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“Nunca é tarde para pedir ajuda e recomeçar a vida”. Uma história feita de esperança

Esta quinta-feira, 25 de novembro, assinala-se o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. A data lembra que este é um problema que diz respeito a todos. Os números são assustadores: vinte e três mulheres foram assassinadas entre janeiro e 15 de novembro deste ano, 13 das quais no contexto de relações de intimidade, segundo os dados divulgados esta semana, no Porto, pelo Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA).

De um conto de fadas a um pesadelo

Mais do que números, esta reportagem conta a história de Esperança (nome fictício), natural de Marrocos. Há cerca de 11 anos apaixonou-se por um português e com ele veio para Portugal. Durante quase uma hora, num tom emotivo, explicou como um conto de fadas se tornou num pesadelo, e como se reergueu com o auxílio da Casa de Apoio Maria Lamas, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

“Eu gostava muito dele. Vivi uma história de amor. Os primeiros tempos foram ótimos, tratava-me bem. Era um sonho”, conta. Depois de alguns meses e aos poucos, começaram os problemas. No início eram coisas pequenas, às quais não deu importância: “dizia-me que a casa não estava limpa ou fazia observações em relação ao meu estado físico”.

As agressões físicas e verbais passaram a ser cada vez mais frequentes e com maior intensidade. À medida que o companheiro se tornava mais violento, Esperança começou a perder o brilho e a deixar de ter vontade própria. “Sentia que tinha casado para servir o meu marido. Sentia-me lixo. Aguentei porque gostava dele, pela minha família e pela minha cultura”, diz.

O seu caminho foi tortuoso, foram anos seguidos de maus-tratos psicológicos e físicos que deixaram marcas profundas. Cansada e sozinha, sofria em segredo. Não havia nome indigno que o seu companheiro não lhe chamasse, nem pedaço de corpo que não tivesse sido sovado. Um dia, em 2017, após de um episódio mais violento, Esperança tomou uma decisão: inspirou fundo, ganhou força, ligou para o 112 e começou uma vida nova. Depois de recebida por uma unidade de emergência, encontrou na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa um abrigo: a Casa de Apoio Maria Lamas.

Esta resposta, lançada em 2006 pela Misericórdia de Lisboa, tem como objetivo oferecer habitação protegida a mulheres (com ou sem filhos) que são vítimas de violência doméstica e que se encontram em perigo de vida.

O renascer

“Renasci na Casa Maria Lamas. Foi a melhor experiência da minha vida”, afirma, hoje, sorridente. Com razão e emoção, Esperança diz não ter palavras para descrever o trabalho e acompanhamento deste equipamento da Santa Casa.

Os primeiros tempos foram muito difíceis: “Eu só pensava que a minha vida tinha terminado. Eu fiquei sem personalidade, sem amor próprio, tinha medo de tudo”, recorda. Aos poucos, com a ajuda dos técnicos da Santa Casa, a marroquina reconstruiu a sua vida e ganhou autoestima. “Durante dois anos deram-me esperança, carinho, apoio psicológico, suporte social e formação profissional”, lembra. Ao fim de oito meses já estava a trabalhar, algo que a ajudou a encontrar outra motivação.

No entanto, Esperança deixa um alerta às mulheres que estão a passar por uma situação idêntica: “Nunca é tarde para pedir ajuda e recomeçar a vida. Não importa a idade, não importa o contexto. Não há nada mais importante do que a dignidade e a liberdade de cada uma de nós”, defende.

Esperança saiu da Casa Maria Lamas em 2019. Neste momento, trabalha e tem a sua casa. “Eu estava no fundo do poço e na Casa Maria Lamas recuperei a minha vida”, confessa. “Hoje, estou em paz, estou bem comigo e tenho muitos sonhos que quero realizar”, concluiu, emocionada.

Esperança - Casa Apoio Maria Lamas_2_a

Dar tempo e suporte. Reconstruir relações

Paula Passarinho, diretora da Casa de Apoio Maria Lamas, explica que “no geral, as famílias quando entram na nossa casa vêm assustadas, desconfiadas, confusas, sem saberem que casa é esta e angustiados pela sua casa de origem «ter ficado para trás». Ao mesmo tempo, ficam reconfortados por encontrar um espaço que lhes dá descanso, conforto, num momento tão difícil de crise familiar/psicológica”.

“A equipa está preparada e sensível para dar e devolver tempo a estas famílias”, considera. “Há muito para «arrumar» e é necessário tempo, colo e disponibilidade para poder fazer este caminho com as famílias. Permitir este tempo, ajuda a tranquilizar, refletir, organizar, planear e, acima de tudo, construir uma relação profissional de confiança, reparadora das inseguranças e medos que o passado lhe ensinou”, nota.

Paula Passarinho defende que a entrada numa casa abrigo “é um momento de viragem, de reinventar modos de viver, de estar e de pensar. Nas nossas mulheres, é um momento de reflexão, «pôr em causa», de revisão dos seus direitos legais, mas também afetivos. É uma oportunidade para viver em liberdade, para experimentar a autonomia, a decisão e o empoderamento, para sentir felicidade”.

Na opinião da responsável, a “força e o querer” de Esperança foram determinantes para que conseguisse abrir novas portas. Ao usar todas as ferramentas à sua disposição, a mulher que chegou sem autoestima transformou-se numa guerreira e num exemplo para todas as outras mulheres que recebem no equipamento da Santa Casa.

As mulheres agredidas não têm por hábito apresentar queixa à justiça. Receiam que as autoridades policiais não façam nada e que os companheiros descubram e as maltratem ainda mais. Os pedidos de ajuda podem ser feitos através das seguintes linhas de apoio: SMS 3060; 112; 800 202 148; Linha 144; ou junto da Polícia de Segurança Pública.

De referir que o Governo lançou esta semana uma nova campanha contra a violência doméstica. O objetivo da campanha #PortugalContraAViolência, que assinala este Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, 25 de novembro, e que tem como objetivos consolidar o sentido de responsabilidade coletiva, transmitir confiança a cada mulher, e à sociedade em geral, no combate a este crime, bem como promover as respostas e mecanismos de apoio às vítimas.

A Casa de Apoio Maria Lamas

A Casa de Apoio Maria Lamas (CAML) desde a sua abertura, em 2006, já acolheu cerca de 750 vítimas de violência doméstica entre mulheres e crianças. Neste momento, encontram-se no equipamento 13 utentes (sete mulheres vítimas de violência domésticas e seis crianças/jovens).

Esta resposta da Misericórdia de Lisboa, composta por uma equipa multidisciplinar, visa proporcionar acolhimento temporário e/ou de emergência a mulheres vítimas de violência doméstica, com ou sem filhos, que se encontrem numa situação de vitimização e de risco. Divide-se em dois apartamentos, geograficamente distantes que, em conjunto, podem receber sete famílias, com quartos e tamanhos ajustados ao número de elementos da família. O primeiro apartamento iniciou a sua atividade em junho de 2006. Já o segundo apartamento em junho de 2008.

É um serviço de carácter sigiloso e temporário e pretende ser um local acolhedor, seguro e confidencial que ofereça abrigo protegido e apoio nas áreas do serviço social, psicologia, educação social e jurídico às vítimas.

A permanência numa casa de abrigo tem um limite de seis meses, podendo ser prorrogada, por duas vezes, por mais seis meses, mediante a necessidade que a família apresente em manter-se nesta habitação protegida, ou porque a consolidação de uma autonomia financeira ou laboral ainda não permitiu a sua autonomização plena do agregado.

 

 

Super Laminhas: a história infantil que explica o que é uma casa de abrigo

“Olá, bem-vindo(a) à nossa casa! Eu sou o Super Laminhas e vou contar-te uma história! Era uma vez uma família de lamas, os Lamix, primos dos camelos, que tiveram que fugir da sua casa por não se sentirem felizes nem em segurança”. É assim que começa a obra que foi apresentada esta terça-feira à tarde, 31 de agosto, na Feira do Livro de Lisboa.

Com edição da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, “A história do Super Laminhas na Casa Maria Lamas” é uma obra infantil que relata as aventuras de uma família até ao momento em que a mesma foi para uma casa secreta, para se sentir em proteção e segurança. A autoria é de Emanuel Carvalho; Joana Magalhães; Mónica Brazão; Paula Dias e Paula Passarinho; a paginação e ilustração de Raquel Pinho e a revisão de Marta Rosa.

Os autores desta obra são os técnicos da Casa Maria Lamas, uma resposta da Misericórdia de Lisboa, que tem como objetivo oferecer habitação protegida a mulheres (com ou sem filhos) vítimas de violência doméstica e em perigo de vida.

Com diferentes valências, mas de forma multidisciplinar, os técnicos da Casa Maria Lamas apoiam e trabalham em conjunto com estas famílias, com o objetivo de conseguir que as mesmas reorganizem a sua vida, reconstruam a sua rede de suporte, para conseguirem viver de forma autónoma e em segurança.

Apaixonados pelo seu trabalho, os autores desta obra sentem-se “orgulhosos e felizes” pelo lançamento de um livro que será uma ferramenta de trabalho para crianças, mães e profissionais. Incentivados por Paula Dias, diretora da Casa Maria Lamas, começaram em 2020, fruto de “muito trabalho” e da “necessidade de criar um manual para crianças”, que pudesse explicar o que é uma casa de abrigo, como funciona e qual a importância para as suas vidas, contam Emanuel Carvalho, Joana Magalhães, Mónica Brazão e Paula Passarinho. O mais difícil foi concentrar a informação de uma forma “acessível e básica” para crianças, lembram.

De uma forma simples e clara, é explicado em que consiste a resposta de casa de abrigo, para apaziguar as crianças durante a etapa de acolhimento. Além de relatar o percurso da família Lamix, desde a entrada na Casa Maria Lamas até à etapa final (de autonomização), esta narrativa aborda alguns temas que podem ajudar os mais novos no processo de adaptação à casa de abrigo.

Uma obra que ajuda crianças e mães

De acordo com os autores, a entrada numa casa de abrigo é acompanhada de grande angústia, confusão, insegurança. Situação com a qual, muitas vezes, as próprias mães não conseguem entender, pois também elas vivem um momento de grande dificuldade, em que necessitam de um suporte externo à sua dor e ansiedade. Assim, “A história do Super Laminhas na Casa Maria Lamas” permite ajudar crianças e mães nesta fase das suas vidas: “quando a mãe lê o livro ao filho, ela própria está a absorver e a organizar a informação”, dizem os autores.

Cada caso é um caso e a resposta da equipa é ajustada à realidade da família. “Os primeiros tempos são muito difíceis para estas mulheres. Têm dificuldade em confiar, vêm muito fragilizadas, assustadas. Estas famílias, no seu ambiente natural, são sujeitas a uma enorme pressão psicológica e física”, revelam, acrescentando que não é necessário apresentar queixa para entrar numa casa de abrigo.

A Casa Maria Lamas

Esta resposta, lançada em 2006 pela Misericórdia de Lisboa, tem como objetivo oferecer habitação protegida a mulheres (com ou sem filhos) que são vítimas de violência doméstica e que se encontram em perigo de vida. Divide-se em dois apartamentos, geograficamente distantes que, em conjunto, podem receber sete famílias, com quartos e tamanhos ajustados ao número de elementos da família. O primeiro apartamento iniciou a sua atividade em junho de 2006. Já o segundo apartamento em junho de 2008.

A equipa técnica desta resposta social é composta por uma diretora, uma psicóloga, uma assistente social, uma educadora social e um jurista. A permanência numa casa de abrigo tem um limite de seis meses, podendo ser prorrogada, por duas vezes, por mais seis meses, mediante a necessidade que essa família apresente em manter-se nesta habitação protegida, ou porque a consolidação de uma autonomia financeira ou laboral ainda não permitiu a sua autonomização plena do agregado.

O equipamento é gerido sob o paradigma do bem-estar das famílias que recebem de forma profissional e igualmente afetiva, promovendo, assim, uma maior confiança entre as partes. Fator que permite uma intervenção mais eficaz por parte das equipas.

Diversas especialidades médicas e cirúrgicas

Programas de saúde e cuidados de saúde ao domicílio

Unidades da rede nacional

Prestação de apoio psicológico e psicoterapêutico

Aluguer de frações habitacionais, não habitacionais e para jovens

Bens entregues à instituição direcionados para as boas causas

Programação e atividades Cultura Santa Casa

Incubação, mentoria e open calls

Anúncios de emprego da Santa Casa

Empregabilidade ao serviço das pessoas com deficiência

Jogos sociais do Estado e bolsas de educação

Ensino superior e formação profissional

Projetos de empreendedorismo e inovação social

Recuperação de património social e histórico das Misericórdias

Investimento na investigação nas áreas das biociências

Prémios nas áreas da ação social e saúde

Voluntariado nas áreas da ação social, saúde e cultura

Ambiente, bem-estar interno e comunidade

Ofertas de emprego

Contactos gerais e moradas