Mariana Coimbra Martins e o marido têm três filhos, com três, seis e oito anos. Uma família já grande, mas que há seis meses ficou maior: tornaram-se uma Família de Acolhimento e receberam um bebé com apenas um mês de vida. A ideia de ajudar alguma criança a precisar de um lar surgiu há mais tempo e a Santa Casa foi um destino natural na pesquisa de Mariana sobre o assunto.
“Costumo dizer que ter só serve para dar. Se eu tenho, se tenho amor e tenho tempo, é-me quase impossível dizer não a uma criança que tem o direito a ter um colo e uma casa”, resume Mariana, para quem tudo começou com uma recolha de informação online, antes da inscrição na formação da Misericórdia de Lisboa.
Num “processo exaustivo, mas que por si só já valia a pena”, esta família participou numa formação em grupo e teve visitas domiciliárias de técnicas especializadas. “Fomos avaliados até ao tutano e ainda bem! Os sentimentos de medo acompanhavam-nos, embora a vontade e a coragem ganhassem”, admite.
Finalmente, deu-se a chegada do novo membro da família e tudo mudou lá em casa.
“Veio, obviamente, alterar muitas rotinas e dinâmicas familiares. Mas creio que não se consegue medir o que crescemos enquanto casal e enquanto família. No outro dia, o nosso filho mais velho dizia: ‘Mãe, nós estamos mesmo diferentes desde que este bebé chegou!’ E isso é mesmo verdade! Muda a nossa perspetiva da vida, posiciona-nos de outra forma e ajuda-nos a perceber o que de verdade importa. Acredito muito que o amor é mesmo um motor para vivermos bem a nossa vida”, afirma a mãe desta Família de Acolhimento.
Mariana confessa que toda a família ficou mais tolerante com o mundo à sua volta, tudo graças a uma criança que, apesar de ter ganho uma casa, também deu muito a ganhar aos seus novos cuidadores: “É avassalador. Ganhamos muito mais do que este bebé. Das situações que mais nos comoveram neste processo foi a forma como, tão naturalmente, os nossos três filhos acolheram este bebé, que não é irmão deles e que não é nosso filho, mas que é nosso! Embora não vá pertencer-nos para o resto da vida”.
“Os miúdos vieram ter connosco a dizer que já queriam preparar o Natal e nós dissemos que ainda era cedo. Mas quando um dos nossos filhos nos diz ‘Mãe, este é o único Natal que o bebé vai estar connosco’, foi impossível não nos arrepiarmos e não alterarmos a nossa resposta.”
Sobre esse momento de despedida, que há de acontecer, mas ainda não tem data marcada, Mariana tenta preparar-se a si e aos seus desde o primeiro dia: “Um dos desafios é tornar esta questão presente diariamente. Desde o início os nossos filhos souberam no que consistia este projeto. Vai doer e vamos chorar, mas é sinal de que cumprimos bem a nossa missão. E o nosso amor por este bebé poderá permanecer de outra forma, se assim for desejo de quem ficar com ele”.
Acolher mais crianças no futuro? Mariana não fecha a porta à ideia, mas quer primeiro viver esta experiência transformadora por completo: “Queremos ser uma família de amor ilimitado e de número indeterminado, por isso queremos acreditar que vamos estar sempre disponíveis para viver esta missão por muitos anos e acolher muitos bebés e crianças. Mas acho importante passar primeiro por esta transição. Devemos ser realistas: nem todas as fases da nossa vida nos permitem acolher esta missão”.
Uma medida de proteção
Este e outros casos de Acolhimento Familiar resultam, primeiramente, de uma medida de proteção da criança, como explica Patrícia Bacelar, diretora do Núcleo de Acolhimento Familiar da Santa Casa.
“Oferece à criança um ambiente seguro, estável e afetivo, enquanto as equipas técnicas avaliam a capacidade real da família de origem e exploram toda a rede familiar alargada. Durante este período, são assegurados direitos essenciais da criança: proteção, saúde, estabilidade, educação, vínculo familiar, participação e projeto de vida. Quando esgotadas todas as possibilidades de retorno à família de origem, o projeto de vida contempla uma resposta familiar permanente, sempre centrada no superior interesse da criança”, assegura.
Para esta responsável da Misericórdia de Lisboa, o caso deste bebé é um exemplo de alguém que encontrou nesta Família de Acolhimento “um espaço para crescer e construir o seu futuro com dignidade, num caso que demonstra como o acolhimento protege, avalia e transforma vidas”.
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