Espreitamos pela janela de uma das Unidades Habitacionais de Autonomização do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão. É hora de almoço e à mesa está um grupo muito especial. Seis crianças de diferentes idades participam no programa Casa na Árvore e cada uma dá o seu contributo para o próprio almoço. Mas já lá vamos. Primeiro, apresentemos este programa, desenhado para crianças dos 6 aos 15 anos com paralisia cerebral ou outros distúrbios motores.
“Este programa intensivo é baseado no método de reabilitação HABIT-ILE (Hand-Arm Bimanual Intensive Training Including Lower Extremities), desenvolvido no Canadá, que preconiza o treino de atividades bimanuais, portanto a utilização dos membros superiores com integração dos membros inferiores”, explica a fisioterapeuta Sónia Bastos.
Com objetivos realistas e centrados na criança e na família, com quem foi feita uma entrevista prévia, o programa Casa na Árvore foi projetado para melhorar o equilíbrio, a coordenação motora, a autonomia e a interação social das crianças, que são acompanhadas ao longo de 10 dias úteis – a duração do programa – por uma equipa multidisciplinar, constituída por fisioterapeuta, terapeuta da fala, terapeuta ocupacional, enfermeiro especializado em saúde infantil e educador.
A nossa câmara desperta curiosidade nos mais pequenos, mas rapidamente desviam a sua atenção porque há trabalho a fazer e todos ajudam a servir a deliciosa gelatina para a sobremesa. Afinal, mesmo de forma divertida, este é um dos exercícios integrados na terapia de grupo.
“Todos os dias as crianças ajudam-nos na confeção e preparação do almoço, por exemplo a descascar os alimentos. É-lhes permitido perceberem que, com pequenas alterações, eles conseguem participar no dia a dia das rotinas da família. E ficam muito satisfeitos”, relata Sónia Bastos.
A fisioterapeuta acrescenta que a lavagem da loiça, por exemplo, “é um bocadinho do que o método preconiza”.
“Ao lavar a loiça utilizam ambas a mãos e fazem-no de pé. Trabalham todas as outras componentes, como o equilíbrio ou a transferência de peso, mas de forma lúdica e prazerosa, que não têm quando fazem as diferentes terapias em gabinete ou em ginásio”, assegura.
Além da óbvia mais-valia do trabalho em conjunto entre crianças da mesma faixa etária, no programa Casa na Árvore também há espaço para trabalhar objetivos individuais.
“Um dos objetivos da Luana era conseguir subir ao autocarro, porque é uma criança que anda de transportes públicos, e esse treino foi feito. Com outras crianças trabalhámos, por exemplo, o vestir e despir, o calçar e descalçar”, enumera a fisioterapeuta, destacando também o croché que Laidicha queria aprender e o uso da régua, esquadro e compasso que o Pietro desejava melhorar.
Segue-se a preparação da atividade do dia seguinte, que envolve simular uma ida às compras tendo em vista a preparação do almoço. Todos, crianças e equipa, se entregam às tarefas com toda a dedicação. Porque há pequenas vitórias do dia a dia que vale a pena celebrar.
Para saber mais sobre o programa Casa na Árvore contacte: ugd-cmra@scml.pt ou ligue para o número 214 608 300.