Ao entrar na Terra da Magia, cada aluno (perdão), cada mago é convidado a resolver desafios que encontra no seu Grande Livro da Magia, ganhando forças elementais, talismãs e criaturas fantásticas. Parece um qualquer jogo para crianças e jovens, mas é muito mais do que isso. É uma ferramenta de aprendizagem que combate o desinteresse dos alunos pelas aulas, ajudando crianças e professores.
“Virar a página” do ensino tradicional
O “Magos” utiliza a gamificação (ou ludificação) e a tecnologia para transformar a sala de aula num ambiente de aprendizagem mais autónomo, colaborativo e motivador, 100% imerso numa narrativa fantástica. Com a utilização deste jogo na sala de aula do 1.º ciclo, todos os alunos têm percursos de aprendizagem ajustados ao seu perfil e alinhados com o currículo de Língua Portuguesa. Além disso, os professores ficam mais livres para responder às necessidades dos diferentes alunos e apoiar o seu progresso.
O projeto foi lançado no ano letivo de 2020/21 com o propósito de desenvolver uma ferramenta digital inovadora para sala de aula. Os resultados alcançados no primeiro ano foram bastante promissores, levando a Spot Games – startup incubada na Casa do Impacto, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa -, a preparar a disseminação desta solução a um número mais alargado de escolas.
O projeto piloto foi implementado nos agrupamentos de escolas do Alto do Lumiar e das Olaias. Neste âmbito, Sérgio Cintra, administrador da Ação Social da Santa Casa, Inês Sequeira, diretora da Casa do Impacto, e representantes do Banco Montepio, da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social e da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo visitaram a “GameZone Lisboa, no Agrupamento de Escolas do Alto do Lumiar, na passada terça-feira, 31 de maio, com o objetivo de assistir à utilização, na sala de aula, do “Magos” e ouvir o testemunho de professores e alunos.
Muito mais do que um jogo, uma ferramenta de aprendizagem
Sérgio Cintra defendeu que “a vocação primária da Santa Casa é ser um investidor social. Nesse sentido, em conjunto com os parceiros, temos que aumentar a capacitação dos mais jovens. Esta ferramenta é uma forma de combater o insucesso escolar e, simultaneamente, de melhorar a aprendizagem. Espero que este projeto possa ser adotado no território nacional”.
Rita Borges, adjunta da diretora do Agrupamento de Escolas do Alto do Lumiar, lembra que “o agrupamento tem oito turmas de 4º ano a trabalhar no projeto. Umas fazem sessões quase diárias, outras fazem sessões semanais, depende muito da necessidade que o professor identificar para cada caso”.
A responsável pelo Agrupamento de Escolas do Alto do Lumiar está satisfeita com o projeto: “os alunos estão muito motivados, estão sempre dispostos a jogar. Fazem imensos exercícios, escondidos neste mundo de magia. Ou seja, fazem exercícios de língua portuguesa disfarçados num jogo. Algo que, normalmente, no livro [tradicional] não iriam fazer porque é uma chatice – e nesta plataforma é muito fácil de resolver”.
O jogo ajuda diferentes alunos a desenvolver competências. Começa com um diagnóstico e adapta-se às necessidades de cada um. É um fato à medida. Dando o exemplo de uma turma de 4º ano, com oito alunos com necessidades educativas especiais e um com autismo, Rita Borges destaca que é muito difícil um professor chegar a todos e ajudar na sua evolução. O jogo permite que todos tenham a atenção que precisam naquele período de uma hora, direcionada de acordo com as capacidades de cada um”.
Para Francisco Miranda, cofundador da Spot Games, este jogo “é um instrumento para o professor motivar os alunos, independente do seu contexto, através de ferramentas em suporte físico (livro) e digital (jogo). O ‘Magos’ consegue trazer a fantasia para a sala de aula, sem que eles se apercebam que estão a aprender. Criar impacto, melhorar os resultados e as competências dos alunos é um dos objetivos desta ferramenta”. E continua: “O sonho é ter o ‘Magos’ em cada escola e em cada turma, pelo país fora”, finaliza Francisco.
Por outro lado, Inês Sequeira afirma que “o objetivo deste jogo é que as crianças, através do jogo, consigam criar mais competências. A ferramenta desenvolvida foca-se bastante na questão da manutenção da motivação dos alunos”. Na sala de aula, a diretora da Casa do Impacto ficou “muito impressionada” com o que viu. “Estavam concentrados e interessados em cumprir objetivos”, observa.
Spot Games
Criar impacto em escolas de intervenção prioritária, onde o absentismo, o abandono e o fraco aproveitamento são a regra, foi o primeiro objetivo de Francisco Miranda, engenheiro industrial, e Joana Lopes, psicomotricista, para criarem a Spot Games. Depois da passagem pelo Rise for Impact, a startup desenhou o “Gamezone Lisboa”, que tem como principal objetivo mitigar o défice de competências de português e matemática de alunos com baixo estatuto socioecónomico. Este projeto recebeu, em 2021, investimento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa/Casa do Impacto através de um título de impacto social, no âmbito da iniciativa “Projetos de Impacto”.