Passam poucos minutos das 14 horas quando Ana toca à campainha. Afasta-se da porta e olha para cima, lá para o alto do quinto e último andar do velho prédio. Sabe que quem a aguarda gosta de confirmar pela janela quem lá vem. A porta é finalmente destrancada e Ana empenha-se na difícil missão de subir cinco andares de escadas, mas por uma boa causa: é voluntária da Santa Casa e prepara-se para mais um dia a fazer companhia a Adriana.
Esta última, já com 82 anos, abre a porta do pequeno apartamento e recebe Ana nos braços, com um sorriso que diz tudo: “Gosto muito da companhia da Ana! E não o digo por ela estar aqui ao lado, faz de conta que não está cá”.
Embora já tenha feito outros trabalhos de voluntariado, Ana, estudante já no final do curso de medicina, está na sua primeira experiência de voluntariado ao domicílio. Por sua vez, Adriana também acolhe um voluntário no seu lar pela primeira vez. Conhecem-se desde janeiro e a empatia foi imediata.
“É uma senhora muito animada, gosta muito de falar e acolheu-me bem. Eu vinha um pouco de pé atrás, porque estou a entrar no espaço dela. Até setembro, a Adriana tinha atividades no exterior, mas depois teve problemas de saúde e ficou mais por casa”, refere Ana.
A voluntária é, de resto, a única alternativa para que Adriana ainda saia de casa. Juntas, enfrentam os cinco andares de escadas e há pouco tempo foram passear até ao Jardim da Estrela, zona onde Adriana morou.
A idade faz-se sentir mas, apesar destes passeios serem cada vez mais raros, Adriana descobriu uma nova forma de ‘viajar’ através… da própria Ana, como explica a voluntária: “Ultimamente tenho feito algumas viagens e ela gosta muito de saber mais sobre isso. Faz-me perguntas e vou-lhe mostrando fotografias”.
A fotografia é, de resto, uma paixão comum às duas e esse foi um dado tido em conta no processo de recrutamento, no qual Ana indicou ser essa uma das suas áreas de interesse. Ora, Adriana trabalhou quase metade da sua vida em fotografia. Foi só juntar as peças.
“Gostava muito de poder viajar, coisa que não consegui fazer porque tinha de trabalhar para criar três filhos. Trabalhei em fotografia durante 35 anos e havia pouca gente que fizesse o trabalho que eu fazia. Não só retocava as chapas, como fazia o trabalho em papel”, recorda.
Por seu lado, Ana não esconde o fascínio por tudo o que aprende nas conversas com a sua amiga mais velha: “A dona Adriana fala-me do processo da fotografia de antigamente, de coisas que eu só vejo em filmes e que agora conheço melhor”.
Processo rápido e experiência enriquecedora
Ana está com Adriana uma hora por semana, no resultado de uma inscrição à qual os serviços da Santa Casa rapidamente deram resposta. Desde então, as duas têm desfrutado ao máximo da companhia uma da outra.
“Enviei um email à Santa Casa e responderam-me logo. Entrevistaram-me na semana seguinte, houve aquelas sessões de formação e foi um processo muito rápido. O voluntariado ‘enriquece’ a pessoa que o recebe, mas também o voluntário. Eu passo muito do meu tempo a estudar e estar aqui com a dona Adriana é um momento em que estou só aqui, sem pensar noutras coisas. É muito bom e abriu-me horizontes”, explica a voluntária.
E nem mesmo o facto de estar num curso exigente a afastou deste projeto: “Uma hora por semana é um compromisso que fiz comigo e com a senhora Adriana. Ninguém está o dia todo a estudar. Quando passo uma hora a ver um filme ou a ouvir um podcast, se calhar não tiro grande coisa daquilo, mas quando estou uma hora com a senhora Adriana aqui em casa, aprendo coisas, converso e acabo por sair mais relaxada. É uma experiência enriquecedora. É essa a mensagem que quero passar”.
A Santa Casa promove o voluntariado em diversas áreas, sempre com o mesmo objetivo: melhorar o bem-estar e a qualidade de vida de quem mais precisa. Se quiser fazer como a Ana e disponibilizar o seu tempo para ser voluntário na Misericórdia de Lisboa, pode saber mais e inscrever-se aqui.