Saber que os filhos ficam em boas mãos! Há algo mais importante para pais de crianças em tenra idade? Não, não há, e isto torna-se ainda mais relevante durante uma pandemia.
Também por esta razão, o Centro de Acolhimento Infantil Victor Manoel (CAI), também conhecido por Vítor Manuel, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, abriu portas para filhos e dependentes de trabalhadores que assegurem serviços essenciais para a comunidade. É uma das sete creches que estão abertas no concelho de Lisboa e, neste momento, acolhe 18 crianças, nove em creche e nove em jardim-de-infância.
Mães e pais que não podem parar
Ricardo Rodrigues, 43 anos, diretor do Centro de Capacitação D. Carlos I, da Misericórdia de Lisboa – destinado a jovens com deficiência intelectual ligeira e moderada -, é um dos pais que não pode estar em teletrabalho. Para poder assegurar as suas funções, Ricardo encontrou no CAI Victor Manoel a resposta para onde deixar os seus filhos, o Dinis, de três anos, e a Margarida, com um ano.
“Esta resposta é absolutamente essencial, porque nos permite fazer o nosso trabalho. Não foi uma decisão difícil, porque tínhamos óptimas referências”, sublinha, acrescentando que a adaptação dos filhos à nova realidade foi “surpreendente” e que os encontra “satisfeitos e felizes”.
Ricardo lembra que a rede familiar nunca foi equacionada por causa da idade dos avós e que, se não existissem respostas como esta, muitas funções estariam comprometidas, concluiu.
Os argumentos repetem-se entre os trabalhadores de serviços essenciais que recorreram a esta resposta: ou não há suporte familiar ou então o suporte não é hipótese, pelos riscos do contacto entre gerações mais novas e mais velhas.
É caso de Belinda Dias, 33 anos, técnica de laboratório no setor alimentar, que admite que não tinha solução para o seu filho, Kilian, de oito meses. Sem suporte familiar, “provavelmente teria que ficar em casa a tomar conta do meu filho”, nota.
A técnica de laboratório diz, sorridente, que a adaptação correu bem e que fica “descansada” quando entrega o seu filho. “Ele é recebido com um sorriso e vai tranquilo para casa”, afirma, emocionada.
Já Nadine Bernardino, 28 anos, é agente da Guarda Nacional Republicana, em serviço no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Alcântara. É mais um caso de um trabalhador de serviços essenciais que não poderia desempenhar as suas funções se o CAI Victor Manoel não estivesse aberto. A agente reconhece que, no início, estava inquieta pela adaptação da Carolina, a sua filha de nove meses. Mas ao fim de alguns dias, o receio desta mãe foi substituído por confiança e satisfação. Agora, mãe e filha entram e saem daqui contentes.
“Esta ajuda é essencial para mim”, diz Odália Mariano, de 35 anos, ajudante familiar na UDIP Madredeus, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. “Os primeiros dias custam sempre um bocadinho, mas agora fico com o coração muito descansado”, recorda a brasileira, há 11 anos em Portugal.
Sem suporte familiar, a funcionária relata, comovida, que a sua filha, Letícia, de 2 anos, “adaptou-se bem e gosta de estar aqui”.
Elsa Evangelista, 51 anos, diretora do CAI Victor Manoel, colaboradora da Misericórdia de Lisboa há 25 anos, sublinha que o mais importante para as crianças, nesta altura, é assegurar o seu bem-estar físico e emocional, o desenvolvimento e a aprendizagem num ambiente tranquilo e confortável e, ao mesmo tempo, garantir que os pais possam continuar a exercer as suas funções.
A diretora não esconde a satisfação por estar a cumprir a missão original do Centro de Acolhimento Victor Manoel, fundado pela Rainha D. Maria Pia de Saboia, em 1878. Uma das missões da instituição é, exatamente, proporcionar bem-estar às famílias e às crianças”, recorda, frisando que “é bom observar que as famílias e as crianças se adaptaram bem” a esta nova realidade.
História
A Rainha D. Maria Pia de Saboia, casada com o Rei D. Luís, mandou construir uma creche na Calçada da Tapada, em 1878. Esta creche destinava-se a recolher e tratar de crianças com menos de quatro anos, cujas mães trabalhavam fora de casa. Recebeu o nome de Victor Manoel, em memória do pai da Rainha, o Rei de Itália, Victor Manoel.
A 14 de dezembro de 1930, a instituição foi legada à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, tendo sido, nessa altura, acrescentado um lactário, um dispensário médico e um farmacêutico.