Trabalhos decorrem entre hoje e quarta-feira nas instalações da Brotéria, na Sala de Extrações da Santa Casa e no Convento São Pedro de Alcântara, na zona do Bairro Alto, em Lisboa
Dia: 12 de Junho, 2023
Santos da Casa
Os participantes da marcha da Santa Casa não sonham vencer as Marchas Populares de Lisboa, até porque não fazem parte do concurso oficial, mas acabam sempre o desfile como vencedores. Fomos assistir a um ensaio e tentar perceber o impacto e importância que estes dias têm nas suas vidas.
O farol que ilumina os dias cinzentos
São empurrados para a rua pelo álcool e pela droga, pela falta de saúde mental, pela violência, pela precariedade e em alguns casos, por promessas de vida melhor que procuram longe do sítio de origem. São de Lisboa, Porto, de outros pontos do país e de vários países mundiais. Na Unidade de Atendimento à Pessoa em Situação de Sem-Abrigo (UAPSA), serviço que integra a Unidade de Emergência, encontram algumas das respostas para reencontrarem o seu lugar no mundo.
Marisa Melo, coordenadora do Atendimento Social da UE, explica que o perfil das pessoas que recorrem a este serviço “caracteriza-se pela existência de défices educacionais e profissionais, apresentando, maioritariamente, baixa escolaridade e uma elevada indiferenciação profissional, falta de condições de saúde e de habitação, pouco ou nenhum vínculo com redes de suporte familiares e sociais, ou quando apresenta estas são pautadas pela disfuncionalidade”.
Para a coordenadora, existe um novo paradigma que caracteriza o perfil das pessoas que recorrem ao apoio da Unidade de Emergência. “Registamos igualmente pessoas que decorrentes do desemprego deixaram de conseguir fazer face às suas necessidades de subsistência, denominados pelos novos sem-abrigo excluídos de um mercado laboral mais competitivo. O colossal peso dos custos com a habitação no orçamento das pessoas, na atualidade, é outro enorme constrangimento e desafio à intervenção nesta área”, frisando ainda que os números demonstram um aumento considerável de estrangeiros, sem retaguarda familiar, económica e social, na população sem-abrigo na cidade.
O problema esse é antigo, como retirar as pessoas da rua e humanizar o mais possível. É com isto em mente que os técnicos da UE trabalham diariamente, através dos seus vários serviços, como é o caso da Unidade de Atendimento à Pessoa em Situação de Sem-Abrigo, juntamente com o Centro de Apoio Social dos Anjos, com valência de refeitório social, o Centro de Alojamento Temporário Mãe d’ Água e Extensão, destinado a alojar pontualmente mulheres e homens isolados e famílias monoparentais femininas, o Centro de Apoio Social de S. Bento, que ajuda na integração ou reintegração no mercado de trabalho, a Casa de Transição para alojamento temporário para ex-reclusos e jovens do género masculino com percurso de acolhimento institucional e a Casa de Apoio Maria Lamas com valência de alojamento para mulheres vítimas de violência doméstica com ou sem filhos.
Só no ano passado, esta unidade de apoio assegurou 15.538 atendimentos sociais, que corresponderam a 3.693 utentes diferentes, que passaram pelo serviço, já os dados de 2023 demonstram a mesma tendência do problema, em que até ao final do mês de maio a Unidade de Emergência garantiu o acompanhamento a 2.756 pessoas.
“A condição de sem-abrigo é um problema social extremamente complexo. Sabemos que só uma intervenção integrada e colaborativa pode ser eficaz no combate a este flagelo. Só desta forma conseguimos tornar a intervenção com estas pessoas mais eficiente e eficaz. Contudo, as constantes alterações no tecido social, o aumento dos fluxos migratórios, o contexto social e económico que enfrentamos e a escassez de respostas habitacionais conduz a um aumento das situações de vulnerabilidade, o que se apresenta como um verdadeiro desafio para as equipas técnicas que atuam diariamente no terreno”, argumenta Marisa Melo, salientando que ainda existe muito caminho a percorrer, no entanto, assegura que “a principal causa destas pessoas se encontrarem nesta condição é a ausência de habitação” e aponta que “é necessário a criação de uma verdadeira política pública de habitação associada a outras políticas noutros setores como o da saúde, emprego, formação, justiça e proteção social, que de uma forma integrada e complementar sustente os processos de integração destas pessoas e evite retrocessos na situação de sem-abrigo”.
Encontro promove estratégia para pessoas sem-abrigo
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa está presente na 92ª edição da Feira do Livro de Lisboa, de maneira a promover as suas obras, missão e património, integrando o mosaico cultural e artístico que por estes dias toma conta da cidade.
Foi no passado dia 7 de junho, quarta-feira, que o stand da instituição acolheu a apresentação do Caderno Técnico 12 – Pessoa em Situação Sem-Abrigo, que contou com a presença de Sérgio Cintra, administrador de Ação Social da Santa Casa, Américo Nave, diretor executivo da Associação de Intervenção Comunitária Crescer, Henrique Joaquim, gestor executivo da Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas em Situação de Sem-abrigo e Marisa melo, coordenadora do atendimento social da Unidade de Emergência da Misericórdia de Lisboa.
Durante o encontro foi possível explicar alguns estudos feitos na área e apontar algumas estratégias de atuação para esta problemática complexa e multicausal.