Quem na manhã de domingo, 3 de junho, passou pela baixa pombalina, foi certamente impactado com a “onda” verde composta por milhares de cicloturistas, em família, entre amigos ou sozinhos, envergando a camisola com as cores de um dos principais patrocionadores do WBT, os Jogos Santa Casa.
Um percurso de cerca de dezanove quilómetros, com partida na Praça do Comércio e chegada junto à Praia da Torre, em Oeiras.
Quem também não faltou à festa foram os jovens de várias casas de autonomia da Santa Casa, os utentes do Centro de Medicina e Reabilitação do Alcoitão (CMRA) e da Associação Salvador, a convite dos Jogos Santa Casa.
Pedro Fernandes é um desses jovens. Já veterano nestas andanças, o jovem de 19 anos assume que “sempre que perguntam se quero ir a estas atividades, a minha resposta é positiva”.
“Este é o meu terceiro ano consecutivo no WBT. É uma iniciativa que adoro e que permite conhecer mais jovens como eu, e desenvolver amizades para lá do passeio”, frisa.
Habituado a deslocar-se por Lisboa em duas rodas, desta vez o jovem quer apenas desfrutar do passeio e acredita que o melhor do WBT “é o sentimento de amizade que se respira no ar”.
Na edição do ano passado, tudo correu bem. Chegou a Oeiras disposto para percorrer mais vinte quilómetros, se fosse necessário. Este ano, admite que as “pernas já não são o mesmo”, mas que “com vontade”, volta novamente para Lisboa de bicicleta.
Opinião partilhada por Leonardo Jesus, também ele acompanhado pela Misericórdia de Lisboa, e um estreante no passeio. “Vim com o meu colega de casa. Sei que isto não é uma corrida, mas já temos uma aposta feita”, revela.
Já na linha de partida, os 16 jovens que representaram a direção de Infância e Juventude (DIIJ) da Santa Casa, foram para as respetivas bicicletas e, entre sorrisos e alguma expetativa, a rivalidade saudável entre eles foi aumentando.
“O último a chegar a Oeiras tem de lavar a loiça durante uma semana”, exclamava Leonardo para os colegas de casa, enquanto ajeitava o capacete e sentia pela primeira vez o pulso da sua bicicleta. Mas, como bom desafio que foi, a resposta veio logo a seguir e com a aposta a aumentar: “Quem ganhar para além da loiça, tem de fazer o jantar, durante um mês”, retorquiu Miguel, enquanto dava os últimos retoques à sua bike tour.
Já perto das 12h, o sinal de partida foi dado pela organização do evento. Os dois jovens foram os primeiros a sair do espaço e rapidamente fizeram-se à estrada. Entre vários despiques e paragens para hidratar, os dois amigos foram os primeiros, dos 16 jovens da Santa Casa, a cortar a meta.
No final a opinião de ambos é que não houve nem vencidos, nem vencedores. “Ganhámos os dois. Foi giro e caso queiram novamente um ciclista experiente como eu para vencer a prova, podem contar comigo”, disse Leonardo.
Para Mário Martins, técnico da DIIJ, eventos como o WBT são “uma forma de fomentar não só a prática desportiva aos nossos jovens, mas também de passar-lhes alguns valores inerentes a qualquer desporto, como o companheirismo e o respeito”, concluindo ainda que “é sempre bom quando existe a oportunidade de eles participarem neste tipo de atividades”.
“A minha maior motivação é a minha filha”
Um dos aspetos deste evento, para além da promoção da prática desportiva, é o fator da inclusão. À semelhança das edições anteriores, vários utentes do CMRA e da Associação Salvador, integraram o “pelotão pela inclusão” do World Bike Tour.
Alinhado na linha de partida, Igor Raevski, antigo utente do CMRA e mentor de acessibilidades, na Associação Salvador, está radiante. Acompanhado por outros colegas do CMRA e da associação, Igor relembra que o desporto “é uma parte fundamental da minha vida”.
Aos 33 anos, Igor, nascido na Moldávia e morador em Portugal desde 2004, faz questão de salientar que a sua maior motivação é a filha. “Só paro quando estou com a minha filha. A minha maior motivação é a minha filha. Ela é a minha maior alegria”, conta visivelmente emocionado.
“Esta prova não vai ser fácil. Tenho noção de que vai exigir esforço. Vou tentar fazer o percurso todo, não sei se consigo porque o acidente deixou-me com o diafragma bastante afetado, mas quero terminar”, realça Igor.