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Inovação, sustentabilidade e futuro. O exemplo da Casa do Impacto no Planetiers

Como acelerar o desenvolvimento sustentável ambiental, económico e social? Qual o papel das empresas e instituições e que impacto podem ter nestes três eixos? O Planetiers World Gathering decorreu nos dias 22 e 23 de outubro, em Lisboa, num formato condicionado pela Covid-19, com público limitado no recinto e com transmissão integral de todas as sessões, através do site oficial do Planetiers.

O maior evento de inovação sustentável do mundo, que decorreu pela primeira vez em solo português, juntou 100 oradores de vários pontos do globo, divididos por quatro palcos, para debaterem e apresentarem projetos inovadores que contribuam para um mundo mais sustentável. No segundo dia da cimeira tecnológica, a diretora da Casa do Impacto, Inês Sequeira, subiu ao palco Crédito Agrícola Communities Stage, numa sessão dedicada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos pelas Nações Unidas, para falar sobre a missão da Casa do Impacto e dos objetivos do hub da Misericórdia de Lisboa.

 

Casa do Impacto. Há dois anos a trabalhar por um mundo melhor

Quando a 1 de outubro de 2018 a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa anunciou a criação da Casa do Impacto, Edmundo Martinho, provedor da instituição, afirmava que “esta Casa iria criar as condições necessárias ao desenvolvimento de soluções inovadoras, que constituam novas respostas sociais, adequadas aos desafios contemporâneos”. Desde então, o hub – do inglês, centro – sediado no Convento de São Pedro de Alcântara já apoiou 135 projetos e injetou na Economia de Impacto mais de 1,5 milhões de euros.

As conquistas alcançadas nos últimos dois anos ajudam a delinear um plano para os próximos tempos. Para a diretora da Casa do Impacto, Inês Sequeira, é fundamental que o futuro assente em três pontos essenciais: “continuar a formar empreendedores através do programa de aceleração ‘Rise for Impact’, alavancar projetos com recurso ao ‘Fundo +Plus’ e desafiar mentes empreendedoras através do ‘Rise For Impact’ ou do ‘Santa Casa Challenge’”.

Inês Sequeira quer uma Casa do Impacto mais plural e heterogénea, num hub onde existem 20 fundadoras mulheres e 13 nacionalidades representadas. “Queremos chegar a mais empreendedores, de diferentes países, géneros, etnias, classes sociais, backgrounds e idades para trazer mais diversidade e inclusão ao empreendedorismo, de forma a potenciar soluções de resposta abrangente a toda a sociedade”, revela a responsável, acrescentando que “estão a ser desenhados mecanismos que promovam a colaboração e a criar critérios de diversidade para as nossas iniciativas”.

Nos dois primeiros anos de atividade, muita coisa foi feita. Para o futuro, as palavras-chave são “mais” e “melhor”, de modo a continuar a desenvolver modelos de negócio, que possam ser uma mais-valia para responder aos maiores desafios sociais e ambientais da década, alinhados com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

 

Transição para o digital: apostar na tecnologia sem esquecer a tradição da Santa Casa

O mito foi quebrado logo no primeiro painel do seminário “Transição Para o Digital na Santa Casa”, que decorreu esta quinta-feira, na Sala de Extrações da Santa Casa: as máquinas não vêm substituir os humanos nos respetivos postos de trabalho. A garantia de que “as pessoas não correm o risco de ficar para trás” e serem substituídas pela tecnologia foi dada pela secretária de Estado da Inovação e da Modernização Administrativa, Maria de Fátima Fonseca. E prosseguiu: “é necessário investir nas pessoas, na capacitação institucional, utilizar de forma estratégica e inteligente a tecnologia e reforçar o contacto em proximidade”.

Para o provedor da Santa Casa, Edmundo Martinho, o digital tem que ter a capacidade de ajudar a Misericórdia de Lisboa “a conhecer os fenómenos, no momento da partida, mas ajudar também a conhecê-los à medida que vão sofrendo alterações, para que ninguém fique para trás”.

Maria de Fátima Fonseca acompanhada por Edmundo Martinho e jornalista do Dinheiro Vivo

“A transição digital pode apresentar alguns riscos, nomeadamente no que diz respeito ao acesso a informação, aos serviços. A iliteracia digital continua presente, e nós temos que ser capazes de combinar deste ponto de vista”, destaca Edmundo Martinho. O provedor começou por referir que a Santa Casa “tem sabido acompanhar tudo aquilo que são evoluções no domínio tecnológico, mas que também tem sabido manter e preservar o seu património e as suas tradições”.

Mas, afinal, como pode o digital contribuir para uma melhor atuação da Santa Casa?

A tecnologia como suporte à saúde

As diferentes áreas de intervenção da Santa Casa colocam desafios muito distintos. Edmundo Martinho destacou a área da saúde, setor onde quer, “cada vez mais, introduzir mecanismos de acompanhamento e monitorização”. Para isso conta recorrer a novas tecnologias e soluções digitais avançadas que “permitam chegar a mais pessoas, chegar a mais pessoas em melhores condições e de forma mais permanente”. Mas frisa: “nada disto dispensa a presença dos cuidadores, dos técnicos, das pessoas que acompanham e cuidam destas pessoas”.

“A importância do digital está em duas dimensões: no suporte a este trabalho, com o acompanhamento em tempo real, com assistência à distância e suporte permanente a todas as pessoas; produção e tratamento de informação que vamos recebendo, para que possamos perceber os passos que damos, em que direção vão, que impacto estão a ter”, realça o provedor, sem dúvidas de que “é isso que nos permite melhorar”.

Mas o que podemos esperar da área da saúde da Santa Casa num futuro próximo? A ambição é transformar completamente o apoio domiciliário, fazendo sair das fronteiras tradicionais dos cuidados de higiene e alimentação. Edmundo Martinho pretende introduzir, por exemplo, “alguns mecanismos de reabilitação no domicílio, instrumentos essenciais para monitorizar o grau de reabilitação, conquistas e erros que se vão fazendo”.

O provedor da Santa Casa destacou o “bom exemplo” dado pela Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, na criação do Sistema de Gestão de Tarefas e Atividades (GTA), que possibilita a programação e monitorização de tarefas e atividades dos profissionais de saúde da instituição. Através de uma aplicação para smartphone os profissionais conseguem fazer uma melhor gestão da informação.

“O petróleo do século XXI”

Como é que todo este movimento em direção à digitalização impacta expressões de base mais territorial, como é o caso dos Jogos Santa Casa? Para compreender o que deve e pode fazer para se adaptar a esta realidade, a Santa Casa criou um domínio de trabalho para que seja possível fazer-se uma leitura antecipada dos fenómenos, o que permite à instituição perceber o que pode ser feito para se adaptar a esta realidade.

“Nós temos cinco mil mediadores no país ligados em rede, permanentemente. Sabemos a cada momento o que se passa em cada um daqueles terminais. Há aqui uma dimensão tecnológica fortíssima e que temos de ser capazes de aprofundar”, explica Edmundo Martinho.

Vasco Jesus é um dos profissionais que integra o grupo de trabalho da NOVA IMS, que colabora com o departamento de Jogos da Santa Casa no desenvolvimento de uma ferramenta que permite analisar a rede de mediadores existente e identificar áreas geográficas que podem vir a ser servidas por terminais Jogos Santa Casa.

Vasco Jesus fala sobre a importância dos dados

“É importante que a rede continue funcional para que produza as receitas necessárias para a Santa Casa prosseguir a sua missão, mas que simultaneamente faça uma gestão do risco que está associado à sua expansão. A ferramenta permite que as decisões sejam tomadas com mais fundamento”, destaca Vasco Jesus, acrescentando que o grande desafio “era compreender como é que a rede existe e quais as características associadas”.

É aqui que Vasco Jesus coloca todos a pensar sobre o “petróleo do Século XXI”: os dados. Que importância têm e o que podemos fazer com eles? Para o professor convidado da NOVA IMS, os dados podem tornar-se “numa coisa extraordinária por causa do engenho humano. Os dados, por si só, não têm valor. São as pessoas que conseguem criar valor. Os dados estão presentes, mas aquilo que conseguimos fazer com os dados é que cria valor. É isso que é relevante para as organizações”.

Digital: oportunidade ou necessidade?

Para a secretária de Estado da Inovação e da Modernização Administrativa, Maria de Fátima Fonseca, qualquer processo de transformação digital “não significa deitar tecnologia sobre as organizações tal como elas existem”. Para Maria de Fátima Fonseca a transição para o digital tem que estar assente em cinco eixos fundamentais: “compreender as oportunidades da tecnologia, os limites, até onde queremos ir, compreender como é que a tecnologia casa com os processos organizacionais e como é que nos permite cumprir melhor as nossas missões”.

Nos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) as missões são cumpridas à distância. O presidente da SPMS, Luís Goes Pinheiro, acredita que “é fundamental tirar partido das poucas boas coisas que a pandemia nos trouxe” e a aproveitar o digital para “apostar muito” no teletrabalho, na teleconsulta e na telemonitorização. “Tudo o que poder ser feito à distância, é para ser feita à distância”, frisa.

Quatro homens num painel sobre transição para o digital

Através do exemplo da Xbox Adaptive Controller –hub construído pela Microsoft para auxiliar jogadores com mobilidade reduzida- Eduardo Antunes trouxe outra questão: a inclusão digital. “A transformação digital centra-se nas pessoas”, destaca.

Pensar em como atuar é o que a Santa Casa está a fazer com a realidade virtual. Em curso está uma experiência que deve ser lançada até final de 2020. Numa fase inicial, o projeto será lançado numa  “dimensão mais lúdica”, mas, dependendo do sucesso do ensaio, poderá evoluir para uma dimensão de estimulação cognitiva.

Transição para o digital na Santa Casa: a tecnologia como fator de mudança

Será que o digital cria mesmo valor para as empresas e organizações? É com esta pergunta que a Direção de Estudos e Planeamento Estratégico da Santa Casa parte para o seminário “Transição Para o Digital na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”, que decorrerá no próximo dia 24 de setembro, a partir das 9:30. Devido às condicionantes ditadas pela Covid-19, a admissão de público na Sala de Extrações da Misericórdia de Lisboa não será possível, mas o evento contará com transmissão via streaming através do canal de Youtube da Santa Casa.

O seminário contará com a participação do provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Edmundo Martinho, e da secretária de Estado da Inovação e da Modernização Administrativa, Maria de Fátima Fonseca. No programa do seminário “Transição Para o Digital” constam ainda nomes como Vasco Jesus, professor convidado da NOVA Information Management School, Eduardo Antunes, membro da Comissão Executiva da Microsoft Portugal ou Filipe Costa, diretor comercial para as Grandes Contas da SAP Portugal.

Através da discussão de situações concretas, que sejam passíveis de transportar para o universo Santa Casa, o seminário pretende contribuir para um maior nível de sensibilização dos trabalhadores da instituição para a temática do digital e mostrar a forma como a tecnologia pode contribuir para o aperfeiçoamento da prestação de serviços nas diversas áreas de atuação da Santa Casa.

Para o responsável da Direção de Estudos e Planeamento Estratégico da Santa Casa, Francisco Pessoa e Costa, todos os serviços da Misericórdia de Lisboa saem a ganhar com uma maior aplicação da tecnologia digital. “Nos domínios da ação social e da saúde o digital assume, pelo contrário, uma função de complementaridade ao trabalho desenvolvido pelos profissionais daquelas áreas, que é absolutamente insubstituível, como, aliás, a situação de pandemia em que nos encontramos tem demonstrado”, explica.

Uma das iniciativas que a instituição quer desenvolver no âmbito da migração para o digital é a introdução de teleconsultas e programas de telereabilitação no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, permitindo desta forma o acesso simples e rápido a cuidados de saúde.

Idosos “mais autónomos, mais acompanhados e em maior segurança”

O seminário contará também com apresentações mais focadas nos idosos, com objetivos diferenciados: a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso irá partilhar o sistema de gestão de tarefas e atividades que implementou como suporte de toda a sua atividade; já a SAP irá partilhar a sua experiência na área da ação social, numa apresentação que ilustra a melhoria do nível de qualidade e bem-estar que é possível de alcançar através do digital.

A cargo da EDIGMA estará uma apresentação focada na realidade virtual e na forma como este método pode reduzir o isolamento de utentes institucionalizados e identificar sinais precoces de doença.

O projeto RADAR é, para Francisco Pessoa e Costa, o exemplo perfeito que demonstra a forma como a tecnologia pode ser uma mais-valia. Seja através da “criação de sistemas de monitoração e controlo que garantam a capacidade de atuação em tempo útil” ou com a “introdução de componentes de análise de dados e de inteligência artificial que possibilitem complementar diagnósticos, incorporando conhecimento e encontrar soluções”.

Pode a tecnologia ser um meio para nos mantermos mais autónomos na velhice? Fernando Pessoa e Costa não tem dúvidas: “Acredito em absoluto: mais autónomos, mais acompanhados e em maior segurança. [A tecnologia] deve ser utilizada como componente de reforço da proximidade e do compromisso de intergeracionalidade”, refere.

Para assistir ao Seminário “Transição Para o Digital na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa” clique aqui.

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