova vida. Cortado em tiras finas, transformado em pasta e moldado com calma, torna-se pedra maleável nas mãos dos utentes. Francisco, monitor do CASSB, responsável pelo trabalho da pasta de papel, explica: “Cada caso é um caso. Para alguns, o foco é artístico; para outros, é sensorial. O simples ato de moldar traz tranquilidade.” Ao lado, Catarina David, monitora que nos acompanha nesta visita, acrescenta: “Vamos sempre reencontrando um novo dom nos nossos artesãos. É um ajuste constante.”
Aqui, nada se desperdiça. O que não serve transforma-se em arte. Turistas que visitam a loja do CASSB levam consigo peças únicas, carregadas de simbolismo e emoção. Nenhuma é igual à outra, porque cada uma guarda a marca de quem a criou.
Catarina descreve-nos alguns dos rostos e das mãos que contam histórias: “A Jéssica dedica-se ao detalhe, cria peças muito delicadas, quase frágeis, mas cheias de força interior. Já o Ilídio, apesar de algumas limitações de motricidade, encontrou na pasta de papel a possibilidade de criar em grande escala.”
Por outro lado, o Ilídio conta-nos a sua história em discurso direto: “Fui criado com a mãe da minha mãe nos Açores até aos 18 anos. E antigamente, como não havia luz elétrica, a família toda reunia-se à volta da lareira, com a luz de candeeiro a petróleo. Então, tive o prazer de fazer estes trabalhos à mão com a minha avó e a minha mãe, foram elas que me ensinaram estas coisas Todos estes pontos são feitos à mão”, remata com orgulho.
Catarina David acrescenta: “O Ilídio borda todos estes pontinhos, a que chamámos ‘pontinhos de afeto, memórias dos Açores’.”
Por sua vez, a Ana teve de procurar uma imagem que lhe falasse ao coração, e escolheu representar a Virgem com o Menino em rolinhos de papel.
O resultado é que cada peça moldada é mais do que um objeto: é memória, identidade e autoestima transformadas em arte.
O rés-do-chão da carpintaria e da loja
No rés-do-chão, o som da madeira a ser trabalhada mistura-se com conversas e risos. Paulo, monitor, orienta os utentes na carpintaria, pintura e trabalhos manuais. Aqui, a maioria são homens. Alguns trazem consigo experiências de vida que se refletem no trabalho. Como o Miguel Vivas, antigo serralheiro civil, que reencontrou na madeira uma forma de expressão. Se um utente não se sente à vontade num ateliê, pode mudar. Porque o CASSB acredita que cada pessoa merece encontrar o espaço onde se sente segura e confiante.
Olhar para o futuro
Entre colagens, costuras e pratos servidos, há também projetos que se preparam para sair à rua. O presépio do CASSB vai marcar presença nas exposições do Espaço Santa Casa, da Santa Casa, e os produtos artesanais estarão à venda no Wonderland Lisboa e na Feira de Natal do Largo [Trindade Coelho, onde se situa o edifício central da Misericórdia de Lisboa]. Cada peça vendida é mais do que um objeto adquirido: é o reconhecimento do talento dos utentes e a sustentabilidade de um projeto que une inclusão e criatividade.
Por isso, nesta quadra festiva, apoiar o CASSB é também oferecer presentes com significado. As peças de artesanato disponíveis na loja e nas feiras natalícias são únicas, feitas à mão e carregadas de histórias de superação. Ao comprar uma destas criações, cada pessoa leva para casa não apenas um objeto, mas um pedaço de esperança e autoestima dos artesãos que o produziram. É um gesto solidário que transforma vidas e dá ainda mais brilho ao Natal.
Centro de Apoio Social de São Bento (CASSB)
Morada: Rua de São Bento, 140 à Travessa da Arrochela | 1200-820 Lisboa
Contacto: 213 913 060 *custo de chamada local