O Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos comemorou 62 anos nesta segunda-feira, abrindo as portas à sociedade civil para dar a conhecer o seu trabalho em prol das pessoas com deficiência visual.
Sob a liderança de Isabel Pargana, o centro tem sido um farol de esperança e transformação para muitos que ali passam. Para marcar esta ocasião especial foi organizado um dia de portas abertas, em que a comunidade pôde conhecer de perto o trabalho ímpar desta resposta da Santa Casa.
Logo na recepção, os visitantes foram recebidos na zona do ginásio, onde duas atividades estavam em pleno andamento, ambas focadas na ação motora adaptada, com um dos programas a envolver o uso de uma única cadeira, promovendo a mobilidade e o condicionamento físico.
O percurso pelo centro foi pensado não só para dar a conhecer a sua história – uma rica história -, como também para proporcionar experiências diferentes. E todas as salas estavam ‘equipadas’ com um QR Code, para que se percebesse o que cada uma tinha para mostrar.
Depois do ginásio, seguia-se uma sala dedicada ao legado do edifício e do próprio centro, acompanhada de um vídeo explicativo sobre o programa de reabilitação para adultos.
A sala de braille proporcionava aos visitantes a oportunidade de experimentar este crucial sistema de leitura e escrita para pessoas cegas e a sala de informática destacava o jogo Uno, adaptado para ser jogado online. Já a sala de motricidade fina apresentava uma versão adaptada do tradicional jogo do galo, utilizando texturas diferentes para que as pessoas cegas também pudessem participar. Outra atividade educativa incluía a simulação da separação de caixas de medicamentos, essencial para a autonomia na gestão da saúde.
Um dos pontos altos do dia foi a “Aventura no Escuro”. Esta experiência imersiva simulava três ambientes distintos: um centro comercial, uma rua e um campo, todos completamente às escuras. Os participantes, vendados, navegavam por estes cenários, enfrentando obstáculos e ativando outros sentidos além da visão. Esta atividade oferecia uma perspetiva poderosa sobre os desafios diários enfrentados pelos utentes do centro.
Na copa, uma atividade gastronómica, também vendada, desafiava os visitantes a identificar alimentos sem o uso da visão, evocando sentimentos de desconforto e insegurança comuns para pessoas com deficiência visual. Já no andar superior, as demonstrações de competências sociais incluíam o reconhecimento de dinheiro, essencial para a independência financeira.
A sala de snoozle, com a sua atmosfera relaxante, era um oásis sensorial para crianças e adultos. Para as crianças, uma ferramenta de estimulação sensorial; para os adultos oferecia bem-estar e tranquilidade.
Atividades simples, como lavar os dentes ou combinar meias, eram apresentadas na sala de competências pessoais, destacando as habilidades diárias necessárias para a autonomia.
Na sala das crianças, um filme explicativo sobre o programa de estimulação sensorial na primeira infância captava a atenção dos visitantes, sublinhando a importância de maximizar o resíduo visual em crianças com baixa visão.
A jornada culminou na sala dos testemunhos, onde histórias inspiradoras foram contadas.
Foi o caso da tri-campeã mundial de surf Marta Paço, que abriu o ciclo com a partilha da sua experiência e do apoio recebido do centro. Do centro, e não só: da família, em especial da mãe (também presente), que nunca a impediram de levar avante os seus desejos, por mais ousados que fossem. Como o de vir estudar, sozinha, para Lisboa, ela que vivia numa aldeia em Viana do Castelo, e que nem imaginava como seria andar de metro ou de autocarro para se deslocar.
A celebração do 62.º aniversário do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos foi mais do que uma comemoração. Foi uma demonstração inspiradora do impacto profundo e duradouro que o centro tem na vida de tantas pessoas. Foi um dia para celebrar a inclusão, a dedicação e a transformação contínua que este centro proporciona à comunidade.