“Olá, bem-vindo(a) à nossa casa! Eu sou o Super Laminhas e vou contar-te uma história! Era uma vez uma família de lamas, os Lamix, primos dos camelos, que tiveram que fugir da sua casa por não se sentirem felizes nem em segurança”. É assim que começa a obra que foi apresentada esta terça-feira à tarde, 31 de agosto, na Feira do Livro de Lisboa.
Com edição da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, “A história do Super Laminhas na Casa Maria Lamas” é uma obra infantil que relata as aventuras de uma família até ao momento em que a mesma foi para uma casa secreta, para se sentir em proteção e segurança. A autoria é de Emanuel Carvalho; Joana Magalhães; Mónica Brazão; Paula Dias e Paula Passarinho; a paginação e ilustração de Raquel Pinho e a revisão de Marta Rosa.
Os autores desta obra são os técnicos da Casa Maria Lamas, uma resposta da Misericórdia de Lisboa, que tem como objetivo oferecer habitação protegida a mulheres (com ou sem filhos) vítimas de violência doméstica e em perigo de vida.
Com diferentes valências, mas de forma multidisciplinar, os técnicos da Casa Maria Lamas apoiam e trabalham em conjunto com estas famílias, com o objetivo de conseguir que as mesmas reorganizem a sua vida, reconstruam a sua rede de suporte, para conseguirem viver de forma autónoma e em segurança.
Apaixonados pelo seu trabalho, os autores desta obra sentem-se “orgulhosos e felizes” pelo lançamento de um livro que será uma ferramenta de trabalho para crianças, mães e profissionais. Incentivados por Paula Dias, diretora da Casa Maria Lamas, começaram em 2020, fruto de “muito trabalho” e da “necessidade de criar um manual para crianças”, que pudesse explicar o que é uma casa de abrigo, como funciona e qual a importância para as suas vidas, contam Emanuel Carvalho, Joana Magalhães, Mónica Brazão e Paula Passarinho. O mais difícil foi concentrar a informação de uma forma “acessível e básica” para crianças, lembram.
De uma forma simples e clara, é explicado em que consiste a resposta de casa de abrigo, para apaziguar as crianças durante a etapa de acolhimento. Além de relatar o percurso da família Lamix, desde a entrada na Casa Maria Lamas até à etapa final (de autonomização), esta narrativa aborda alguns temas que podem ajudar os mais novos no processo de adaptação à casa de abrigo.
Uma obra que ajuda crianças e mães
De acordo com os autores, a entrada numa casa de abrigo é acompanhada de grande angústia, confusão, insegurança. Situação com a qual, muitas vezes, as próprias mães não conseguem entender, pois também elas vivem um momento de grande dificuldade, em que necessitam de um suporte externo à sua dor e ansiedade. Assim, “A história do Super Laminhas na Casa Maria Lamas” permite ajudar crianças e mães nesta fase das suas vidas: “quando a mãe lê o livro ao filho, ela própria está a absorver e a organizar a informação”, dizem os autores.
Cada caso é um caso e a resposta da equipa é ajustada à realidade da família. “Os primeiros tempos são muito difíceis para estas mulheres. Têm dificuldade em confiar, vêm muito fragilizadas, assustadas. Estas famílias, no seu ambiente natural, são sujeitas a uma enorme pressão psicológica e física”, revelam, acrescentando que não é necessário apresentar queixa para entrar numa casa de abrigo.
A Casa Maria Lamas
Esta resposta, lançada em 2006 pela Misericórdia de Lisboa, tem como objetivo oferecer habitação protegida a mulheres (com ou sem filhos) que são vítimas de violência doméstica e que se encontram em perigo de vida. Divide-se em dois apartamentos, geograficamente distantes que, em conjunto, podem receber sete famílias, com quartos e tamanhos ajustados ao número de elementos da família. O primeiro apartamento iniciou a sua atividade em junho de 2006. Já o segundo apartamento em junho de 2008.
A equipa técnica desta resposta social é composta por uma diretora, uma psicóloga, uma assistente social, uma educadora social e um jurista. A permanência numa casa de abrigo tem um limite de seis meses, podendo ser prorrogada, por duas vezes, por mais seis meses, mediante a necessidade que essa família apresente em manter-se nesta habitação protegida, ou porque a consolidação de uma autonomia financeira ou laboral ainda não permitiu a sua autonomização plena do agregado.
O equipamento é gerido sob o paradigma do bem-estar das famílias que recebem de forma profissional e igualmente afetiva, promovendo, assim, uma maior confiança entre as partes. Fator que permite uma intervenção mais eficaz por parte das equipas.