Muitos fogem da guerra, outros de catástrofes naturais que deixaram os seus países de origem de “rastos”, o que os motiva é a busca pela tranquilidade e paz que não existe em muitos destes territórios. São refugiados, mas acima de tudo, são pessoas, como as que nascem aqui e que procuram em Portugal uma vida melhor para elas e em muitos casos para as famílias que ficaram para trás.
Ali, tem 24 anos, e muitas histórias para contar, guardadas no seu baú de memórias. Sobrevivente de uma guerra que durou quase 20 anos (2001-2021) e que dizimou o Afeganistão e uma parte considerável do Médio Oriente, Ali nunca desistiu de lutar pelos seus sonhos, nem que isso justificasse um bilhete de apenas ida, para um outro país.
“Foi muito complicado os primeiros tempos. Não falava português, não tinha dinheiro, estava sozinho, sem família e sem amigos, mas tinha esperança e vontade que algo de bom iria acontecer”, conta o jovem afegão.
Quis o destino que os caminhos do jovem e da Santa Casa se cruzassem. Mal entrou em Portugal, ao abrigo de um protocolo de apoio a refugiados, Ali foi acolhido pela instituição. No Afeganistão deixou a infância, muitas das vezes sofrida, mas também boas recordações. O pior, conta o jovem, foi “ter deixado o pai e os irmãos”.
Volvidos 7 anos, Ali não tem dúvidas que escolheu o sítio certo para recomeçar do zero. Aos poucos aprendeu a língua, fez amigos e começou a estudar. O dia esse faz-se entre a escola, trabalho e o treino em artes marciais mistas (MMA – sigla em inglês), um dos maiores sonhos do jovem.
“Entrei na escola e neste momento estou a terminar o processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências Profissionais (RVCC) para acesso ao 12º ano. Também encontrei um trabalho em part-time. Entretanto, fiz amigos em Portugal a quem posso recorrer, em caso de necessidade. O meu dia-a-dia passa por estudar e trabalhar, mas o que gosto mesmo é de competir em MMA”, relata Ali.
Ainda assim, aponta que a maior dificuldade de viver em Portugal é o excesso de questões burocráticas, em particular os processos relacionados com documentos oficias, o que é nas palavras do jovem: “um entrave no dia-a-dia, tornando a vida muito mais difícil”.
Para o seu futuro, Ali já traçou os objetivos. Primeiro conseguir os documentos oficiais que lhe permitirão participar em competições internacionais de MMA, em segundo, acabar o 12.º ano de escolaridade e abrir um espaço de restauração.
“Tenho os meus objetivos de futuro, mas se houve coisa que aprendi foi a viver um dia de cada vez”, finaliza o jovem.
A história de Ali Hossein Nazeri é um exemplo inspirador de resiliência, coragem e perseverança. Como muitos outros refugiados, Ali encontrou em Portugal um refúgio seguro, onde teve a oportunidade de reconstruir a vida e ser jovem.
Um apoio indispensável
Com o objetivo de melhorar a capacidade de resposta à evolução dos fluxos de requerentes de asilo em Portugal, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa constituiu, em abril de 2020, uma coordenação de equipa especializada em matéria de acolhimento aos requerentes e beneficiários de proteção internacional.
Desta maneira a Equipa de Acolhimento aos Requerentes de Asilo e Recolocados (EARAR), da Unidade de Emergência da instituição, acompanha e acolhe os refugiados ao abrigo dos programas de acolhimento, durante um período de 18 meses, para que neste período, todos os acolhidos consigam uma autonomia social, habitacional e financeira.
No ano da sua fundação, este equipamento da Misericórdia de Lisboa, acompanhou 1160 pessoas. Já em 2021, a equipa apoiou 1640 pessoas, sendo que, no ano passado foram apoiados 1213 requerentes e beneficiários de proteção internacional.
A EARAR presta apoios de natureza financeira aos requerentes e beneficiários de asilo para que as suas despesas de subsistência (alimentação e gastos próprios), habitação (nos casos em que recorrem ao mercado livre de habitação) e para assistência medicamentosa. No caso de menores o serviço também presta apoio para as despesas com a educação.
Atualmente a EARAR tem em acompanhamento ativo 436 pessoas, 293 migrantes isolados e 39 famílias que correspondem a 143 pessoas, das quais 68 são crianças e jovens, menores de 18 anos.