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Open Conventos regressa a Lisboa com 36 conventos de portas abertas

Organizado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Quo Vadis – Turismo do Patriarcado e Instituto de História de Arte da Universidade Nova de Lisboa, o Open Conventos abre as portas de um conjunto de antigos espaços conventuais emblemáticos de Lisboa, com o objetivo de dar a conhecer locais de grande importância para a História, Arquitetura e Urbanismo da cidade.

 “A PAUSA e o SILÊNCIO” é o tema de reflexão escolhido para este ano. Uma conversa aberta e a exibição de um filme no dia 23 de maio introduzem a questão da organização do tempo e da importância da contemplação e da fruição. Que modelo de sociedade queremos no século XXI? O que podemos aprender com as comunidades que habitavam e habitam conventos e mosteiros numa época marcada pela aceleração e acumulação?

Esta conversa, moderada por Teresa Nicolau, diretora da Cultura da Santa Casa, acontece no centro cultural Brotéria, às 17h00, com a escritora Ana Margarida Carvalho, a maestrina adjunta Inês Tavares Lopes do Coro Gulbenkian, o P. João Norton SJ da Brotéria e a Irmã Anatália das Monjas de Belém (Zoom). Às 20h30, no Convento de São Pedro de Alcântara, é exibido o documentário “O Grande Silêncio”, de Philip Groning.

Nos dias 24 e 25 de maio, há muito para ver, desvendar e usufruir nos conventos que integram esta terceira edição, com uma programação cultural variada e dirigida a toda a população.

Todo o programa, os itinerários e a informação histórica e cultural sobre cada convento estão disponíveis aqui.

Dia Internacional do Enfermeiro assinalado com seminário sobre os cuidados domiciliários

O Dia Internacional do Enfermeiro, comemorado a 12 de maio, data do aniversário de Florence Nightingale, considerada a fundadora da enfermagem moderna, foi assinalado na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa com o seminário “Cuidar em Casa, uma resposta de proximidade pela voz dos enfermeiros”, na Sala de Extrações.

A propósito do tema definido este ano pelo Conselho Internacional de Enfermeiros, “Os nossos enfermeiros, o nosso futuro – o poder económico dos cuidados”, foram debatidas as questões relacionadas com o adiamento da institucionalização do doente e os benefícios que tal traz para “o próprio, para a sociedade e, também, na parte financeira”, segundo Manuela Marques, enfermeira diretora da Direção de Saúde da Misericórdia de Lisboa.

Manuela Marques lembra que essa institucionalização “desenraíza a pessoa, com prejuízos psicológicos e isolamento em relação à família”, acarretando igualmente custos ao Estado, pelo que “os cuidados em casa são uma área a explorar e a melhorar”.

Enfermeira diretora Manuela Marques

“Existe um grupo de trabalho na Santa Casa, com a Ação Social e a Saúde, que está a estudar a forma de melhorar a integração entre estas duas áreas. O nosso apoio domiciliário de saúde está concentrado em dois polos: oriental e ocidental. Nas freguesias há um núcleo com médico e enfermeiro, que também pode ter nutricionista, e que faz a ponte com a Ação Social”, explica.

Segundo a enfermeira diretora, a interligação entre as duas áreas já é feita, mas não atuam propriamente como uma equipa única e é aí que há trabalho a fazer, até porque, recorda, “a Organização Mundial de Saúde diz que a integração dos cuidados contribui não só para melhorar a qualidade dos cuidados, mas também a relação custo-efetividade dos mesmos”.

Assim, na primeira metade do seminário foi feita uma caracterização dos cerca de 1700 utentes que o serviço cobre na cidade de Lisboa com cuidados médicos, de enfermagem, nutrição e outros, abordando as suas faixas etárias, patologias, tipos de cuidados prestados (curativos e preventivos) e ainda o ensino aos cuidadores.

Já na segunda parte do seminário realizou-se uma mesa redonda sobre “O papel do enfermeiro especialista na equipa multidisciplinar, em contexto domiciliário”, visando as áreas de reabilitação, saúde mental e cuidados paliativos, as três onde os profissionais da Santa Casa atuam diariamente em casa dos utentes.

Sala cheia no seminário sobre cuidados de saúde em casa

Centros intergeracionais de portas abertas à cidade

Esta agenda sociocultural maio/junho é reveladora de toda a riqueza das atividades que são desenvolvidas nos centros intergeracionais da Santa Casa. É um veículo de divulgação e de abertura dos equipamentos à cidade, em que a diversidade das atividades propostas age como o motor para sair de casa e estar num espaço seguro e de convívio, proporcionando memórias inesquecíveis.

Este programa, desenvolvido nos centros de dia e noutros equipamentos da Misericórdia de Lisboa, assenta na filosofia de que todas as pessoas, novos e velhos, dispõem de múltiplos recursos para partilhar, fomentando a sabedoria e a troca de conhecimentos.

Em face desta premissa, os encontros intergeracionais abrem as portas aos vizinhos, ao bairro, aos parceiros e à comunidade em geral, enriquecendo as relações e combatendo estereótipos relativamente à idade.

 

Programa completo

Mitra acolhe exposição “ATELIER” de Pedro Cabrita Reis

São 50 anos de trabalho representados em mais de 1500 obras. O artista plástico Pedro Cabrita Reis vai mostrar a sua arte ao público na exposição “ATELIER”, que estará patente na Mitra a partir do próximo domingo, dia 19 de maio. O espaço cedido pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, situado em Marvila, vai assim albergar uma retrospetiva inédita da carreira do conceituado artista, a qual necessitava de um espaço de grandes dimensões face à diversidade de obras a expor.

No total serão oito pavilhões de exposição, numa área de cerca de 3000 metros quadrados, ocupados por obras de pintura, desenho, gravura, escultura e fotografia, a maior parte nunca antes expostas ao público e outras que fazem a sua estreia em solo nacional.

Apesar da extensa preparação que envolve uma exposição deste calibre, Pedro Cabrita Reis admite que a mostra nunca está totalmente pronta.

“Comecei a trabalhar aqui a 18 de março e, ao longo deste mês, eu e a minha equipa já mudámos coisas e durante este processo já criei, por exemplo, cerca de 20 novas obras, que também serão expostas”, refere o artista.

Artista Pedro Cabrita Reis na exposição ATELIER na Mitra

Este é, assim, mais um grande evento que a Mitra acolhe. O espaço onde decorre a exposição remonta ao século XVI e, atualmente, é composto por dois edifícios: o antigo Asilo de Mendicidade, que foi alvo de uma intervenção de restauro e preservação por parte da Santa Casa; e o palácio barroco do 1.º Patriarca de Lisboa, que hoje pertence à Câmara Municipal de Lisboa.

A exposição “ATELIER”, de entrada livre, vai decorrer entre 19 de maio e 28 de julho, e pode ser visitada de quinta-feira a domingo, entre as 14h00 e as 18h00.

Open Day do CRNSA quer mostrar o quotidiano de um deficiente visual

O Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, que promove a reabilitação de pessoas com cegueira ou baixa visão, vai celebrar 62 anos de existência no próximo dia 27 de maio.

Nos últimos tempos, o Centro tem-se dedicado a promover ações de sensibilização e de informação, tanto internas como externas, no sentido de “contribuir para uma sociedade mais inclusiva”. A descrição é de Isabel Pargana, diretora do equipamento que, neste contexto, decidiu, com a sua equipa, promover o Open Day do CRNSA no dia do seu aniversário.

“A intenção é permitir às pessoas da comunidade e às pessoas do mundo académico e do mundo empresarial, virem passar o dia connosco, conhecer-nos e ter a oportunidade de perceber o que é o dia a dia das pessoas com deficiência visual, contribuindo, dessa forma, para uma sociedade onde esta diversidade deve ser considerada e deve ser respeitada no seu todo”.

Assim, no dia 27 de maio, entre as 10h00 e as 17h00, pode dirigir-se ao Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, na Travessa Recolhimento Lázaro Leitão 19, em Lisboa, e passar um dia, no mínimo, diferente. Poderá conhecer a história do centro e do edifício, vivenciar o dia a ida da pessoa com deficiência visual através de atividades práticas, explorar perceções e curiosidades sobre a deficiência visual, de forma lúdica e pedagógica, conversar com utentes e profissionais, partilhando experiências e, claro, conhecer o trabalho de reabilitação promovido no Centro.

O CRNSA dispõe, atualmente, de duas grandes respostas: a primeira, centrada no programa de realização para adultos para pessoas maiores de 16 anos, vindas de qualquer ponto do país, PALOP e ilhas; e a segunda, que consiste num programa de estimulação sensorial na primeira infância para crianças dos 0 ao 6 anos que, por circunstâncias diversas,
têm alguma limitação visual. 

A terapia do tricot

Maria Adelina Bibe é o nome da pessoa que se senta atrás do balcão de madeira escura, entre estantes quadriculares cheias de novelos de todo o tipo de lãs e derivados, e que carrega em si toda a história do estabelecimento que tem sobrevivido a várias gerações, a retrosaria Auri. Quis o destino que até o apelido de Maria Adelina estivesse relacionado com o ofício que escolheu para a sua vida profissional.

Quem passa pelo Nº. 10 da rua Oliveira Martins, paralela à icónica Avenida de Roma, não imagina todo o trabalho que se desenvolve dentro do estabelecimento com mais de 70 anos de existência e que faz parte dos radares comunitários do projeto RADAR da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (que visa identificar a população com 65 ou mais anos residente na cidade de Lisboa e construir sistemas de base comunitária de coesão social). Mais do que um local onde se estabelece um preço aos novelos de fios armazenados cuidadosamente nas estantes, este é também um sítio de amizade, partilha e, acima de tudo, de comunidade.

Foi em 2021 que, numa visita de rotina à freguesia, a equipa do RADAR reparou na Retrosaria Auri e a desafiou a ser radar comunitário. Desde então, este é um farol essencial para a equipa saber o que se passa no bairro e como estão as pessoas mais velhas. Atuando como uma autêntica confidente da vizinhança e agora, também, como ponto de ajuda através da plataforma RADAR, a proprietária considera ser “importante existirem projetos como este para apoiar os mais velhos, ainda mais numa freguesia tão envelhecida como é o Areeiro”.

Maria Adelina esclarece que “esta é uma casa muito conceituada aqui nesta zona da Avenida de Roma. As pessoas mais velhas conhecem este espaço desde sempre e é importante para nós que se mantenha esta relação de amizade. Só assim faz sentido continuarmos o trabalho de comunidade que fazemos. Nesta mesa já curámos muitas depressões e problemas de ansiedade”.

Margarida Cardoso é uma das participantes do grupo de tricot e, no alto dos seus 80 anos, não tem dúvidas de que “este convívio é essencial”.

“Eu estou muito tempo sozinha em casa e, parecendo que não, estou sempre desejosa que chegue quinta-feira para vir para o tricot”, diz Margarida enquanto tricota uma pequena camisola branca e verde para oferecer ao neto, adepto fervoroso do Sporting Clube de Portugal.

Com o passar do tempo, a loja, tal como as pessoas que fazem deste espaço uma “segunda casa”, foi-se alterando. Por aqui gerações foram passando. Quem antigamente era cliente, hoje é amigo, quem comprava, hoje ensina e é ensinado.

“Temos muitas avós, filhos e muitos netos que nos visitam. Esta é uma casa intergeracional. É engraçado que temos clientes que, ao longo do tempo, foram-se se tornando amigos, que vieram aqui comprar o enxoval de casamento e os atoalhados e agora temos aqui os netos de algumas dessas pessoas a quererem aprender esta arte e a falarem sobre algumas das peças que os avós compraram aqui há muitos anos atrás”, conta Maria Adelina durante uma breve conversa com outra “Tricota” (nome que dão aos integrantes do grupo de tricot), sobre o próximo passeio do “clube”.

Mas não se engane. Nesta loja existe mais do que um conjunto de senhoras a tricotar. Estas avós dos tempos modernos são mais do que isso. São pessoas ativas e inseridas numa comunidade que tem cada vez mais adeptos entre os mais novos.

Fruto desta procura dos mais jovens, Maria Adelaide partilha connosco os passeios que já fizeram com várias gerações e de como cada vez mais pessoas novas a procuram para perceber melhor esta arte.

“Nós temos aqui de tudo. Temos aqui médicas, cientistas, professoras, jovens e mais velhos que encontram no tricot um escape manual para os problemas do dia-a-dia. Temos muitos encontros e passeios, vamos a museus, participamos em worshops e até encontros regulares através do zoom fazemos com membros da comunidade de tricot do Brasil”, diz orgulhosa.

O motor para estes encontros e passeios é sempre o mesmo: a amizade e o combate ao isolamento social. Para Maria Adelina, “o tricot está na moda e a pandemia, para além das coisas más que trouxe e com o isolamento forçado em que tivemos de estar, trouxe também tempo para as pessoas se dedicarem a outras artes.”

Por tudo isto, ser radar comunitário foi, para Maria Adelina Bile, um processo natural e é com satisfação que nos explica que a equipa do RADAR “está sempre disponível e sabemos que podemos contar com ela para ser um apoio da população mais velha da vizinhança”.

Igreja de São Roque acolhe Orquestra Geração Santa Casa

Foi com “casa” cheia, composta por familiares dos pequenos artistas e não só, que a Igreja de São Roque recebeu as 50 crianças, dos 6 aos 16 anos, que fazem parte da Orquestra Geração Santa Casa.

Este projeto conta já com seis anos de existência e tem vindo a crescer ao longo dos anos, quer em número de participantes, quer na evolução da aprendizagem da música e do impacto que esta tem nas vidas destes talentosos artistas e das suas famílias.

O alinhamento do concerto “Esperança viaja com a Família” foi construído com o foco na família e contou a história de uma orquestra chamada “Esperança”, que viajou pelo mundo. Puderam ser escutadas peças musicais da orquestra com novos arranjos e uma dinâmica diferente, o que motivou uma enorme participação e entusiasmo por parte de todos os presentes. O espetáculo terminou com o tradicional merengue da Orquestra Geração, que é já um clássico de sucesso nas suas atuações, e, depois da última nota, os pequenos grandes artistas foram brindados com uma emotiva ovação.

Todo o empenho e dedicação do maestro Duarte Silva, assim como dos 13 professores dos vários instrumentos e dos colaboradores da Unidade de Intervenção Familiar da Misericórdia de Lisboa, tem sido recompensado com o crescimento assinalável dos jovens artistas que fazem parte da orquestra.

Como gostam de lembrar, a Orquestra Geração Santa Casa não é um conservatório, nem uma escola de música. É um trabalho social que, através da música e da prática de orquestra de conjunto, apoia crianças e famílias da comunidade.

Comemorou-se ontem o Dia da Cultura Santa Casa

A Misericórdia de Lisboa decidiu instituir o Dia da Cultura Santa Casa a 2 de maio, dia em que a rainha D. Leonor, fundadora da instituição, celebraria o seu aniversário.

Esta primeira edição da efeméride foi marcada pela inauguração, no Museu de São Roque, da exposição “não relíquias? relíquias? quase relíquias? o doutor Sousa Martins, o padre Cruz e a madre Luiza Andaluz”, uma mostra que dá continuidade à investigação do projeto reliquiarum, também patente naquele espaço, e que pretende responder a quatro objetivos fundamentais: conhecer a coleção de São Roque; reconhecer a rede de relíquias e de relicários no espaço de Portugal; mobilizar conhecimentos e implementar boas-práticas de inventariação, estudo, conservação, exposição e disseminação; e colocar São Roque, as suas relíquias e relicários no centro das culturas nacionais e internacionais em torno destas realidades.

A mostra que abriu ao público nesta quinta-feira é comissariada por António Camões Gouveia (responsável também pelo projeto reliquiarum) e explora como é que um médico caridoso mas sem fé, um santo popular ainda em vida e uma mulher empreendedora e fundadora de uma ordem religiosa deram origem a relíquias que merecem a atenção de seguidores e devotos.

O Dia da Cultura Santa Casa também foi marcado pelo concerto dirigido, executado e interpretado pelo Maestro Martim Sousa Tavares e pelo quarteto Pluris Ensemble, para a obra musical “Quatuor pour la fin du temps” do compositor francês Olivier Messiaen, que decorreu na Igreja de São Roque.

Laço humano encerra mês da prevenção contra os maus-tratos na infância

Juntos por uma boa causa. Cerca de uma centena de pessoas reuniu-se esta terça-feira no Largo Trindade Coelho, em frente à sede da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, para formar um laço humano, assinalando o final do mês internacional da prevenção dos maus-tratos na infância.

Ao som do hino desta causa, “Serei o que me deres… que seja amor”, e incentivados e organizados pelo cantor e funcionário da Misericórdia Ruben Matay, cerca de 100 utentes e colaboradores da instituição, muitos deles vestidos de azul, formaram o símbolo desta campanha internacional. Participaram utentes da Obra Social do Pousal, do projeto RADAR e do Centro de Dia São Boaventura, bem como crianças e respetivas famílias do Centro de Acolhimento Infantil Vítor Manuel. A iniciativa foi também assinalada nos equipamentos Parque Infantil de Santa Catarina e Principezinho, nos quais as crianças formaram, elas próprias, laços humanos mais pequenos.

Ficam, assim, encerradas as iniciativas que assinalaram mais um mês internacional da prevenção dos maus-tratos na infância, ao qual a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, para quem a proteção das crianças é uma das principais prioridades, voltou a associar-se. Recorde-se que o laço azul foi adotado como símbolo máximo desta causa há 35 anos, nos Estados Unidos da América quando, no estado da Virgínia, Bonnie Finney viu o seu neto Michael, de apenas três anos, ser vítima de maus-tratos fatais por parte da mãe e do namorado desta. Em consequência, esta avó atou um laço azul à antena do seu automóvel, escolhendo a cor para atuar como lembrança permanente das lesões da criança e iniciando assim uma campanha de sensibilização para prevenir os maus-tratos na infância, que rapidamente galgou fronteiras e ganhou impacto internacional.

50 anos de abril. A estória que a história não contou

Américo Lopes, de 89 anos, viu acontecer o 25 de abril. Naquela quinta-feira histórica, Américo saiu de casa, ainda nos primeiros raiares de sol do dia, para mais uma jornada de trabalho dedicada às Boas Causas, na farmácia Santa Marta. Saiu para trabalhar num dia de ditadura e regressou a casa com a Revolução nas ruas.

“A memória já não é a melhor, mas existem dias que não se esquecem e o 25 de abril de 74 ficará para sempre gravado na minha memória”, começa por dizer Américo Lopes, enquanto relembra os mais distraídos que “são 89, quase 90 anos de história, mais do que o país tem de livre democracia”.

Recuemos uns anos, mais precisamente ao ano de 1956, altura em que Américo começa a trabalhar na Santa Casa. Uma Casa que o recebeu “de braços abertos” desde o primeiro dia. 

Católico, de uma fé inabalável, Américo sempre soube que o seu destino passaria por “ajudar o próximo”. Por isso, quando surgiu o momento de se juntar às Boas Causas, a decisão “foi fácil de tomar”. Começou numa antiga Cozinha Económica, na freguesia de Campo de Ourique, e ao longo dos tempos foi aperfeiçoando outro ofício na Casa, o de técnico nas farmácias da Santa Casa.

Embora recorde que foi a trabalhar no Departamento de Farmácia que se sentiu mais confortável na instituição, admite que “não existe amor como o primeiro” e que a passagem pela “Sopa dos Pobres” de Campo de Ourique lhe alterou a vida para sempre, no sentido positivo.

“Foi no equipamento de Campo de Ourique que conheci a minha futura esposa, vi muita pobreza, mas conheci pessoas excecionais e de um caráter ímpar”, recorda saudosamente, frisando, ainda, “que às vezes somos mais felizes com pouco, do que com muito”.

O tempo, esse, não parou, nem para Américo nem para ninguém. Durante os anos seguintes, Américo casou, teve três filhos e viu a sua dedicação às Boas Causas ser reconhecida, com a promoção para o Departamento de Farmácia da instituição. 

25 de abril

Entrando no ano da Revolução dos Cravos, Américo recorda-se que já existia alguma coisa “suspeita no ar”. Verdade é que na madrugada de 16 de março de 1974, uma coluna de cerca de duas centenas de soldados comandada pelo major Armando Ramos saiu do Regimento de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha, e tomou a estrada a caminho de Lisboa. O seu objetivo era derrubar o governo de Marcello Caetano, para o qual esperava o apoio de outras forças militares, nomeadamente de Lamego, Mafra e Vendas Novas, algo que não viria a suceder, frustrando o caminho de um golpe de Estado.

“Em março desse ano, e só se percebeu depois, existiu uma espécie de começo de Revolução. Percebíamos que algo estava para acontecer, que era iminente, mas ainda não sabíamos nem quando, nem onde.”

E estava para acontecer, de facto. No dia 25 de abril de 1974, Américo saiu de casa, na zona de Benfica, e apanhou o comboio para o trabalho. Já com a Revolução em curso, o agora vice-presidente da ARMIL, a Associação de Reformados da Misericórdia de Lisboa, relembra “que as pessoas já estavam a dizer que os militares estavam na rua para fazer cair a ditadura.” 

Já munido de algumas informações que tinha ouvido entre os utilizadores do comboio e o que ia passando na rádio, Américo seguiu para os Serviços Centrais da Misericórdia de Lisboa, no Largo Trindade Coelho. Saindo da estação de comboios do Rossio repetiu o que fazia todos os dias: subir as Escadinhas do Duque e olhar de relance para o Largo do Carmo, que ainda se encontrava vazio.

“O dia começou como outro qualquer. Fui para o trabalho e só no decorrer da manhã é que as informações iam chegando. Só aí é que percebemos que tinha havido alguma coisa. Ao meio-dia, os serviços da Santa Casa avisaram o pessoal que iam encerrar e fomos embora, cada um para a sua casa.”

Américo conta que sentiu receio do que aí vinha, mas, ainda assim, percebeu que se estava a fazer história e que, de uma maneira ou outra, também ele iria ter a oportunidade de vivê-la.

Ainda assim, já após os filhos saírem do Colégio “Salesianos de Lisboa”, em Campo de Ourique, e de ir busca-los à casa de uma tia naquela zona e colocá-los “a salvo em casa”, Américo ainda voltou ao Largo do Carmo para assistir “na primeira fila” ao cerco do Quartel do Carmo. Lá dentro, onde agora é o Museu da Guarda Nacional Republicana, Marcello Caetano refugiava-se dos militares do Movimento das Forças Armadas. Salgueiro Maia e os seus camaradas de armas entrariam, depois, pelo quartel adentro, exigindo a rendição do até aí presidente do Conselho de Ministros, que pedia que o poder não caísse nas ruas.

Uma multidão acompanhava tudo cá fora. Américo estava nas redondezas. “Ainda vi o Presidente Marcello Caetano entrar numa chaimite e ir para o aeroporto levado por um rapaz amigo meu, que era militar na altura”, lembra-se, apontando para uma janela de um edifício na Rua da Condessa: “Chegámos a estar naquele prédio, no número 9, várias vezes, para discutir entre todos o que poderia ser melhorado na Misericórdia”.

Passadas cinco décadas desde o momento que Américo descreve como sendo “o dia mais importante para Portugal”, afirma que já muito se fez na Santa Casa, mas que ainda existem medidas pensadas na altura “que estão por conseguir”.

“Criámos na altura na Santa Casa uma Comissão de Trabalhadores, lutámos por direitos que, anteriormente, alguns colaboradores não tinham, conseguimos estabelecer pagamentos de serviços, que anteriormente não eram pagos, melhorámos o serviço de refeitório com mais qualidade e baixando custo para o trabalhador e ainda reestruturámos algumas carreiras. Mas gostávamos de ter feito mais.”

Sentado num dos bancos voltados para o antigo Quartel da GNR, e do alto dos seus já quase 90 anos de história, Américo Lopes não tem dúvidas quando a questão é liberdade. “A Revolução trouxe a liberdade para um povo que estava oprimido e para mim a questão é simples: 25 de Abril sempre! Hoje, e sempre!”

Largo do CArmo

Diversas especialidades médicas e cirúrgicas

Programas de saúde e cuidados de saúde ao domicílio

Unidades da rede nacional

Prestação de apoio psicológico e psicoterapêutico

Aluguer de frações habitacionais, não habitacionais e para jovens

Bens entregues à instituição direcionados para as boas causas

Programação e atividades Cultura Santa Casa

Incubação, mentoria e open calls

Anúncios de emprego da Santa Casa

Empregabilidade ao serviço das pessoas com deficiência

Jogos sociais do Estado e bolsas de educação

Ensino superior e formação profissional

Projetos de empreendedorismo e inovação social

Recuperação de património social e histórico das Misericórdias

Investimento na investigação nas áreas das biociências

Prémios nas áreas da ação social e saúde

Polo de inovação social na área da economia social

Voluntariado nas áreas da ação social, saúde e cultura

Ambiente, bem-estar interno e comunidade

Ofertas de emprego

Contactos gerais e moradas