Tudo começou a partir de conversas com moradores da Ameixoeira, uma área da cidade de Lisboa com população vulnerável que vive, maioritariamente, em zonas urbanas de realojamento social e/ou de origem ilegal. Neste sentido, o Centro de Desenvolvimento Comunitário da Ameixoeira (CDCA) desenvolveu um projeto que tinha em vista “fortalecer o sentido de pertença e identidade coletiva destas comunidades”, segundo a sua diretora Ana Isabel Fernandes.
A ideia do projeto ComUnidades Aprendentes nasceu em 2019 e ganhou forma no Concurso Gerações Solidárias, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que então foi lançado em parceria com a Gebalis e o Serviço de Públicos e Desenvolvimento Cultural. Mais tarde surgiram, então, as primeiras atividades.
“Estas atividades visaram a criação de laços mais estreitos entre moradores e parceiros locais e externos aos territórios, celebrando as diferenças culturais, estimulando o diálogo intercultural e promovendo o conhecimento de diferentes culturas e gerações”, refere a diretora do CDCA.
Pandemia atrasou, mas solidificou projeto
A pandemia de covid-19 adiou a implementação do projeto ComUnidades Aprendentes para 2022, data em que este arrancou a todo o gás através de “atividades que promovem o diálogo, a partilha e a troca de conhecimentos entre pessoas de diferentes culturas e gerações, valorizando a história e a identidade da comunidade e incentivando a inclusão e a coesão social”, explica Ana Isabel Fernandes.
A diretora do Centro de Desenvolvimento Comunitário da Ameixoeira dá mesmo o exemplo do evento comunitário na Vila Borges, uma das áreas do Bairro das Galinheiras mais afetada pela pandemia.
“Residem na vila, principalmente, imigrantes de países africanos, como Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, em casas minúsculas, pelo que a vida é feita nas ruas, pátios e espaços públicos partilhados pelos moradores. Durante este evento, promovido pelo projeto, a comunidade reuniu-se para homenagear uma moradora especial, que foi atleta olímpica de marcha em Atenas 2004, representando São Tomé e Príncipe. Ela foi a porta-bandeira do país durante a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos. Ouvir a sua história de vida inspiradora emocionou muitas pessoas na comunidade, incluindo a própria homenageada, que ficou muito grata por ver a sua história reconhecida anos depois, em Portugal, na comunidade que a acolheu”, explica ainda a responsável.
Comemorações do Dia Internacional das Pessoas Ciganas
Entre as várias atividades do projeto ComUnidades Aprendentes – como tertúlias e visitas guiadas, que visam aproximar os locais, promover a troca de histórias, conhecimentos e experiências – , Ana Isabel Fernandes destaca um produto inspirado no património local: o kit do Dia Internacional das Pessoas Ciganas. A responsável defende que esta ferramenta é “uma forma de valorizar a história e a identidade da comunidade, permitindo que as pessoas se identifiquem mais com o território e sintam parte integrante da comunidade”.
O kit será apresentado no dia 10 de abril e inclui um stencil (um género de um molde) para a construção de bandeiras e uma seleção de materiais pedagógicos produzidos por associações e pessoas ciganas, designadamente pela Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas e por Bruno Gonçalves, autor do livro “A História do Ciganinho Chico”.