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“Ser enfermeiro é uma filosofia de vida”

“Ser enfermeiro é uma filosofia de vida”

Ana Franco e David Sabroso são apenas dois dos muitos enfermeiros da Santa Casa que, diariamente, acompanham os milhares de utentes da instituição. No dia em que se assinala a sua profissão, estes cuidadores falam-nos das dificuldades, mas sobretudo do orgulho que vivem por serem o que são.

Saúde

David Sabroso e Ana Franco

David Sabroso soube aos 5 anos de idade que queria ser enfermeiro ‘quando fosse grande’. “Não, não é um cliché. Quando tinha essa idade, passei por um problema de saúde grave e o hospital foi a minha segunda casa durante algum tempo. Comigo estiveram sempre os enfermeiros de serviço, algo que me marcou muito. Desde então que, para o meu futuro profissional, não me imaginei a fazer outra coisa”.

Já Ana Franco revela que só aos 24 anos é que tomou a decisão de tirar o curso de Enfermagem. “A minha mãe é enfermeira, mas eu nunca pensei enveredar por esse caminho. Andei muito pelas Artes (fiz o curso de dança no Conservatório), na Economia e Gestão, mas nunca ser enfermeira. Hoje, olho para trás e não me imagino a fazer mais nada”.

Ambos os profissionais estão na Santa Casa há mais de uma década – David conta com 12 anos e Ana vai já nos 19. “Nos primeiros quatro anos do meu percurso profissional, passei pelo serviço de Pneumologia no hospital Pulido Valente e pelos cuidados intensivos do hospital da Cruz Vermelha e de Santa Maria. Cheguei à Santa Casa em 2004 e integrei o Polo de Apoio Domiciliário, passando, mais tarde, para o projeto ADI – Apoio Domiciliário Integrado. Paralelamente, prestei apoio em lares de idosos, área pela qual me apaixonei e na qual fui ficando”, conta a enfermeira.

David, por seu turno, começou nos lares de idosos, no âmbito de um protocolo firmado, na altura, entre as Instituições Particulares de Solidariedade Social e a Misericórdia de Lisboa. Passou por outras unidades ao longo dos anos até chegar, em junho de 2020 (início da pandemia da covid-19), ao Polo de Cuidados de Saúde no Domicílio Oriental, onde se mantém.

O público sénior é, para Ana e David, aquele que mais gostam de cuidar. “É na geriatria que me sinto particularmente bem”, confessa Ana. “É uma população de que gosto muito e que deveria ser mais valorizada. São pessoas que têm outro tipo de exigências, porque vão ficando mais debilitadas, com morbilidades que vão aparecendo. Aliás, a grande maioria delas entra nos nossos lares sempre por motivos de saúde”.

E explica: “Felizmente, as pessoas vão ficando mais tempo em casa [antes de precisarem de recorrer às ERPI – Estruturas Residenciais Para Idosos], o que é um ótimo sinal, pois significa que têm condições – tanto do ponto de vista social como do da saúde – para continuarem nas suas residências. E, aqui, a Santa Casa desempenha um papel de crucial importância, uma vez que consegue providenciar apoio em várias vertentes para que tal aconteça. O combate à solidão, por exemplo, é feito com a ajuda de voluntários da instituição”.

Ana Franco insiste na desvalorização de que a população idosa é vítima: “Esquecemo-nos facilmente que estas pessoas já foram chefes de família, já dirigiram uma empresa, educaram os seus filhos… foram muito importantes para a sociedade e contribuíram muito durante as suas vidas. Agora, parece que são olhadas apenas como alguém a quem tem de se mudar a fralda ou empurrar a cadeira de rodas… E elas são muito mais que isso. Têm histórias riquíssimas para nos contar… Reitero: gosto dos mais velhos pelos contributos que nos dão e pelos contributos que nos deixam”.

David assina por baixo das palavras da colega. Para ele, este sentimento pelos mais velhos “é transversal a quase todos os enfermeiros. A experiência que têm na sua bagagem, que depois nos transmitem, enriquece-nos e motiva-nos para fazermos o nosso trabalho. Para mim, é muito gratificante trabalhar com estas pessoas, pois tento pôr-me um bocadinho no lugar delas. É algo, aliás, por que pauto o meu trabalho todos os dias: imaginar como é que gostaria de ser tratado daqui a uns anos”.

Ana Franco

Ana Franco

“Ser enfermeiro é uma forma de estar na vida”

Nos muitos anos de profissão que já levam, Ana e David viveram algumas ocasiões difíceis e o início da pandemia da covid-19 foi uma delas. Estiveram sempre a trabalhar, em contacto diário com pessoas infetadas, o que os fez recear por si e pelos seus em alguns momentos.

Mas as dificuldades sentem-se das mais variadas formas no dia-a-dia. A maior delas prende-se com o lado emocional que tem de ser gerido, apesar de “fazer parte do ofício”, como diz a enfermeira Ana. “Os nossos utentes são a nossa segunda família, estamos com eles todos os dias, lidamos com eles todos os dias, com os seus problemas, com a sua vida, com a sua família. E, apesar de ali estarmos enquanto profissionais, somos todos humanos e criamos laços com as pessoas. Sabemos que estão já numa fase final da sua vida mas, ainda assim, quando partem, é sempre doloroso e acaba por nos afetar”.

David concorda: “Alturas houve em que senti que muitos cidadãos não valorizavam o nosso trabalho, apenas quando necessitavam de nós. Mas, hoje – e a pandemia muito contribuiu para isso –, as circunstâncias são diferentes, parece que houve um ponto de viragem. Há um reconhecimento muito grande pelo nosso trabalho e pelo papel importantíssimo que desempenhamos na sociedade. Sinto-me muito valorizado pelas pessoas de quem cuido. Às vezes, nem precisam de comunicar verbalmente. Basta um toque e eu percebo o que me querem transmitir. E isso enche-me o coração”.

“Sinto-me sempre enfermeira”, diz Ana a rir. “Para mim, ser enfermeira é uma forma de estar na vida. Dou-lhe um exemplo: estou no ginásio a observar alguém a fazer exercício e a pensar que amanhã esse alguém vai estar cheio de dores de costas. Ou, outro exemplo: há dias fui jantar fora e assisti a uma jovem alcoolizada a precisar de assistência médica. Chamei o INEM e não saí do pé dela enquanto a ambulância não chegou”.

Histórias de e para a vida

Numa área que lida com a delicadeza da vida humana, é quase impossível não haver histórias marcantes, positivas e negativas, que estes profissionais da saúde transportam consigo. “Estaríamos aqui muitas horas só a contar histórias”, diz-nos David sem disfarçar o orgulho e o sorriso. “Mas, para mim, há um episódio que recordarei para sempre. Ocorreu quando trabalhava ainda na unidade de saúde do bairro do Armador. Estava quase a terminar o meu turno quando fui alertado por uns vizinhos relativamente a uma senhora que estava a sentir-se mal. Pensei que não seria nada de grave ou extraordinário, talvez uma má disposição. Mas quando chego à rua, deparo-me com uma senhora em paragem [cardiorrespiratória]. Acionei de imediato o INEM e fiz as manobras de reanimação durante vários minutos até chegar a ambulância que transportou, entretanto, a senhora para o hospital. E eu apenas pude ficar a desejar que tudo corresse pelo melhor. Não tive mais notícias sobre o sucedido até que, passados dois ou três meses, a tal senhora apareceu na unidade de saúde com o neto ao colo, para me agradecer ‘o facto de o poder ver crescer’… Isto porque lhe contaram que tinha sido eu a fazer as manobras de reanimação que a salvaram. Ela fez questão de ir ao meu encontro para agradecer o facto de ter sobrevivido… Nunca mais na vida esquecerei esta situação. Fui para casa de coração cheio. E ainda hoje, sempre que me vê, a senhora cumprimenta-me e agradece-me”, conta, emocionado.

Já Ana confessa-nos que as situações mais marcantes e relevantes da sua vida profissional, sobretudo com os idosos e nas ERPI, “têm mais que ver com o lado da saúde mental. Talvez venha daí a minha opção por me especializar nesta área. Comecei a perceber, em determinada altura, que este tipo de questões é transversal a qualquer serviço de saúde, não estão confinadas aos hospitais psiquiátricos, sendo também transversais a qualquer fase da vida”. E explica: “Tal fez com que eu começasse a trabalhar em mim própria a capacidade de lidar com pessoas ‘especialmente difíceis’ e com quem acabo por desenvolver uma relação de maior proximidade porque elas sabem que eu as entendo. É um trabalho de inteligência emocional que tenho vindo a desenvolver comigo própria para conseguir lidar com estas diferenças e de que muito me orgulho”. A enfermeira aproveita para deixar uma mensagem: “Trabalhar na área da saúde mental é muito desafiante e é preciso simplificar a questão e assumir a necessidade de procurar ajuda quando necessário. É preciso aligeirar e simplificar este assunto. Todos nós, em determinada altura da nossa vida, temos perturbações do foro mental ou uma crise de ansiedade, ou uma atitude mais depressiva”.

David Sabroso

David Sabroso

O orgulho de trabalhar na Santa Casa

Ana e David não comemoram, de forma particular, o dia dedicado ao Enfermeiro. O 12 de maio assinala uma efeméride importante [aniversário de Florence Nightingale, considerada a fundadora da enfermagem moderna], sem dúvida, mas, para eles, o dia do Enfermeiro é todos os dias. “É como o Dia da Mãe”, comparam.

Mas há algo que comemoram muitas vezes, até porque o sentem como privilégio: o facto de poderem desempenhar a sua missão numa instituição como a Misericórdia de Lisboa. “Trabalhar nesta Casa realiza-nos imensamente, no sentido em que conseguimos prestar cuidados aos utentes de uma forma holística. Sobretudo, por exemplo, no apoio domiciliário, o ato de irmos tratar de uma ferida a alguém não é, na maior parte das vezes, o mais importante. Mais importante que isso é perceber porque é que aquele alguém tem uma ferida: estará a alimentar-se bem? Estará bem posicionada? Talvez necessite de uma intervenção mais social, que passe por ter alguém que a ajude na alimentação ou nos seus cuidados de higiene. O nosso trabalho não se faz apenas com curativos ou injetáveis, com a preparação de terapêutica ou com a administração de fármacos.

É aqui que nós somos diferenciadores. Conseguimos ser enfermeiros de ligação na medida em que falamos com o [departamento de ação] social e alguém vai fazer a higiene da pessoa, tratar da alimentação ou limpar a casa; falamos com o voluntariado e alguém vai fazer companhia ao utente e acompanhá-lo nas consultas médicas; falamos com a polícia de proximidade e consegue-se um acompanhamento para o utente ir às compras ou levantar a reforma. E isto é que configura uma prestação de cuidados de forma completa, holística e abrangente, como aprendemos na faculdade. Seria, aliás, ingrato e frustrante se só pudéssemos ir a casa das pessoas ‘fazer o penso’. Por isso, trabalhar nesta instituição, que detém esta enorme infraestrutura em termos materiais e humanos, é um real privilégio e verdadeiramente gratificante”.

No Dia Internacional do Enfermeiro, a Santa Casa agradece a todas as Ana e a todos os David pela entrega, disponibilidade, resiliência e carinho que colocam na sua missão de cuidar dos que mais precisam.

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