Vanessa Carvalho, animadora sociocultural do Centro Social Polivalente do Bairro das Furnas da Santa Casa, orientava cada passo com cuidado e carinho. “Cuidado, agarra-te só ao corrimão, Quina. Agarra-te aqui ao corrimão, deste lado. Olha que a passarela tem areia”, alertava, enquanto ajudava uma das utentes a chegar em segurança até à areia.
As aventureiras desta tarde são D. Quina, D. Ana Cristina, D. Georgete e D. Alda, acompanhadas por Rosa, auxiliar, e Célia, monitora. O mar está bravo, bandeira amarela hasteada, mas isso não impede que o Tiralô deslize pela areia, oferecendo à D. Alda, com os seus admiráveis 93 anos, a sensação de liberdade que só o verão pode dar. “Ela traz fato de banho e tudo”, comenta Vanessa, a rir.
Mas o que é, afinal, o Tiralô? “É uma espécie de triciclo que funciona quer na areia, quer na água. Na água, flutua e a pessoa que tem pouca mobilidade consegue permanecer em cima dele sem perder o pé”, explica Vanessa. E porque é importante? “Porque, sendo simples, é inovador e poderoso. Permite que pessoas com mobilidade reduzida possam desfrutar da praia, da areia e da água.”
Cabe à D. Alda fazer as honras de estreia do triciclo, com humor: “Quer coisa mais fina do que esta?”, brinca, enquanto é ajudada por Rafael e Carolina, os ‘marezinhas’, os jovens voluntários formados para apoiar utentes com mobilidade reduzida. Apesar do entusiasmo, confessava que não queria enfrentar o mar, endiabrado naquele dia de bandeira amarela. O respeito pelo oceano mantinha-a na segurança da beira da praia.
“Sabe muito bem vir aqui. Tão bom”, diz a D. Ana Cristina, enquanto molha os pés na água fria. Já a D. Georgete confessa: “Em determinada altura dei os meus fatos de banho todos, a achar que não voltaria a usá-los. Afinal, agora faziam-me falta. Mas eu arranjei uma ‘vestimenta’ para vir.”
Vanessa explica que esta vinda à praia é sempre feita com um grupo de utentes mais reduzido, três ou quatro pessoas, “para que consigamos dar apoio a toda a gente. É uma atividade que implica maior atenção, mas é também uma das mais gratificantes.” Esta não é a primeira vez que o grupo visita a praia. A iniciativa acontece sempre que as condições climáticas permitem, e já se tornou um momento esperado por muitas utentes.
A água do mar estava fria, mas bastou molhar os pés para que o prazer da experiência fosse sentido. Afinal, para aquelas mulheres, o conforto das espreguiçadeiras, o estar novamente na praia, sentir a areia e ouvir o barulho das ondas foi mais do que suficiente: foi um pedaço de liberdade.