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Reabertura dos centros de dia: “Estava deserta para vir para cá”

Reabertura dos centros de dia: “Estava deserta para vir para cá”

Aurélia, Arminda e Cezar, utentes do Centro de Dia do Centro Comunitário do Bairro da Flamenga, em Marvila, contam, entre sorrisos, como está a ser o regresso àquela que apelidam de sua segunda casa.

Ação social

A pandemia chegou e com ela trouxe o confinamento, o distanciamento físico, a crise económica e a incerteza no futuro. A população idosa foi das que mais sofreu com a separação física e o isolamento. Mais dependentes, com problemas de saúde e/ou mobilidade, muitos ficaram limitados à sua própria casa. Os planos foram adiados, mas os sonhos não. Conheça os três utentes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que todos os dias ansiavam em voltar ao seu centro de dia… para partilhar a vida!

Riqueza é ter com quem contar. É partilhar a vida!

Aurélia Ricardo, de 94 anos, foi uma mulher dos sete ofícios: serviu, limpou, trabalhou em casa de famílias e foi cozinheira. Quando era jovem, veio para Lisboa à procura de uma vida melhor, como era frequente na altura. Conquistou a vida a pulso e com um sorriso no rosto. Teve um casamento “feliz” com cerca de 50 anos. “Fui muito feliz. Vivíamos um para o outro. O amor era só para nós”.

Apesar de contar mais de nove décadas, a utente do Centro de Dia do Centro Comunitário do Bairro da Flamenga mantém um espírito jovem e uma atitude positiva invejável. Frequenta o Centro de Dia da Santa Casa há quatro anos. “Sentia-me só. O meu marido tinha morrido há pouco tempo. As pessoas falavam-me bem do centro e resolvi experimentar. Fez-me bem vir para cá. O convívio é bom, faz-nos bem. É uma terapia”, salienta.

Idosa a falar com outra idosa

A nonagenária expressa-se com facilidade, não escondendo o que sente. “O amor é cada vez mais raro. As amizades já não são o que eram. Por essa razão, respeito tanto aquilo que o centro de dia me proporciona”, observa.

Os centros de dia fecharam durante o confinamento, algo que deixou os idosos sem o seu habitual espaço de convívio, atividades e partilha. “Foi difícil estar sozinha, deixei de ter as minhas amigas, mas habituei-me, que remédio!”.

“As saudades eram mais do que muitas”. Foram muitos dias sem o convívio, as colegas e as atividades do equipamento da Santa Casa. Mas um dia, as portas de centro voltaram a abrir. “Estava deserta para vir para cá. É a minha segunda casa, sinto-me feliz aqui”, desabafa, entre sorrisos.

Arminda Pereira, 83 anos, também encontrou no centro de dia uma segunda casa, amigos e uma razão para continuar. “Precisava de apoio, não tinha ninguém para me ajudar. Os meus filhos estão no estrangeiro”, explica.

Deixou Angola após o 25 de Abril com o marido, dois filhos e a roupa no corpo. Nunca deixou de batalhar, mas a morte do marido e o facto de estar numa cadeira de rodas foram um duro golpe. Este espaço é quase tudo para Arminda. É onde passa o tempo, convive, joga, faz atividades e passeios. É o seu mundo!

Idosaa no centro de dia

Arminda não recebeu bem a notícia do encerramento dos centros de dia. “Foi tão mau. Eu chorei tanto. O confinamento foi horrível. Eu deixei de ter vida. Já viu o que é um idoso – sem poder andar -, estar fechado em casa?”, questiona. “A minha sorte foi o centro enviar uma funcionária todas as semanas para eu fazer um passeio higiénico”, recorda. “Recebi a notícia da reabertura com muita alegria. Este lugar é um céu aberto, uma segunda família”, confessa.

Após alguns problemas de saúde, Cezar Freire, 62 anos, começou a frequentar o Centro de Dia do Centro Comunitário do Bairro da Flamenga para estar mais ocupado. Tomava conta do café que está nas instalações do equipamento da Misericórdia de Lisboa. Sentia-se valorizado, promovia a sua autoestima e participava em várias atividades. “O café era a minha forma de estar ocupado, ajudava as funcionárias e sentia-me bem”, recorda.

idoso a fazer trabalhos manuais

Embora seja o mais novo, o ex-empregado de comércio é dos utentes mais antigos do equipamento da Santa Casa, e também não tem boas recordações do confinamento. “No princípio custou-me muito. Fiquei isolado”, revela. Como a maioria destes utentes vivem sozinhos, a vida deixou de ser partilhada e instalou-se a tristeza. “O que vou eu fazer um dia inteiro em casa?”, perguntava, sem ter a resposta.

Já em abril, os centros de dia da Misericórdia de Lisboa retomaram as atividades de apoio social, ainda que com limitações. Algo que deixou o lisboeta feliz. “Eu precisava de voltar a ver estas caras, mesmo com máscaras”, disse, sorridente.

Esmeralda Maria Correia Saragoça, 55 anos, diretora do Centro Social Comunitário do Bairro da Flamenga, sublinha que o confinamento teve um “impacto fortíssimo” na vida dos idosos e das instituições. “Foi complicado para nós”, admite, mas a resposta da Santa Casa ganhou nova dinâmica, valorizou-se e soube adaptar-se aos novos tempos.

Diretora C.C. Bairro da Flamenga

“Estes espaços são importantes, porque são locais de socialização e de relação, e isso é significativo para as pessoas. A relação é aquilo que dá sentido à vida. O encerramento forçou-nos a uma reorganização, fomos criativos, não deixámos de estar próximos e procurámos assegurar acompanhamento e apoio a todos os utentes”, explica.

Num tempo marcado por mudanças, Esmeralda sublinha que os utentes passaram “a valorizar e olhar o Centro de Dia de outra forma. Muito mais do que garantir as necessidades básicas do seu dia a dia, reconheceram uma «casa» que acolhe e se preocupa com todos os que «abriga»”, salienta.

Uma comunidade, uma casa

O Centro Comunitário do Bairro da Flamenga da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa é uma estrutura comunitária onde são desenvolvidos serviços e atividades que visam a prevenção de problemáticas sociais e a promoção de um projeto de desenvolvimento local.

O equipamento conta com as respostas sociais de Creche e Animação Socioeducativa (ASE). No apoio a idosos integra a resposta de Centro de dia /Espaço InterAge. Na área da Família e Comunidade, responde ao serviço de Apoio Comunitário a Indivíduos e Famílias em situação de Exclusão Social e Espaço de Inclusão Digital.

Diversas especialidades médicas e cirúrgicas

Programas de saúde e cuidados de saúde ao domicílio

Unidades da rede nacional

Prestação de apoio psicológico e psicoterapêutico

Aluguer de frações habitacionais, não habitacionais e para jovens

Bens entregues à instituição direcionados para as boas causas

Programação e atividades Cultura Santa Casa

Incubação, mentoria e open calls

Anúncios de emprego da Santa Casa

Empregabilidade ao serviço das pessoas com deficiência

Jogos sociais do Estado e bolsas de educação

Ensino superior e formação profissional

Projetos de empreendedorismo e inovação social

Recuperação de património social e histórico das Misericórdias

Investimento na investigação nas áreas das biociências

Prémios nas áreas da ação social e saúde

Voluntariado nas áreas da ação social, saúde e cultura

Ambiente, bem-estar interno e comunidade

Ofertas de emprego

Contactos gerais e moradas