O Hospital Ortopédico de Sant’Ana, localizado na marginal que une Lisboa a Cascais, mais concretamente na Parede, é uma referência na área da ortopedia e traumatologia. Este equipamento da Misericórdia de Lisboa nasceu como Sanatório de Sant’Anna, há já 120 anos, através da vontade do casal Amélia e Frederico Biester, sendo hoje uma unidade de saúde com uma notável reputação nacional e internacional.
A sua longa fachada, paralela à Avenida Marginal, revela o gosto eclético da arquitetura portuguesa do início do século XX, ao qual se alia uma profunda capacidade funcional, bem expressa na articulação de espaços, serviços e equipamentos.
A iniciativa para a sua construção partiu do casal filantropo Amélia e Frederico Biester, sendo depois sucedidos por Claudina Chamiço. Donos de uma avultada fortuna, sem filhos e afetados pela morte de familiares com tuberculose, abraçaram o desafio do médico e amigo da família, Dr. Sousa Martins, de construir um sanatório para as crianças desfavorecidas.
Em 1899, e já com o projeto dos arquitetos Rosendo Carvalheira, Álvaro Machado, Couto Abreu, Norte Júnior e Marques Silva autorizado pela Câmara de Cascais, uma sucessão de acontecimentos trágicos, mais concretamente a morte prematura da quase totalidade dos seus mentores, ia comprometendo o início da obra. Ainda assim, foi lançada a primeira pedra em 1901 e, a 31 de julho de 1904, o edifício é inaugurado, não pelo casal, mas pela herdeira da fortuna dos Biester, Claudina de Freitas Guimarães Chamiço.
O sanatório surge na época como uma unidade hospitalar modelo, especializada no combate e prevenção da tuberculose óssea e destinada a acolher sessenta crianças do sexo feminino e quarenta adultos, vinte homens com complicações cardiovasculares e vinte mulheres com problemas cancerígenos.
Para a prossecução deste propósito, a fundadora contou com o apoio das irmãs de S. Vicente de Paulo, sendo estas substituídas, em 1910, pelas irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena e um capelão, ficando com residência permanente numa área distinta, no piso superior do edifício principal.
Por vontade expressa no testamento de Claudina Chamiço, e após a sua morte, em 1913, o sanatório passa a ser gerido por uma comissão de administração composta por sete elementos: o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. António Mendes Belo (como presidente não executivo); o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o Conselheiro Augusto Pereira de Miranda (como tesoureiro); um familiar dos herdeiros, António José de Carvalho (na altura o marido da sobrinha de Claudina Chamiço); um membro representante da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa e mais três membros escolhidos pelo Cardeal. A dificuldade financeira sentida por esta comissão determinou que a instituição assumisse a administração do espaço em 1927.
Em 1956, é idealizado o projeto de realização de um Centro de Recuperação de Incapacitados Motores, que passa a ser designado por Centro de Reabilitação de Diminuídos Motores. É só em 1961, e por despacho governamental, que o sanatório ganha identidade jurídica como hospital central, passando a denominar-se Hospital Ortopédico de Sant’Ana.
120 anos a cuidar de quem mais precisa
Desde então, o hospital promoveu várias especialidades e iniciativas pioneiras, que passaram pela criação, formação e especialização de equipas multiprofissionais, como ortopedistas, anestesiologistas, fisiatras, enfermeiras, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e técnicos ortoprotésicos.
Na viragem do milénio, o Hospital Ortopédico de Sant’Ana inicia um processo de modernização e atualização tecnológica, com a criação e remodelação de novos espaços do complexo.
Em 2014, é lançada a primeira pedra de um novo edifício hospitalar, que acaba por ser inaugurado em 2018. Esta unidade conta com uma área total de construção de mais de 6.000 m², um bloco operatório com 4 salas, 60 camas de internamento, uma unidade de cirurgia ambulatória e uma central de esterilização.
Em 2020, em plena pandemia da covid-19, o Hospital de Sant’Ana reinventa-se, prontificando-se a apoiar e complementar a resposta do Serviço Nacional de Saúde. Através do protocolo estabelecido com o Hospital S. Francisco Xavier, o HOSA passou a assegurar a totalidade do serviço de Traumatologia Ortopédica Cirúrgica de S. Francisco e recebeu doentes com teste covid-19 negativo para os respetivos tratamentos e intervenções. Além disso, disponibilizou seis ventiladores para apoiar o SNS no tratamento de doentes em situações críticas.
No ano passado, e novamente sob a égide de ser um hospital ao serviço de todos, o HOSA inaugurou mais uma resposta de complementaridade ao SNS, com a disponibilização de dezenas de camas para acolher pessoas em situação de internamento social. Em pouco mais de meio ano, a Residência Temporária no Hospital Ortopédico de Sant’Ana já acolheu um total de 37 utentes, permitindo libertar camas essenciais para o Serviço Nacional de Saúde.
Mais recentemente, o Hospital Ortopédico de Sant’Ana dá mais um passo, desta vez digital. Em abril de 2024, lança um novo website, dinâmico, moderno e inclusivo, onde os utilizadores podem fazer diretamente a marcação de consultas e exames, consultar todas as informações úteis sobre os serviços prestados, bem como as mais recentes notícias do “universo” Saúde Santa Casa.
Com todo este percurso, é fácil perceber o porquê do Hospital de Sant´Ana continuar a ser, 120 anos depois, uma referência a nível nacional e internacional.