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Valor T, há um ano a incluir pessoas com deficiência no mercado de trabalho: “Ter conseguido um emprego é uma conquista”

Ângelo Pereira dá por ele a olhar em redor. Observa o entra e sai dos clientes da loja Stradivarius, no centro comercial UBBO (Amadora), e a forma cuidadosa como aqueles que serão os seus novos colegas de trabalho manuseiam as roupas. Quando Ângelo Pereira recebeu um telefonema da Valor T , não esperava que do outro lado da linha fosse anunciada a oportunidade que tanto queria. A técnica da agência de empregabilidade para pessoas com deficiência da Misericórdia de Lisboa indicava que era chegada a hora de o jovem regressar ao mercado de trabalho.

Para trás ficam os corredores do Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto, local onde Ângelo trabalhou como assistente técnico entre agosto de 2020 e julho de 2021. Naquela unidade de saúde, não existia nada no departamento de logística que não passasse pelas suas mãos. A gestão de stocks e o armazenamento de materiais eram parte das suas tarefas diárias. Foram também essas competências que fizeram com que o Grupo INDITEX avançasse para a sua contratação. O dia 29 de abril marca, assim, o primeiro dia de Ângelo como funcionário da Stradivarius, uma das marcas deste grupo empresarial.

Aos 22 anos, o currículo de Ângelo também se faz de dois estágios curriculares em informática. A paixão pelos computadores apareceu quase como necessidade, como uma área capaz de responder às dificuldades que a paralisia cerebral impõe. “Devido à dificuldade que tenho no lado direito do corpo, aconselharam-me a seguir informática. Fiz dois estágios na área, que me permitiram adquirir conhecimentos de programação e até de atendimento ao público”, conta sem esquecer que desde muito novo que “ambicionava trabalhar na área de multimédia”, mas que a paralisia cerebral obrigou-o a abandonar o sonho.

Como integrar pessoas com deficiência no mercado de trabalho? Este “Toolkit” esclarece

Sobre um país que apresenta “números alarmantes” no que à integração de pessoas com deficiência no mercado de trabalho diz respeito”, Sérgio Cintra não tem dúvidas: “é determinante que as organizações definam estratégias na promoção da inclusão”. O administrador executivo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa foi o responsável por inaugurar a sessão de apresentação do “Toolkit: “Como recrutar e integrar pessoas com deficiência”, que decorreu esta terça-feira, em formato online.

“Temos o dever de promover a igualdade de oportunidades, valorizar as competências e os talentos das pessoas com deficiência. É determinante que as organizações definam estratégias para a promoção da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, mas também na sua manutenção”, considera Sérgio Cintra, realçando que este “Toolkit” surge como “forma de vencer estas barreiras e de ajudar as empresas a serem mais inclusivas”.

É isso mesmo que o “Toolkit”, a cargo do GRACE – Empresas Responsáveis, pretende ser: um instrumento capaz de inspirar e incentivar a construção de programas de emprego inclusivos e com resultados sustentáveis, disponibilizando aos gestores e colaboradores das empresas um conjunto de ferramentas necessárias para a integração de pessoas com deficiência nas suas fileiras.

O “Toolkit” junta o saber dos melhores guias internacionais e da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, e espelha de forma prática a experiência acumulada de várias empresas associadas GRACE. É a partir deste conjunto de experiências que se constrói este “kit de ferramentas”, dividido em cinco eixos: assumir o compromisso estratégico; preparar a ação; recrutar e selecionar; acolher e integrar; desenvolver relações duráveis. As cinco etapas estão descritas no guia prático para gestores e colaboradores das empresas.

 “Temos muito trabalho pela frente”

Para Sérgio Cintra, existem alguns indicadores que devem ser alvo de reflexão. Se, por um lado, os dados identificam os avanços que “conseguimos realizar”, por outro mostram que ainda há muito por fazer, o que para o administrador executivo da Santa Casa “evidencia a vulnerabilidade estrutural neste conjunto de cidadãos no acesso ao emprego”.

Tal como adiantou durante a sessão online, com recurso a dados do Eurobarómetro, 58% dos portugueses considera que no nosso país é comum, ou muito frequente, a ocorrência de situações de discriminação com base na deficiência: 61% dos inquiridos acreditam que, em Portugal, ter uma deficiência pode desfavorecer os candidatos no acesso ao emprego, mesmo que tenham competências ou qualificações equivalentes ou superiores.

As pessoas com deficiência representam cerca de 15% da população mundial. Em Portugal, apesar de alguns sinais positivos e de algumas empresas já terem adotado boas práticas de inclusão, permanecem fatores que restringem o acesso das pessoas com deficiência ao mercado de trabalho.

O problema parece ter sido agravado devido à pandemia de Covid-19.  Segundo o Relatório “Pessoas com Deficiência em Portugal – Indicadores de Direitos Humanos 2020”, em junho de 2020 existiam 13.270 pessoas com deficiência inscritas como desempregadas no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), registando-se um aumento de 10% face aos dados globais de 2019 (12.027 inscritos).

A promoção do crescimento económico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos, são propósitos inscritos nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Até 2030, a Organização pretende alcançar o “emprego pleno e produtivo, trabalho decente para todas as mulheres e homens, inclusive para os jovens e as pessoas com deficiência, e remuneração igual para trabalho de igual valor”.

“Um mundo inclusivo e acessível”. O papel do emprego na integração de pessoas com deficiência

Temos de ser capazes de “entender que todas as pessoas têm o direito de aceder a oportunidades de trabalho” e que esta é uma “questão de cidadania”. Hoje, mais do que nunca, há condições para “todos fazermos melhor”, realçou o provedor da Misericórdia de Lisboa, Edmundo Martinho, esta sexta-feira, na sessão que encerrou as Comemorações do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência 2020, organizadas pelo Instituto Nacional para a Reabilitação (INR).

A iniciativa do INR centrou-se no tema “Construindo Melhor: em direção a um mundo pós-Covid-19 inclusivo, acessível e sustentável”, proposto pela Organização das Nações Unidas para o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, assinalado a 3 de dezembro.

Na opinião de Edmundo Martinho, a pandemia trouxe alguns constrangimentos, ao agravar as condições que já eram más. “Já vínhamos de uma situação, modo geral, de muito afastamento das pessoas com deficiência do mercado de trabalho, de uma situação em que as oportunidades escasseavam”, refere.

Durante a mesa redonda dedicada ao tema “A qualificação e empregabilidade de pessoas com deficiência”, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa destacou que a forma como o Governo tem vindo a assumir “esta prioridade [da empregabilidade das pessoas com deficiência] deixa-nos cheios de esperança e expetativa”.

Valor T: a plataforma que quer transformar o acesso ao emprego

A Santa Casa tem em curso uma iniciativa que vai dedicar-se, exclusivamente, a colocar pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Trata-se da plataforma Valor T – o “T” traduz-se em talento e transformação – que pretende ajudar, apoiar e suportar pessoas com deficiência na construção de carreiras profissionais estáveis e adequadas às capacidades que cada um.

“A Valor T nasce de uma constatação de que havia uma dimensão que continuava a ser muito frágil, que tinha que ver com a capacitação e empregabilidade das pessoas com deficiência. Aquilo a que assistíamos eram números que nos deveriam fazer pensar que, provavelmente, teríamos de encontrar aqui formas mais robustas e dedicadas a um assunto com esta relevância”, explica Edmundo Martinho, apontando o lançamento do projeto para o início de 2021.

A plataforma permitirá apoiar pessoas na construção de currículos e na submissão de candidaturas a oportunidades de trabalho. O provedor destaca ainda que a Valor T terá “uma atitude de grande proatividade”, com equipas da Santa Casa a trabalharem, diariamente, na aproximação ativa entre empregador e candidato.

Diversas especialidades médicas e cirúrgicas

Programas de saúde e cuidados de saúde ao domicílio

Unidades da rede nacional

Prestação de apoio psicológico e psicoterapêutico

Aluguer de frações habitacionais, não habitacionais e para jovens

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Programação e atividades Cultura Santa Casa

Incubação, mentoria e open calls

Anúncios de emprego da Santa Casa

Empregabilidade ao serviço das pessoas com deficiência

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Ensino superior e formação profissional

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