A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), em parceria com a Câmara Municipal de Oeiras, organizou, mais uma vez, um encontro dedicado ao Acolhimento Familiar, medida aplicada quando uma criança ou jovem que se encontre em situação de perigo não pode permanecer junto da sua família de origem.
O dia começou com o Provedor da SCML, Paulo Sousa, a lembrar que a instituição é pioneira, por ser a mais antiga no mundo a dedicar-se ao acolhimento de crianças. “São mais de 500 anos de compromisso com as melhores práticas na proteção e cuidado dos mais jovens, num referencial de atuação voltada para o bem-estar infantil”.
Com a missão de cuidar das crianças, a SCML assumiu um papel fundamental na transformação do acolhimento familiar numa prioridade nas políticas de infância e juventude em Portugal. “Lançámos, em 2019, o programa ‘LX Acolhe’, um projeto inovador cuja missão é integrar e apoiar famílias de acolhimento na região de Lisboa. Antes deste programa, não havia famílias de acolhimento nesta geografia. Hoje, mais de 170 crianças e jovens já foram acolhidos por cerca de 100 famílias, numa mudança significativa que reafirma o compromisso da SCML com a sociedade”, lembrou o Provedor.
“O caminho ainda é longo. Mas pretendemos que, até 2030, 90% das crianças e jovens com menos de 12 anos sejam colocados em famílias de acolhimento, o que exigirá da nossa parte um investimento ainda maior na rede de apoio, continuando a contar, para tal, com a parceria que desenvolvemos em 2020 com a ProChild Colab, no sentido de desenvolvermos um modelo integrado de acolhimento familiar”, concluiu Paulo Sousa.
Durante o dia, o seminário trouxe uma vasta troca de experiências e boas práticas, no sentido de alertar a sociedade para a importância do Acolhimento Familiar. Vários especialistas discutiram a intervenção e o papel das instituições nesta área, os benefícios desta abordagem para a saúde mental das crianças e as estratégias adotadas.
“São dois braços, são dois braços. Servem para dar um abraço” – (Canção dos abraços, Sérgio Godinho)
Um dos momentos mais impactantes do encontro foi o dos testemunhos de duas famílias de acolhimento presentes, que contaram, na primeira pessoas, a experiência de acolherem “um filho que não era, mas que passou a ser”.
Mas o que é isto de ser família de acolhimento? O que é isto de receber uma criança e depois deixá-la ir? Estas foram as perguntas que mais ouviram dos amigos e familiares quando decidiram acolher uma criança em suas casas, contou ‘Filipa’ (nome fictício). “Tivemos quase um ano de formação, para podermos estar bem preparados. Mas o que recebemos com esta experiência não se descreve em palavras. Foi “amor”, sublinha.
Patrícia Bacelar, Diretora do Núcleo de Acolhimento Familiar da SCML, tentou traduzir em que consiste esta experiência, utilizando uma canção de Sérgio Godinho: “São dois braços para dar um abraço. Estas crianças vêm de famílias que viveram situações muito difíceis. Numa família de acolhimento recebem o carinho, a atenção e a segurança que desconheciam”.
Atualmente, no âmbito das competências atribuídas à SCML, o programa LxAcolhe atua na Grande Lisboa (Amadora, Cascais, Loures, Lisboa, Oeiras, Odivelas, Sintra e Vila Franca de Xira) e, neste seguimento, em estreita articulação com os Núcleos de Infância e Juventude, têm sido desenvolvidas várias iniciativas de divulgação local. A Câmara Municipal de Oeiras tem sido uma autarquia impulsionadora na divulgação do Acolhimento Familiar e na implementação da medida, e associou-se à SCML para realizar eventos que correspondessem à necessidade de recrutamento de famílias de acolhimento em número, diversidade e qualidade para responder às necessidades das crianças e jovens que necessitam de ser acolhidos.