Desde 2017, que a Santa Casa participa nas marchas de Lisboa por ocasião da festa dedicada aos santos populares da cidade, exceção feita aos anos de 2020 e 2021, devido à pandemia da covid-19.
Cada ano é subordinado a um tema e o deste ano – esclarece Luna Marques, diretora da Unidade de Animação Socioeducativa – é “Santa Casa de mãos dadas com a cidade”, com o subtema “Santa Casa é um espelho da cidade.”
Com base neste ponto de partida, Paulo Jesus, coreógrafo da marcha, compartilhou alguns detalhes sobre a preparação e a inspiração deste ano. “São 24 pares a marchar, três suplentes (temos dois homens e uma mulher), oito músicos e a parte técnica. A inspiração assenta nos espelhos, tendo em conta o tema da Santa Casa. Ou seja, usamos a moldura dos espelhos, nos arcos e no rosto, mas sem espelho. Porquê? Para nos lembrarmos que há sempre um rosto do outro lado que pode precisar de nós, de ajuda, de um ato de amor nosso. No fundo, alude àquela que é a missão da Santa Casa, de ajudar o outro, de nos darmos ao outro, de atuarmos nas e por boas causas.”
Na noite deste domingo, e também como é habitual, a marcha desfilou na MEO Arena para se apresentar ao público, trazendo uma novidade: a pequena Leonor que, enquanto mascote da marcha, participou pela primeira vez nesta iniciativa.
Quem também participou pela primeira vez foi o padrinho Pedro Crispim, que fez a sua estreia ao lado da madrinha Liliana Santos, esta já uma repetente do ano passado, e que não escondeu a alegria por retornar ao grupo. “Fiquei muito contente quando recebi o convite para fazer novamente parte desta festa e voltar a rever as pessoas, porque, apesar de ter sido só um ano, criaram-se muitos laços. É muito bom estar aqui de novo e voltar a encontrar colegas do ano passado. Os marchantes da Santa Casa empenham-se muito para conseguirmos ter uma marcha bonita e este ano não está a ser diferente”.
Também o padrinho estreante partilhou do entusiasmo. “A estreia este ano será em grande, obviamente. Vou descer, pela primeira vez, a Avenida da Liberdade e, pela primeira vez também, sou padrinho de uma marcha. E uma marcha que, de uma forma direta, representa toda a cidade, todos os bairros, todo o país. No fundo, todos os portugueses. Para mim, é um grande motivo de orgulho. Existe aqui uma matriz de partilha e de inclusão que me diz muito. Sinto-me muito privilegiado por ter este papel, mas acima de tudo por perceber que os marchantes são, efetivamente, as peças-chave, os protagonistas. Tenho aprendido muito nos ensaios com estas pessoas.”
A marcha popular da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa não é apenas uma celebração da cultura portuguesa, mas também um reflexo do compromisso da instituição com a inclusão e a coesão social. Ao longo dos anos, a marcha tornou-se um símbolo de união e solidariedade, reunindo pessoas de várias as idades e origens em torno de uma causa comum: a celebração da identidade cultural e a valorização das tradições populares.
No desfile de ontem, os marchantes da instituição voltaram a brilhar, numa antecipação da grande noite que também vai ser a do próximo dia 12, na Avenida de Liberdade.
O Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos comemorou 62 anos nesta segunda-feira, abrindo as portas à sociedade civil para dar a conhecer o seu trabalho em prol das pessoas com deficiência visual.
Sob a liderança de Isabel Pargana, o centro tem sido um farol de esperança e transformação para muitos que ali passam. Para marcar esta ocasião especial foi organizado um dia de portas abertas, em que a comunidade pôde conhecer de perto o trabalho ímpar desta resposta da Santa Casa.
Logo na recepção, os visitantes foram recebidos na zona do ginásio, onde duas atividades estavam em pleno andamento, ambas focadas na ação motora adaptada, com um dos programas a envolver o uso de uma única cadeira, promovendo a mobilidade e o condicionamento físico.
O percurso pelo centro foi pensado não só para dar a conhecer a sua história – uma rica história -, como também para proporcionar experiências diferentes. E todas as salas estavam ‘equipadas’ com um QR Code, para que se percebesse o que cada uma tinha para mostrar.
Depois do ginásio, seguia-se uma sala dedicada ao legado do edifício e do próprio centro, acompanhada de um vídeo explicativo sobre o programa de reabilitação para adultos.
A sala de braille proporcionava aos visitantes a oportunidade de experimentar este crucial sistema de leitura e escrita para pessoas cegas e a sala de informática destacava o jogo Uno, adaptado para ser jogado online. Já a sala de motricidade fina apresentava uma versão adaptada do tradicional jogo do galo, utilizando texturas diferentes para que as pessoas cegas também pudessem participar. Outra atividade educativa incluía a simulação da separação de caixas de medicamentos, essencial para a autonomia na gestão da saúde.
Um dos pontos altos do dia foi a “Aventura no Escuro”. Esta experiência imersiva simulava três ambientes distintos: um centro comercial, uma rua e um campo, todos completamente às escuras. Os participantes, vendados, navegavam por estes cenários, enfrentando obstáculos e ativando outros sentidos além da visão. Esta atividade oferecia uma perspetiva poderosa sobre os desafios diários enfrentados pelos utentes do centro.
Na copa, uma atividade gastronómica, também vendada, desafiava os visitantes a identificar alimentos sem o uso da visão, evocando sentimentos de desconforto e insegurança comuns para pessoas com deficiência visual. Já no andar superior, as demonstrações de competências sociais incluíam o reconhecimento de dinheiro, essencial para a independência financeira.
A sala de snoozle, com a sua atmosfera relaxante, era um oásis sensorial para crianças e adultos. Para as crianças, uma ferramenta de estimulação sensorial; para os adultos oferecia bem-estar e tranquilidade.
Atividades simples, como lavar os dentes ou combinar meias, eram apresentadas na sala de competências pessoais, destacando as habilidades diárias necessárias para a autonomia.
Na sala das crianças, um filme explicativo sobre o programa de estimulação sensorial na primeira infância captava a atenção dos visitantes, sublinhando a importância de maximizar o resíduo visual em crianças com baixa visão.
A jornada culminou na sala dos testemunhos, onde histórias inspiradoras foram contadas.
Foi o caso da tri-campeã mundial de surf Marta Paço, que abriu o ciclo com a partilha da sua experiência e do apoio recebido do centro. Do centro, e não só: da família, em especial da mãe (também presente), que nunca a impediram de levar avante os seus desejos, por mais ousados que fossem. Como o de vir estudar, sozinha, para Lisboa, ela que vivia numa aldeia em Viana do Castelo, e que nem imaginava como seria andar de metro ou de autocarro para se deslocar.
A celebração do 62.º aniversário do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos foi mais do que uma comemoração. Foi uma demonstração inspiradora do impacto profundo e duradouro que o centro tem na vida de tantas pessoas. Foi um dia para celebrar a inclusão, a dedicação e a transformação contínua que este centro proporciona à comunidade.
Depois de 2019 e 2023, o Open Conventos volta, este ano, a abrir as portas a 36 edifícios conventuais espalhados pela cidade de Lisboa, numa iniciativa conjunta levada a cabo pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Quo Vadis – Turismo do Patriarcado e Instituto de História de Arte da Universidade Nova de Lisboa.
A terceira edição deste evento arrancou esta quinta-feira, num dia marcado, sobretudo, pelo tema de reflexão escolhido para 2024: “’pausa e silêncio’” vai ser trabalhado pela Direção da Cultura de uma forma contínua neste ano e no próximo, com várias iniciativas”, explica-nos Helena Mantas, diretora de Serviço de Públicos e Desenvolvimento Cultural da Santa Casa.
“Este é um tema que nos faz todo o sentido. Estamos a falar de conventos, de mosteiros, de locais onde as pessoas vivem em comunidade, onde o ritmo é o que a regra determina, mas que é sempre um ritmo de pausa, porque a pausa prende-se com a questão da reflexão, do olharmos para nós próprios, de olharmos para os outros. A pausa marcada, por exemplo, pela pontuação, pelas vírgulas, pelos pontos finais. Por outro lado, o silêncio é um elemento fundamental na existência e na reflexão também. Ele está na música, está na escrita. Ou seja, estes dois elementos, pausa e silêncio, são cruciais e merecem uma reflexão cuidada hoje em dia, até porque a nossa sociedade, em particular nos centros urbanos, não valoriza a pausa e o silêncio, pelo contrário. Há muito ruído, muito barulho permanentemente, e um ritmo muito, e cada vez mais, acelerado”.
Foi precisamente esta ideia de ‘pausa e silêncio’ que serviu de mote para a conversa no espaço Brotéria, que juntou pessoas de áreas muito diferentes: “a escritora Ana Margarida Carvalho, a maestrina adjunta Inês Tavares Lopes do Coro Gulbenkian, o P. João Norton SJ da Brotéria – que é também arquiteto – e duas monjas de Belém, a irmã Anatália e a irmã Maïlys, que participaram por Zoom a partir do convento onde estão, no Couço (Alentejo)”.
“Tivemos a questão da escrita e da leitura, da música (a pausa e o silêncio na música), a arquitetura como elemento fundamental no Open Conventos – a forma como nos facilita a pausa e o silêncio, sendo que nos espaços conventuais tal era feito de uma forma muito inteligente, com zonas que estavam pensadas explicitamente para isso -, e ainda o testemunho de duas monjas, que trocaram uma vida muito ativa pela pausa e pelo silêncio”, descreve Helena Mantas.
Ao início da noite, no Convento de São Pedro de Alcântara, teve lugar uma sessão de cinema, com o filme O Grande Silêncio, de Philip Groning, uma história que se desenrola num convento em França, e que centra a sua mensagem “no silêncio e na sua importância. Parece que muitas vezes temos medo dele, mas a questão é exatamente a contrária: o silêncio não é para ter medo. É para usufruir”, aconselha-nos a responsável da Santa Casa.
Nesta sexta, arrancou já a maratona de visitas e itinerários, com grande parte deles já esgotados. “O Open Conventos conseguiu, em apenas três anos, estabelecer uma dinâmica própria. Neste ano, por exemplo, ainda quase não havia programa e já havia grupos nas redes sociais a juntarem-se para as inscrições. Creio que conseguimos tornar esta iniciativa num programa que é já esperado pelas pessoas, o que diz bem da sua qualidade”, refere Helena Mantas.
Tal como em edições anteriores do Open Conventos, haverá visitas a edifícios emblemáticos, como a Assembleia da República ou o Palácio das Necessidades, onde funciona o Ministério dos Negócios Estrangeiros, edifícios que já foram antigos mosteiros.
Nas novidades deste ano está uma visita ao Colégio Almada Negreiros, que é um edifício dos Jesuítas que foi construído no século XIX para ser um colégio e que hoje é a Igreja de Santo António de Campolide.
Se ainda não se inscreveu, faça-o aqui e aproveite as poucas vagas que ainda restam.
Numa iniciativa organizada e levada a cabo pela Associação Nacional de Gerontologia Social, em colaboração com a APOIARTE – Casa do Artista, a Universidade Rey Juan Carlos e a Associação Internacional de Universidades da Terceira Idade (AIUTA), o projeto RADAR foi convidado a participar neste encontro, com o objetivo de partilhar modelos de “boas práticas”.
O encontro, que decorreu entre os dias 13 e 17 de maio, teve como tema “Envelhecer com Arte ou a Arte de Envelhecer“, e a presença do RADAR esteve integrada no painel “Ética no Envelhecimento”, moderado pelo professor doutor Cristóvão Margarido. Durante esse painel, Hugo Gaspar, diretor de núcleo da Unidade de Missão da Santa Casa, fez uma apresentação intitulada “Projeto RADAR: Abordagens colaborativas ao isolamento social e solidão não desejada”, na qual este projeto foi explicado e mostrado numa abordagem socioecológica, incidindo em três níveis: na colaboração interorganizacional, na rede de radares comunitários e no envolvimento e participação dos cidadãos.
Para cada uma destas vertentes foram apresentados em detalhe todos os resultados obtidos e exemplificada a multiplicidade de atividades que o projeto desenvolve, destacando sempre os parceiros com que trabalha diariamente. Hugo Gaspar salientou, aliás, este facto: “o RADAR é apresentado desde a primeira hora como uma parceria colaborativa. Trabalhamos diariamente para que esta seja uma realidade. O Projeto Radar não é apenas da Santa Casa, mas de todos os parceiros que dele fazem parte. É, acima de tudo, da cidade de Lisboa”.
Quem passa na Travessa Lázaro Leitão, ali mais para os lados da zona oriental de Lisboa, e se depara com o palacete rosa, agora pálido de esbatido pelo tempo, não imagina os milagres que ali acontecem todos os dias e as vidas que se mudam naquele lugar. É assim desde 1962.
Isabel Pargana, diretora do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, descreve a génese do equipamento: “nasceu com o objetivo de assegurar a reabilitação de pessoas com cegueira ou baixa visão. Na altura, contou com o apoio de um crítico americano, que esteve durante 18 meses em Portugal, e que permitiu dar formação e organizar o funcionamento do centro”.
Atualmente, o CRNSA providencia duas grandes respostas: o programa de realização de adultos e o programa de estimulação sensorial na primeira infância. O primeiro abrange pessoas maiores de 16 anos, vindas de qualquer ponto do país, PALOP ou ilhas, e que, dependendo do sítio onde vivem, podem ser internos ou externos. O segundo concentra-se em crianças entre os 0 e os 6 anos que, por circunstâncias diversas, têm alguma limitação visual que decorre de outras comorbilidades, questões oncológicas, de síndrome ou neurológicas, mas que interferem com a capacidade visual e, de forma muito direta e muito impactante, no seu desenvolvimento global.
A superação
O tempo de reabilitação das pessoas que chegam ao Centro varia muito, pois depende do projeto de vida, das motivações e dos interesses de cada uma.
Isabel Pargana já assistiu a um pouco de tudo, mas relembra um dos casos que mais a marcaram nos últimos tempos: “uma senhora que foi admitida em setembro [de 2023]. No primeiro dia, entrou aqui com um chapéu que tapava a face até ao nariz e uns óculos escuros que não permitiam ver absolutamente nada. Assim que subiu a escadaria principal do edifício, sentou-se no banco da entrada e disse ‘eu vou desistir, eu não aguento’. O que sucedeu? Termina o seu programa de reabilitação agora no dia 30 de maio, vai começar uma formação profissional, iniciou um processo social de habitação e pediu o seu certificado de habilitações para fazer o RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências). Ou seja, tomou conta da sua vida e transformou-se do ponto de vista físico. Nunca mais a vimos usar o chapéu, deixou de usar os óculos e passou a cuidar da sua imagem de uma forma absolutamente espetacular, porque a autoestima e a autoconfiança que foi ganhando ao longo deste percurso permitiram-lhe renascer”.
Quem nunca pensou em desistir foi Nuno Ribeiro, 49 anos, ex-utente. Já tinha um glaucoma, quando uma cirurgia de implante de uma válvula malsucedida o levou ao CRNSA. Chegou a 20 de setembro de 2021 (com 46 anos) e ficou até fevereiro do ano seguinte.
“Nunca! Desde que aqui entrei que vinha muito focado. E era para sair [reabilitado], demorasse o tempo que demorasse. Não queria que os meus familiares e amigos olhassem para mim como um coitadinho, mas como alguém que conseguiu dar a volta e que faz a sua vida normal. Nunca pensei em desistir. Nunca essa palavra me passou pela cabeça”. Nuno Ribeiro é taxativo. E acrescenta: “É engraçado que quando passamos pelas coisas, há uma força cá dentro que se revela maior do que pensávamos e achávamos que tínhamos”.
“O meu objetivo era ficar o mais autónomo possível para voltar a trabalhar, fazer a minha vida normal, para as pessoas da minha família não estarem preocupadas comigo. Eu não queria ficar em casa, queria ser útil à sociedade e fazer aquilo que gosto, manter a cabeça ocupada. Eu só não via… De resto, tenho uma boa cabeça, penso bem, gosto de fazer contas, gosto de fazer o que faço. Tenho dois bracinhos e não queria depender de ninguém”, relembra Nuno.
Durante uns meses, o CRNSA foi a sua primeira casa, porque só ia àquela que passou a ser a sua segunda casa ao fim de semana. Não tendo sido um choque, foi um processo de habituação custoso, sobretudo por estar longe da mulher Susana, de quem nunca tinha estado afastado tanto tempo.
“Só queria que chegasse o fim de semana para estarmos juntos. Mas eu tinha de estar aqui para fazer as coisas bem, para que a Susana pudesse voltar a fazer a sua vida sem preocupações comigo, para que eu pudesse voltar a fazer as coisas que fazia, como ajudar a arrumar a casa e ir para o trabalho. No fundo, as coisas habituais que um casal normal faz”.
A reabilitação do Nuno foi um processo que correu muito bem. Tão bem que, quando deixou o Centro, voltou para o mesmo sítio onde trabalhava – um banco, na área financeira – e foi integrado na mesma equipa em que estava antes.
“A integração foi muito boa, [os meus colegas] acolheram-me bem e viram-me como um deles desde o princípio. Nunca fui visto como um coitadinho. Coitadinho? Não! Viram-me, sim, como uma pessoa útil e sempre disponível para ajudar os colegas como estava antes”.
Depois da fase de internamento no CRNSA, e na grande parte das reabilitações, a última parte do processo já decorre numa perspetiva mais externa, ou seja, é preciso conhecer os trajetos a percorrer para se chegar a casa, os transportes a apanhar, as armadilhas e os obstáculos escondidos que podem dificultar o quotidiano dos pacientes.
“Não me desliguei da recuperação abruptamente, não foi um cortar repentino, mas sim progressivo, até para nós não apanharmos um grande choque. Tive de fazer essa recuperação no meu dia a dia, para depois voltar a fazer a vida que faço atualmente. Hoje em dia apanho o comboio tranquilo, apanho o autocarro nas horas de ponta. Às vezes é complicado entrar nos transportes, as pessoas vão lá no seu mundo a olhar para o ‘dia de ontem’, para os telemóveis, dão encontrões ou tropeçam aqui na minha parceira de trabalho”, explica o ex-utente do CRNSA entre risos: “é que agora nunca vou sozinho, ando sempre aqui com a minha bengalita”.
Venha conhecer o trabalho ímpar do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos no seu open day, no dia 27 de maio, a partir das 10h00.
Organizado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Quo Vadis – Turismo do Patriarcado e Instituto de História de Arte da Universidade Nova de Lisboa, o Open Conventos abre as portas de um conjunto de antigos espaços conventuais emblemáticos de Lisboa, com o objetivo de dar a conhecer locais de grande importância para a História, Arquitetura e Urbanismo da cidade.
“A PAUSA e o SILÊNCIO” é o tema de reflexão escolhido para este ano. Uma conversa aberta e a exibição de um filme no dia 23 de maio introduzem a questão da organização do tempo e da importância da contemplação e da fruição. Que modelo de sociedade queremos no século XXI? O que podemos aprender com as comunidades que habitavam e habitam conventos e mosteiros numa época marcada pela aceleração e acumulação?
Esta conversa, moderada por Teresa Nicolau, diretora da Cultura da Santa Casa, acontece no centro cultural Brotéria, às 17h00, com a escritora Ana Margarida Carvalho, a maestrina adjunta Inês Tavares Lopes do Coro Gulbenkian, o P. João Norton SJ da Brotéria e a Irmã Anatália das Monjas de Belém (Zoom). Às 20h30, no Convento de São Pedro de Alcântara, é exibido o documentário “O Grande Silêncio”, de Philip Groning.
Nos dias 24 e 25 de maio, há muito para ver, desvendar e usufruir nos conventos que integram esta terceira edição, com uma programação cultural variada e dirigida a toda a população.
Todo o programa, os itinerários e a informação histórica e cultural sobre cada convento estão disponíveis aqui.
O Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, que promove a reabilitação de pessoas com cegueira ou baixa visão, vai celebrar 62 anos de existência no próximo dia 27 de maio.
Nos últimos tempos, o Centro tem-se dedicado a promover ações de sensibilização e de informação, tanto internas como externas, no sentido de “contribuir para uma sociedade mais inclusiva”. A descrição é de Isabel Pargana, diretora do equipamento que, neste contexto, decidiu, com a sua equipa, promover o Open Day do CRNSA no dia do seu aniversário.
“A intenção é permitir às pessoas da comunidade e às pessoas do mundo académico e do mundo empresarial, virem passar o dia connosco, conhecer-nos e ter a oportunidade de perceber o que é o dia a dia das pessoas com deficiência visual, contribuindo, dessa forma, para uma sociedade onde esta diversidade deve ser considerada e deve ser respeitada no seu todo”.
Assim, no dia 27 de maio, entre as 10h00 e as 17h00, pode dirigir-se ao Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, na Travessa Recolhimento Lázaro Leitão 19, em Lisboa, e passar um dia, no mínimo, diferente. Poderá conhecer a história do centro e do edifício, vivenciar o dia a ida da pessoa com deficiência visual através de atividades práticas, explorar perceções e curiosidades sobre a deficiência visual, de forma lúdica e pedagógica, conversar com utentes e profissionais, partilhando experiências e, claro, conhecer o trabalho de reabilitação promovido no Centro.
O CRNSA dispõe, atualmente, de duas grandes respostas: a primeira, centrada no programa de realização para pessoas maiores de 16 anos, vindas de qualquer ponto do país, PALOP e ilhas; e a segunda, que consiste num programa de estimulação sensorial na primeira infância para crianças dos 0 ao 6 anos que, por circunstâncias diversas, têm alguma limitação visual.
Decorreu, nesta quarta-feira, no auditório do Centro de Medicina de Reabilitação do Campus de Alcoitão, a terceira conferência do ciclo de conferências “Outros Saberes”. Tendo como orador convidado o professor doutor José Júlio Alferes, diretor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa, o assunto não podia ser mais atual: “A Inteligência Artificial no Ensino e na Investigação”.
A sessão foi presidida pela provedora da Misericórdia de Lisboa, Ana Jorge, e comentada por João Sàágua, reitor da Universidade NOVA de Lisboa.
Na sua intervenção, o professor José Júlio Alferes começou por explicar o objetivo da Inteligência Artificial, tendo em conta as suas inúmeras definições. Assim, e antes de tudo, a IA pretende “desenvolver sistemas que exibem comportamento inteligente, e que sejam capazes de aprender. Um sistema de IA, a partir objetivos complexos, decide e age no mundo físico ou digital, possivelmente de forma autónoma, observando o ambiente que o rodeia, aprendendo e raciocinando sobre o conhecimento que detém (aprendido por ele, ou dado à partida)”.
A partir desta definição, o orador convidado desta terceira conferência da ESSA explorou a área científica da IA, através das várias formas de aprendizagem (Machine Learning, Supervised Learning, Deep Learning, entre outras) e demorou-se no ChatGPT, “o último grande responsável pelo aparecimento da IA nos media”, como lhe chamou.
A terminar, José Júlio Alferes deixou alguns alertas para o futuro sobre a o papel que a IA desempenhará no mundo, nomeadamente “a desvalorização de competências humanas, a diminuição de responsabilização e a perda de individualidade, privacidade e controlo”. Para o professor, a IA é um fator de divisão: “os sistemas são caros e consumem enormes recursos; quem não os tiver” arrisca-se a ficar para trás. Haverá também uma “mudança no mundo do trabalho e relações laborais”, acrescentou.
A provedora Ana Jorge, na sua intervenção de boas vindas, lembrou as várias parcerias com a Universidade Nova, destacando a criação recente de um centro académico e clínico dedicado à investigação e ao conhecimento, que incluem a Escola Superior de Saúde do Alcoitão e o hospital de Sant’Ana.
André tinha 3 anos quando ganhou uma segunda família, com direito a pai, mãe e dois irmãos.
Tiago e Sofia, pais do Tomás e da Clarinha, estavam de acordo num ponto: ambos queriam uma terceira criança nas suas vidas. A forma como tal aconteceria é que os dividia. “Eu estava mais com aquela ideia romântica e cliché de ‘vamos ajudar alguma criança que já esteja neste mundo e que precise’, sendo que a única forma que conhecia para o fazer era a adoção”, começa por nos contar Tiago Swart, o coprotagonista desta história inspiradora.
Nem de propósito: um dia, está Sofia – a outra personagem principal – parada no trânsito quando vê um cartaz da Santa Casa relativo ao programa de acolhimento, na traseira de um autocarro que parou, literalmente, à sua frente. Chegou a casa, comentou com o marido Tiago e, calhando a circunstância de terem um amigo funcionário da instituição, telefonaram-lhe para obterem mais informações sobre o assunto.
Esclarecidos em traços gerais, foi o que bastou para tentarem perceber melhor o que estava em causa. Contactaram a Santa Casa, que os encaminhou para uma formação online de quase dez meses (coincidiu com a altura da pandemia do covid-19). No final, não tiveram dúvidas de que seria ‘o’ filho que queriam abraçar com total dedicação.
“Uma ou duas semanas depois de termos terminado a formação, e de termos sido aceites como família ‘pronta’ para o acolhimento, foi-nos proposto o André. Na altura, tomámos conhecimento de uma doença muito específica de que padecia, pelo que, ainda antes de o conhecermos, visitámos a instituição em que estava inserido para podermos conversar com as técnicas que o acompanhavam, no sentido de percebermos os cuidados especiais de que precisava. Depois de uma tarde reunidos, e de termos compreendido todas as possíveis necessidades que o André poderia ter, decidimos, então, aceitar e avançar com o seu acolhimento, recebendo-o em nossa casa”, relembra Tiago.
O dia-a-dia na nova família
A adaptação de André à sua nova casa foi tranquila, muito graças ao ambiente acolhedor que já existia. Rapidamente se tornou parte da dinâmica familiar, com todos a contribuírem para que tal acontecesse. No ‘todos’, leia-se, dois filhos pequenos.
“O André encaixava mesmo no meio das idades dos nossos filhos – a Clarinha tinha 3 anos na altura, o André 4 e o Tomás 6. Ou seja, a parte do acolher em casa e da rotina do dia-a-dia, depois da adaptação inicial, nossa e dele, foi muito natural, uma vez que já tínhamos duas crianças. E é exatamente como se costuma dizer, ‘onde comem dois comem três, dá-se banho a dois, dá-se banho a três, despacham-se dois para irem para a escola, despacham-se três’”.
Tiago abre apenas uma exceção para o momento que exigiu alguma adaptação extra, mas do qual nunca quiseram abdicar, por considerarem (ele e Sofia) essencial ao sucesso do acolhimento e da vida do André: o momento das suas visitas à mãe e à família de origem.
“Mesmo exigindo alguma ‘ginástica’ da nossa parte em termos logísticos, nunca deixámos de o fazer, pois encarámos sempre essa premissa como parte fundamental do programa. Não faria sentido se assim não fosse. Se não permitirmos que o contacto com a família de origem continue de uma forma regular para que os laços não se percam, como é que depois vai ser a integração dessa criança na sua família outra vez?”, interroga este pai, agora já de ‘quatro’.
E os filhos? Como reagiram?
“Quando o André chegou a nossa casa, a Clarinha era muito pequenina, tinha 3 anos. Contámos-lhe que havia um menino que, naquele momento, não podia estar com a mãe e que, por isso, precisava de uma casa para morar. E era por isso que queríamos acolhê-lo. Também para o Tomás, mais velho (na altura com 6 anos), a situação foi muito serena e constituiu algo que fazia todo o sentido, até porque, sendo um menino com um coração muito bonzinho – é aquele rapaz que vai sempre confortar os amigos quando alguma coisa está mal – seria lógico que um menino, a precisar de uma casa, ‘claro que o iríamos receber, não há problema nenhum’”, relembra Tiago, com um orgulho indisfarçável na voz e no rosto. E acrescenta: “a Clarinha foi a primeira a chamar ‘mano’ ao André, porque, na cabeça dela, ele sempre esteve cá em casa. ‘Se sempre esteve cá em casa, é meu mano, como o Tomás’”.
O relacionamento com a mãe do André
Tiago e Sofia nunca não tiveram dúvidas sobre a forma como queriam e deviam relacionar-se com a mãe e família de origem do pequeno André: era imperativo e necessário envolvê-los o mais possível na rotina do menino.
“Estávamos um bocadinho receosos relativamente à reação quando nos conhecessem, mas o primeiro impacto foi positivo. Desde o início que construímos uma relação sólida, de amizade, não só com a mãe, mas também com as avós e as tias. Elas estão e estiveram sempre presentes nas várias decisões a tomar, escolares ou outra, e também as relativas à condição especial do André. A mãe dele não sabia, de todo, como lidar com esta doença”, conta Tiago.
“Fomos nós que capacitámos a mãe, através da formação que também recebemos. Estamos convencidos que, sem esta relação próxima, tal não teria sido possível, tal como não teria sido possível, por exemplo, o André falar com a mãe sempre que quer, quando sente necessidade disso. Ele pede-nos para ligar-lhe e nós, obviamente, ligamos”. Tiago conclui, orgulhoso: “queríamos que isto fosse mesmo assim e deixa-nos muito felizes o caminho que percorremos até aqui”.
O futuro
Tiago e Sofia vivem agora algumas emoções variadas, que perspetivam um futuro desafiante. Por um lado, chegou o bebé Simão – faz em março precisamente um mês. Por outro, o André está quase a voltar para a sua mãe e família de origem.
“Neste momento, o nosso acolhimento ao André está, felizmente, a chegar ao fim. E digo felizmente porque significa que ele vai retornar à família de origem em breve. Obviamente que estamos na expectativa de saber como nos vamos sentir, porque agora vai ser… o desapego”.
Tiago parece dizer estas frases sem tristeza: “temos uma relação tão boa com a família do André, uma relação de amizade tão próxima, que acreditamos que ele não vai sair da nossa vida. Jamais! Nem agora nem daqui a dez ou quinze anos. Estamos convictos de que vamos continuar a apoiá-lo, vamos continuar a passar fins de semana e férias e a ‘matar saudades’. Faremos parte da sua família, sempre. Não somos família de sangue, mas somos do coração”.
E remata, com a anuência de Sofia: “tenho a certeza de que vamos voltar a ser família de acolhimento. Vamos só esperar que o nosso bebé não esteja tão dependente. Mas voltaremos a acolher uma criança – disso não tenho dúvida nenhuma”.
Para saber mais sobre acolhimento familiar, consulte aqui.
A Casa do Impacto (CdI), hub de empreendedorismo social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), foi reconhecida pelo Financial Times como uma das principais incubadoras de startups da Europa em 2024. Criada há cinco anos, a CdI tornou-se na primeira plataforma de novas empresas de impacto social em Lisboa, focada na promoção de uma nova geração de empreendedores que estão a desenvolver modelos de negócio com impacto socioambiental positivo, alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas.
A distinção atribuída pelo Financial Times é o reconhecimento do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pela Casa do Impacto ao serviço das causas sociais e ambientais. Cinco anos após a sua criação, o hub de empreendedorismo da Santa Casa soma já mais de 220 residentes no Convento de São Pedro de Alcântara, em Lisboa, mais de 400 projetos apoiados, através dos mais de 21 programas de aceleração ou ideação ou outras iniciativas. No total, representam 3,2 milhões de euros investidos em startups de impacto.
“A Casa do Impacto assume agora o desafio de cimentar-se enquanto plataforma agregadora de referência internacional de uma comunidade com os olhos postos no futuro. O contexto mundial que vivemos reforça a nossa missão e visão de preparar as novas gerações de empreendedores, ajudar as organizações e reforçar o compromisso da sociedade civil na construção de um mundo com preocupações reais com as pessoas e o planeta. Sermos o único hub 100% distinguido dedicado a estas causas reforça o nosso papel num ecossistema que é cada vez mais relevante para o futuro do planeta e das organizações. “, explica Inês Sequeira, fundadora e diretora da Casa do Impacto.
Esta distinção resulta de uma parceria entre o Financial Times, através da sua marca de media relacionada com o mundo das startups, a Sifted e a Statista, empresa alemã especializada em estatísticas e dados do mercado, que coleta, analisa e fornece informações estatísticas sobre uma variedade de tópicos, desde a economia à tecnologia. A iniciativa Europe’s Leading Start-Up Hubs 2024 materializa-se numa publicação colaborativa entre o Financial Times, a Sifted e a Statista, destacando os principais hubs de startups na Europa em 2024.
O Velho Continente apresenta hoje um cenário de startups que rivaliza com o dos EUA. De acordo com a Sifted, 98 cidades da Europa já produziram pelo menos um unicórnio (negócio em fase inicial avaliado em mil milhões de dólares ou mais). Contudo, ainda é desafiante encontrar informação atualizada sobre os programas das incubadoras e aceleradoras de empresas em execução nestas localidades – e as suas taxas de sucesso.
Assim, o Financial Times, com o seu parceiro de investigação Statista e o meio especializado Sifted, decidiram lançar um projeto de investigação para identificar os principais centros de startups da Europa em 2024, tendo distinguido a Casa do Impacto como um dos 125 locais de excelência na incubação e aceleração repartidos por 19 países. Ao todo, foram convidadas a participar mais de 2000 organizações e auscultados mais de 2600 alumni.