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Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão

O processo sobre a construção do Centro de Medicina de Reabilitação do Alcoitão assenta numa investigação profunda sobre o que de melhor se fazia na altura pelo mundo fora. José Guilherme de Melo e Castro, subsecretário de Estado da Assistência Social em 1955, pôs em marcha um conjunto de ações e procedimentos – desde logo envolvendo a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa –, que passaram por visitas a Inglaterra e a Nova Iorque, para melhor conhecer as políticas de saúde e, em especial, dos centros de reabilitação, além dos mais reputados médicos da especialidade.

Dois acontecimentos levaram à evolução para a concretização desta infraestrutura: em julho de 1956, são publicados os estatutos da Liga Portuguesa dos Deficientes Motores; e em 1957, Melo e Castro é nomeado provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, cargo que lhe permitiu concretizar o projeto do ‘seu’ centro sob a iniciativa desta instituição, e que inaugura a 2 de julho de 1966, na presença do Presidente da República da altura, Almirante Américo Tomás.

Sendo uma obra pioneira, desde a génese, o seu nascimento requer que se encontrem respostas para que a tornem possível. E é durante este processo que surge a ideia da criação do Totobola, uma inovação que nasce, mais uma vez, pela cabeça e mão de Melo e Castro e da Santa Casa, cujas receitas se destinaram a financiar a obra e funcionamento do CMRA e da sua escola de terapeutas, bem como de outros estabelecimentos da área da ação social, saúde e desporto, por todo o país.

Assim, em 1961, foram criadas, por decreto-lei, as Apostas Mútuas Desportivas, designadas por Totobola. A sua administração e exploração competiam à Misericórdia de Lisboa e o respetivo rendimento líquido foi consignado expressamente, e em partes iguais, ao fomento da educação física e atividades na modalidade de reabilitação de diminuídos físicos.

As primeiras notícias do Centro de Reabilitação de Alcoitão

Nas suas viagens pelo mundo à procura dos melhores exemplos na área da medicina de reabilitação, Melo e Castro conhece Howard A. Rusk, um médico da especialidade, de Nova Iorque, que será mentor de Santana Carlos, futuro diretor do Centro de Alcoitão. O encontro entre Rusk e Carlos viria a revelar-se decisivo para a tomada de decisão de construir um centro de raiz. O médico americano aplicou com enorme sucesso este modelo enquanto médico militar na II Guerra Mundial, com a universidade de Nova Iorque a disponibilizar-lhe algumas alas nos hospitais de Bellevue e Goldwater, para se dedicar à reabilitação de civis. Entre outras ações, promoveu campanhas publicitárias e de informação pública, destacando-se a sua colaboração semanal com o New York Times.

Corria o verão de 1958, quando Howard Rusk, aquando de uma viagem pela Europa, chega a Portugal, facto que correu logo pelos jornais portugueses na altura. As notícias davam conta de que a sua chegada tinha como objetivo “apreciar e estudar, com as entidades responsáveis, os planos do Centro de Reabilitação de Diminuídos Físicos, o primeiro a ser instalado no nosso país, cuja construção […] ainda se iniciará no decurso do ano corrente, em Alcoitão, no concelho de Cascais”. Ou ainda: “custará 25 mil contos um Centro de Reabilitação de Diminuídos Físicos a construir por iniciativa da Misericórdia de Lisboa”.

 

A arquitetura

O projeto de arquitetura do Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão ficou a cargo de Sebastião Formosinho Sanchez. A obra do autor inseria-se, nos anos de 1950 e 1960, numa linha de continuidade do Modernismo – um movimento de ideias visto sob a perspetiva de que a tecnologia e o design ajudariam a mudar uma sociedade cheia de desigualdades e a recuperar da I Guerra Mundial.

Para Formosinho Sanchez, o Centro de Alcoitão foi a sua maior obra na qual quis projetar um ambiente acolhedor, propício à cura, um ambiente de “quase casa”, tentando encontrar uma nova linguagem para os edifícios hospitalares que resistisse à ideia de “frio e de branco” dos hospitais. O edifício desenvolve-se em estreita relação entre a paisagem natural e o espírito do lugar, uma zona com forte influência do oceano e da serra de Sintra, com os jardins e parque envolventes a constituírem um exemplo de projeto de arquitetura paisagista do Modernismo.

 

CMRA Espaço Interior

História recente

Durante 40 anos, o Centro de Medicina de Alcoitão foi único no país. E apostou, logo no início da sua existência, na educação de profissionais da área da reabilitação, com a integração, em 1966, da Escola de Reabilitação de Alcoitão (ERA), convertida, mais tarde, na Escola Superior de Saúde do Alcoitão (ESSA), um estabelecimento privado de ensino superior politécnico e o primeiro, em Portugal, com cursos de Fisioterapia, de Terapia Ocupacional e de Terapia da Fala.

Hoje, com mais de meio século de existência, continua a prover serviços pioneiros e exclusivos, apostando na tecnologia inovadora e na melhoria das condições de acolhimento dos utentes. 

Um dos equipamentos mais extraordinários do Centro de Alcoitão é o exosqueleto. Foi adquirido em 2016 e é único em Portugal. Trata-se de um dispositivo robótico que consiste num fato biónico ajustável ao utilizador, tendo várias áreas de aplicação. Na área da saúde é utilizado em reabilitação, permitindo que pessoas com alterações neuromusculares dos membros inferiores possam realizar a posição de pé e treino de marcha, conferindo-lhes maior mobilidade, autoconfiança, força, flexibilidade e resistência. A sua utilização como meio de intervenção terapêutica proporciona um aumento da funcionalidade e da independência da pessoa, indo ao encontro dos principais objetivos da reabilitação. As suas características são, assim, imprescindíveis e essenciais na reabilitação da população que acede ao Centro.

Em 2021, requalificou o seu Laboratório de Marcha, o único equipamento de análise do movimento a nível nacional, atualmente, dedicado à atividade clínica. Em que consiste? Num meio complementar de diagnóstico, que fornece informações indispensáveis para a tomada de decisões clínicas fundamentadas.

Já este ano, por ocasião das comemorações do seu 57.º aniversário, o Centro inaugurou a ‘parede de escalada’, uma infraestrutura adaptada para utilização por parte de doentes com patologias neurológicas, tanto em idade adulta como em idade pediátrica, num projeto original, inovador e ambicioso, com inúmeros benefícios para os utentes, e de incentivo à prática de uma modalidade desportiva. 

Atualmente, o Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão dispõe de 150 camas para internamento, organizadas em três serviços, de acordo com o grupo etário e regime de prestação dos cuidados. Conta também com as unidades de residências assistidas, destinadas a utentes com incapacidade motora.

Complexo de São Roque

A um pequeno passo de um dos ex-líbris turísticos da cidade, o Miradouro de São Pedro de Alcântara, e ladeado pelas emblemáticas Escadinhas do Duque, ponto de passagem diário de centenas de pessoas de várias culturas, o Largo Trindade Coelho é, nos dias de hoje, um ponto de paragem obrigatório para quem visita Lisboa.

O Complexo de São Roque organiza-se como uma cidade na cidade. Começou por ser o Largo de São Roque no século XVI. No final dos anos 20 do século passado, com a colocação no local de uma estátua em homenagem aos cauteleiros, passou a ser conhecido como o Largo do Cauteleiro e ponto de encontro para incursões na noite do Bairro Alto. 

Mas, desde 1913 que o Largo de São Roque tem a denominação oficial de Largo Trindade Coelho, e é neste local que podemos encontrar o Complexo de São Roque, composto principalmente pela igreja e museu a quem o santo emprestou o seu o nome, e ainda pelos serviços administrativos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. 

Hoje em dia, o espaço que preserva, ainda em grande medida, as fachadas e paredes interiores originais, é composto por cinco núcleos arquitetónicos distintos: a antiga Casa Professa de São Roque, que inclui a igreja e o museu, o antigo Palácio dos Marqueses de Nisa, o Hospital Infantil de São Roque, as casas de arrendamento da Calçada da Glória e o Asilo do Amparo, onde funcionam os serviços centrais da instituição e, ainda, a antiga Lavandaria, edifício isolado alvo de remodelação há poucos anos e, atualmente, em reabilitação.

Complexo de São Roque atual

Um lugar cheio de história e de estórias interligadas

A história deste espaço remonta a 1768, altura em que o marquês de Pombal concedeu a antiga casa professa da Companhia de Jesus à Misericórdia de Lisboa, providenciando uma nova sede à instituição, após as instalações originais, na igreja da Conceição Velha, terem sido arrasadas pelo terramoto de 1755.

Esta escolha feita pelo marquês de Pombal de colocar a instituição no Bairro Alto, não foi inocente. O objetivo do marquês era colocar a Misericórdia de Lisboa no centro dos problemas sociais da capital na época, de maneira que instituição cumprisse o seu desígnio secular de estar próxima dos que mais necessitam, orientando a sua ação em três vertentes estratégicas: criação dos expostos, proteção das órfãs e assistência aos inválidos.

As casas de arrendamento da Calçada da Glória foram a primeira ampliação do núcleo inicial jesuíta. Foram construídas já no final do século XVIII (1783 a 1795) e destinavam-se a angariar receitas, através do arrendamento de quartos a pessoas de classe baixa. Este conjuntou urbanizou o muro da cerca da antiga casa professa na Calçada da Glória, arruamento com pouco valor imobiliário pelo seu perfil geográfico. Porém, com o terramoto de 1755, houve uma grande procura de casas, principalmente pelas classes mais baixas, que com poucos recursos e por iniciativa própria edificaram barracas junto à cerca. 

A ação da Misericórdia de Lisboa, com a construção destas habitações destinadas às classes mais baixas da população, demonstrou uma preocupação inovadora em fornecer casas a pessoas desfavorecidas, permitindo igualmente acabar com as barracas nas imediações da sua sede. Desta maneira, já no final do século XVIII, o Complexo de São Roque acumulava todos os equipamentos da instituição, ou seja, as oficinas, as casas de arrendamento da Glória, o Hospital dos Expostos, o Recolhimento das Órfãs, a Enfermaria de Santana, e a Igreja de São Roque.

Já em 1834 e por decisão do Governo, o complexo foi reformulado, tendo o Asilo do Amparo e a Enfermaria de Santana passado para as instalações do Hospital de São José. Em São Roque ficou apenas funcionar o Hospital dos Expostos e as áreas administrativas, as casas de arrendamento e a igreja.

Volvidos 20 anos, a 22 de junho de 1853, a Mesa da Santa Casa deliberou que se orçamentasse a construção do novo edifício destinado ao Hospital do Amparo e que este, deveria ter uma ligação ao Hospital dos Expostos, para partilharem a mesma cozinha. Ainda nesse mês a Companhia de Carruagens Lisbonenses propõe à Misericórdia de Lisboa a construção de um espaço para as suas instalações, o Hospital Infantil.

A 1905, surge o que hoje conhecemos como o Museu de São Roque anteriormente designado como Museu do Tesouro da Capela de São João Batista. Inaugurado pelo rei D. Carlos, este espaço museológico nasce com o intuito de preservar o espólio da instituição e de aproximar o espaço aos novos burgueses que povoam o Chiado.

Logo a seguir, e de acordo com o espírito da I República, a única obra idealizada no complexo foi a Lavandaria. Projetada e iniciada em 1911, com a função de concentrar a limpeza das roupas de todos os equipamentos da Santa Casa num único espaço, otimizando desta maneira recursos. Já com a implantação do Estado Novo e vendo a lacuna que existia no cuidado de assistência médica na cidade (o único hospital público do país era o Hospital de São José), a Misericórdia de Lisboa decide adquirir, em junho de 1926, as antigas instalações da Companhia de Carruagens Lisbonenses para aí criar o futuro Hospital Infantil.

Em 1959, o Complexo de São Roque começa a ser moldado no que ainda hoje podemos observar, tendo sido apresentada a primeira fase do plano de remodelação deste conjunto de edifícios, que propunha a valorização da Igreja de São Roque

Em 1962, foram realizadas obras de conservação no Asilo do Amparo e concluídas as obras do então conhecido por edifício do Totobola (e mais tarde por Departamento de Jogos), da Casa do Pessoal e da creche para os funcionários da instituição.

Mais tarde, a antiga farmácia do Hospital Infantil de São Roque, o Arquivo Histórico e Centro de Documentação sofreram obras. Já em 2009, a obra no Largo Trindade Coelho foi concluída, recuperando os valores urbanísticos idealizados em meados do século XIX, por Pierre Joseph Pézeret, que pretendia converter o outrora Largo de São Roque, numa das praças mais belas de Lisboa. 

Complexo de São Roque atual

Igreja da Conceição Velha

Troca de identidades, reconstruções, mudanças de local. A história da Igreja da Conceição Velha está repleta de artifícios, como se fossem pequenas e sinuosas ruas que funcionam como um velho labirinto que, até hoje, ainda engana os mais distraídos.

Partamos de uma premissa forte e sem equívocos: a Igreja da Conceição Velha foi a primeira sede construída de raiz para acolher a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Mas aqui surgem as primeiras interrogações: não estaremos a confundi-la com a Igreja da Misericórdia? Se foi construída em 1534, como é que várias décadas antes Vasco da Gama e Álvares Cabral pediram a melhor das sortes aos pés de Nossa Senhora do Restelo, imagem ali albergada, antes de partirem para o mundo desconhecido? E qual a razão da qualificação “Velha” para esta Igreja nomeada “da Conceição”?

Igreja da Conceição Velha

Comecemos, naturalmente, pelo princípio. Apesar de estar situada na Rua da Alfândega, a história da Igreja da Conceição Velha começou noutro local: em Belém.

As já referidas súplicas dos navegadores portugueses a Nossa Senhora do Restelo foram, efetivamente, uma realidade, mas aconteceram quando esta imagem quinhentista figurava na Ermida da Ordem dos Freires de Cristo. As orações foram ouvidas, pois os Descobrimentos tiveram sucesso e alteraram a face do mundo. E, para assinalar o êxito, em 1502 D. Manuel I ordenou a construção de uma obra monumental no lugar da Ermida: o Mosteiro dos Jerónimos.

Esta decisão obrigou à deslocação dos freires para outro local, que estes encontraram numa extinta sinagoga localizada onde hoje se cruzam das ruas dos Douradores e da Conceição. Assim nascia a Igreja da Conceição. Todavia, em 1682 outro templo foi mandado erigir na Rua dos Ferros e o nome que lhe foi dado foi… exatamente o mesmo. Portanto, para diferenciação, a igreja original, casa dos freires, passou a ostentar o nome de Igreja da Conceição Velha.

A utilidade do adjetivo não durou, porém, uma centena de anos. Afrontadas pelas idades distintas, as duas Igrejas da Conceição, que nasceram distantes no tempo, tiveram ironicamente o seu fim no mesmo instante, a 1 de novembro de 1755, data do infame terramoto que desfigurou Lisboa. Dos dois templos pouco ou nada sobrou que motivasse uma dispendiosa reconstrução. Conceições, Velha e Nova, foram apagadas do mapa.

Igreja da Conceição Velha

200 anos antes

Voltemos atrás no tempo: estamos de regresso ao início do Século XVI e a Misericórdia de Lisboa crescia de dia para dia. Com uma missão cada vez mais abrangente, a instituição criada por D. Leonor rapidamente precisou de novas instalações e D. Manuel I encarregou-se do assunto. Foi então erigida na atual Rua da Alfândega a Igreja da Misericórdia, um imponente templo, primo direito dos Jerónimos, como provava a riqueza manuelina que mostrou na sua abertura em 1534. Estava construída a primeira sede feita de raiz para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

De grandes proporções, este templo era três vezes maior do que aquele que podemos visitar nos dias de hoje e prova disso é que a porta que hoje é a principal era ‘apenas’ uma entrada lateral da igreja original.

Mas a força da natureza foi implacável. Como a Conceição Velha e sua irmã mais nova, também a Igreja da Misericórdia tombou em 1755. Após mais de dois séculos ali instalada, a Santa Casa foi obrigada a procurar novo poiso, que viria a encontrar em São Roque, para onde levou o nome da Igreja da Misericórdia.

Na Ribeira restavam apenas a tal porta lateral e uma capela, mas foi o suficiente para que o templo entrasse no plano de reconstrução da cidade, embora sem as dimensões de outros tempos. Assim, em 1770 deu-se a reconstrução, agora com orientação norte-sul, e a porta lateral passou a ser a principal. A capela também ganhou esse estatuto, num projeto do arquiteto pombalino Francisco António Ferreira, com a colaboração de Honorato José Correia.

Qual sina maldita, novamente desprovidos de casa, os freires da Ordem de Cristo transferiram-se desta feita para a igreja reconstruída e com eles levaram o nome com que batizaram o novo edifício: Igreja da Conceição Velha.

Igreja da Conceição Velha

De cara lavada no Séc. XXI

Tornada monumento nacional em 1910, a igreja foi recentemente requalificada pela Santa Casa, num investimento de mais de um milhão de euros. A portal manuelina continua a ser o seu grande cartão de visita, onde podem ser admiradas as figuras de Nossa Senhora da Misericórdia, do rei D. Manuel I, da Rainha D. Leonor e do Papa Leão X.

No interior, para além de várias imagens entre as quais a de Nossa Senhora do Restelo, destaque para o teto em estuque pintado, com um baixo-relevo da autoria de Félix da Rocha, com o Triunfo de Nossa Senhora da Conceição. Nos altares laterais podem ser observadas, por exemplo, pinturas de Nossa Senhora da Piedade e São Miguel Arcanjo, ambas de Bruno José do Vale, a Última Ceia, de Joaquim Manuel da Rocha ou a Nossa Senhora da Pureza, de Joana do Salitre.

Igreja da Conceição Velha

Residência Faria Mantero

É no n.º 3 de um pequeno largo no Restelo que habita um edifício da década de 1940, projetado pelo arquiteto Vasco Regaleira, exemplo do revivalismo que caraterizou a arquitetura da época.

Em tempos, foi pertença de Enrique Mantero Belard, um bem-sucedido empresário do século XX, gestor de uma avultada fortuna, construída a pulso nas roças de cacau de São Tomé e Príncipe pelos seus antepassados, e de sua mulher, D. Gertrudes Verdades de Faria.

Mas o edifício tornou-se muito mais do que uma mera referência arquitectónica. Pela sua afinidade com as artes e atenta aos mais desfavorecidos, D. Gertrudes tinha um desejo: que, após a sua morte, ali passasse a funcionar uma ‘casa’, um verdadeiro ‘lar’ para cidadãos que se distinguissem pelo mérito cultural. Enrique Mantero de Belard concretizou o sonho da mulher: “Fortuna, método, generosidade, apreço pelas artes e cultura ou altruísmo foram ingredientes pessoais que o casal teve a sabedoria de conseguir combinar nas doses certas para fazer nascer uma obra humanitária singular a nível nacional. Obra em muito sonhada por ela. Mas no todo executada por ele”. (1)

E assim nasceu, em 1986, a Residência Faria de Mantero, doada, inicialmente, à Fundação Calouste Gulbenkian, que a transmitiu, posteriormente, à Misericórdia de Lisboa, para acolher “pessoas idosas, cultas de mérito e necessitadas”. (2) Por ali já passaram, nos seus últimos anos de vida, figuras como a pintora e ilustradora Maria Keil, a fadista Teresa Tarouca, a escritora Olga Gonçalves, o poeta e ensaísta António Ramos Rosa ou o pintor Barata Moura.

“Esta é uma casa feita de forma personalizada para quem aqui passa. É o que a torna tão especial”, explica Neli Monteiro, diretora da Residência. “Temos poucos utentes, todos ligados à cultura, à escrita e às artes, sendo que alguns deles mantêm as atividades profissionais. É uma ERPI (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas) de portas totalmente abertas. As pessoas têm liberdade para sair, para ir ver espetáculos, dar aulas, fazerem os seus passeios”.

A casa principal tem capacidade para cinco utentes, dispõe de um salão com capacidade para acolher eventos diversos (o último foi uma ópera), uma sala de jogo e outra de leitura, sendo que o sítio mais requisitado e visitado é a varanda sobre o jardim.

Residência Faria Mantero

É aí que Teresa Abecassis, pintora, passa a maior parte do seu tempo desde que chegou à residência há oito anos, depois de ter sofrido, em 2004, dois aneurismas que lhe roubaram a memória de curto prazo. Apesar disso, não esqueceu a técnica de pintar, algo que continua a fazer e que mostra, com orgulho: tem mais de 15 aguarelas no seu quarto, que quer expor em breve.

Além da casa principal, a estrutura residencial da Misericórdia de Lisboa ganhou, em 2022, três apartamentos de tipologia T0+1 (que se somam aos dois que já existiam), dotados com zona de estar/dormir, kitchenette (equipada com eletrodomésticos), televisão, telefone, internet e ar-condicionado, conferindo mais autonomia e conforto aos utentes.

“Os apartamentos estão dotados de condições para uma maior autonomia de quem neles habita. Foram pensados para mobilidade condicionada, têm pequenos eletrodomésticos para quem quiser cozinhar para si ou para quando recebem visitas. Tudo funciona em função da casa – refeições e tratamento de roupa, por exemplo –, mas as pessoas adaptam-se às suas necessidades. Até têm animais de estimação”, descreve Neli Monteiro.

É num desses apartamentos que encontramos a D. Helena. Recém-chegada – “estreei a minha casa no dia da coroação do rei Carlos III de Inglaterra”, diz-nos entre risos, como que se a sua chegada fosse, também ela, digna de coroação –, faz questão de nos mostrar duas pinturas, inéditas, feitas “só para mim”. Para cada uma delas, tem uma história: “o Carlos Pereira [autor das obras] só faz trabalhos a preto e branco e eu devo ser a única pessoa que tem coisas dele a cores. Um dia, viu-me a desfazer um casaco de cabedal (porque eu adoro fazer coisas com cabedal). Pediu-me um bocado e fez-me aquele desenho, que tem mais de 50 anos. Já me tinha feito também uma mosca verde no mesmo cabedal, mas esse já não está comigo. Ofereci ao Júlio Cortázar [escritor argentino], em Paris, por ele ter escrito um conto chamado A Mosca Verde”.

Da história benemérita de Enrique Mantero Belard fazem parte também os Prémios Nunes Correa Verdades de Faria instituídos, por vontade expressa no seu testamento, com o objetivo de destacar “os indivíduos que, em Portugal, mais tenham contribuído pelo seu esforço, trabalho ou estudos, para o cuidado e carinho dos idosos desprotegidos, para o progresso da medicina na sua aplicação às pessoas idosas e o progresso no tratamento das doenças do coração.” (3)

D. Helena lê, neste ato, uma “profunda declaração de amor” de Enrique Mantero pela sua mulher: “ela morreu com problemas do coração. E ele, para a homenagear, deixou escrito que os prémios deveriam ter o nome dela. Ironia do amor, ele também morreu pelo coração que lhe falhou”.

Mais do que um lugar com história, a Residência Faria Mantero acolhe uma infinidade de histórias, vividas, sentidas e transmitidas por quem lá passa. Talvez fosse, também este, o propósito de Enrique Mantero e Gertrudes Verdades de Faria.

* (as referências 1, 2 e 3 foram retiradas do livro da Coleção Beneméritos, da SCML, dedicado a Enrique Faria Mantero).

Palácio Paiva de Andrade

Integrado numa pequena rua no Bairro Alto, em Lisboa, o Palácio Paiva de Andrade, agora conhecido como Centro Social de São Boaventura, tomando por empréstimo o nome da rua onde se encontra, guarda dentro das suas paredes uma história de dor e amor ao próximo.

Em memória da filha precocemente falecida aos 22 anos, vítima de tuberculose, a sua mãe, Carolina Picaluga Paiva de Andrade determinou em testamento a criação de um instituto de ensino destinado a acolher 22 alunas oriundas de famílias carenciadas. O palácio, outrora palco de animados serões musicais onde se ouvia o piano tocado pela filha Luísa e onde o pai, Jacinto Paiva de Andrade, apresentava a sua coleção de arte aos convidados, figuras influentes da história da cidade, é agora uma referência no apoio à comunidade em Lisboa.

A morte intempestiva da jovem Luísa calou para sempre as gargalhadas no palacete e décadas mais tarde deu voz a um mito onde a paixão e o assombramento voltam a habitar o espaço. É sobre ela que paira uma neblina mística, que envolve o seu quarto, intocado por vontade testamentária desde a sua morte.

Quarto da menina

Carolina Augusta Picaluga Paiva de Andrade morre em 1912 e no seu testamento deixa a Santa Casa como herdeira do seu património, principalmente como executora dos seus desejos. As vontades de Carolina não eram apenas as suas, mas também do falecido marido Jacinto, unidos na intenção de perpetuar o nome da filha. Segundo a vontade de Carolina, deveria ser resguardado o quarto da casa do Instituto onde faleceu Luísa e colocar junto do seu leito algumas flores.

Quando a instituição recebeu o Instituto Luísa Paiva de Andrade, deu continuidade ao projeto da fundadora e, no cumprimento do seu desejo referido, manteve o quarto interdito até ao final da década de 80, quando problemas estruturais no espaço obrigaram à abertura da divisão. Na altura da reabertura do quarto, os relatos foram de estupefação ao constatar que um espaço esquecido no último piso do edifício, fechado à chave, permanecia mobilado como há cem anos e cheio de memórias pessoais de uma rapariga que nele tinha morrido em circunstâncias trágicas.

Centro São Boaventura

Reza a lenda que a jovem Luísa se terá enamorado por um jardineiro da casa. Esta paixão terá sido contrariada pelos seus pais, que a encerraram no quarto e é neste período de confinamento que a jovem se vê infetada pelo vírus da tuberculose, que lhe leva a vida. Os pais, angustiados pelo remorso de terem contribuído para a infelicidade da filha, decidiram imortalizar o seu nome através da criação do instituto com o seu nome e posteriormente com a preservação do seu quarto intacto por anos.

Nos dias de hoje, e continuado o legado da benemérita, a Santa Casa reestruturou o espaço, respeitando a vontade de Carolina em manter o “quarto da menina” fechado, e colocou aí um centro intergeracional que dá resposta a centenas de jovens e idosos. No Centro Social de São Boaventura há respostas para várias faixas etárias. Há lugar para os mais velhos e os mais novos, sem haver barreiras a limitar os espaços de uns e de outros ou atividades em que a idade seja critério de exclusão.

São Boaventura

No piso inferior do palácio, agora funciona uma ludoteca e um espaço de inclusão digital com computadores e uma impressora à disposição, com vista privilegiada para o jardim da casa. Já no piso superior existe um centro social, que fomenta um cruzamento de gerações espontâneo, onde em algumas ocasiões se encontram netos e avós, num convívio familiar e coeso. Existem várias iniciativas conjuntas, como passeios e oficinas ou projetos desenvolvidos com outras entidades e instituições.

O centro social está aberto de segunda a sexta-feira e é frequentado por dezenas de pessoas, muitas das quais almoçam e lancham no espaço. Para os que precisam, há também balneários para tomar banho, serviço de lavandaria e uma carrinha que faz o transporte de regresso a casa.

A Mitra de Lisboa

“Mitra” é uma expressão no léxico alfacinha que na sua maioria significa um insulto, ou uma forma de caracterizar alguém pela sua maneira de vestir ou falar. Em muitos casos associado a um estrato social e cultural mais baixo, ainda hoje, falar de “mitra”, ou “vai prá mitra”, ou ainda, “ir para a mitra”, significa o fim da linha, uma consequência de maus vícios e más escolhas feitas ao longo da vida.

Atualmente, a “Mitra” de Marvila, junto ao Poço do Bispo, é composta por dois edifícios bem distintos. Um é o palácio barroco do 1.º Patriarca de Lisboa, valorizado enquanto salão nobre da Câmara Municipal de Lisboa. O outro é o antigo Asilo de Mendicidade, que graças a uma intervenção de restauro e preservação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a quem foi cedido o espaço, em 1994, tem transformado a “Mitra” num espaço único, onde a história se cruza com a inovação e as Boas Causas.

Inaugurado em 1933, como Asilo da Mitra, a história do espaço começou bem antes. Em 1566, a Quinta da Mitra foi aforada perpetuamente ao Morgado do Esporão. Porém, a ligação desse eixo à nata do poder não ficou esquecida. No início do século XVII, a Mitra voltou a recuperar o domínio útil de uma parcela da sua antiga quinta, uma faixa retangular entre a estrada de Marvila e a linha do rio onde se instalou uma quinta de recreio ou residência de campo.

No segundo quartel do século XVIII, a Mitra recuperou o palácio devoluto e em vez de o arrendar novamente a terceiros, o Cardeal Patriarca de Lisboa ocupou-o e decidiu convertê-lo num sumptuoso palácio com ligação ao rio através de um cais privativo. Quando o Cardeal Patriarca escolheu a Quinta da Mitra para a sua quinta de recreio, o eixo entre a Madre Deus e o Poço do Bispo já era local de habitação de muitos palácios e importantes conventos. A escolha do prelado apenas confirmou esta situação pré-existente.

Homem deitado no chão contra a parede

Já em 1864, o palácio da Mitra terá sido vendido a D. José Saldanha, Marquês de Salamanca, fundador e concessionário dos Caminhos de Ferro Portugueses, pela quantia de 10 contos de réis. Dez anos depois, em 1874, o Marquês de Salamanca vendeu o mesmo palácio por 54 contos de réis, a Horatius Justus Perry, encarregado de negócios dos Estados Unidos da América, em Madrid, que vivia em Lisboa desde 1873, com a sua mulher, a poetisa Carolina Coronado. Perry morreu em 1891 e o palácio, após hipotecado, foi vendido em 1902 ao capitalista e deputado António Centeno, com a condição da viúva aí poder residir até à sua morte, que ocorreu em 1911.

Em 1930, e já depois de o espaço ter sido ser renovado para ser uma fábrica de fundição e metalúrgica, a Fábrica Seixas, o município de Lisboa adquire os terrenos da “Mitra”, por 4.000 contos, com o intuito de aí instalar um matadouro. Porém, optou por instalar, nos terrenos rústicos, a estação de limpeza oriental e nos barracões anexos, o Asilo da Mitra.

O asilo foi criado por iniciativa do coronel Lopes Mateus, inaugurado a 4 de maio de 1933. Na altura albergava perto de 1300 pessoas de ambos os sexos, e era apresentado como uma instituição modelar.

O Albergue de Mendicidade de Lisboa estava sob a tutela da Polícia de Segurança Pública para onde levava, compulsivamente, aqueles que eram apanhados a mendigar na via pública. A “Mitra” passou a ser o local para onde os afortunados de todas as idades eram compulsivamente recolhidos, identificados, tratados e encaminhados para a situação considerada mais adequada à sua condição, que poderia ser o internamento em instituições adequadas (doentes crónicos, doentes mentais, idosos isolados e crianças) ou o envio para tribunal, onde eram julgados.

mitra

Porém, pela falta de resposta das instituições estatais, muitos dos recolhidos que deveriam ser encaminhados para instituições não eram devidamente reencaminhados. Se os adultos iam sendo libertados mediante a fuga ou o pagamento da multa, as crianças, os mais velhos sem família ou abandonados, os doentes crónicos e os doentes psiquiátricos iam ficando acumulados no albergue, pelo que o espaço acabou por se tornar num depósito permanente onde se acumulavam os elementos destas populações fragilizadas, sem haver qualquer tipo de tratamento.

No início da década de 50 do século passado, o Albergue de Mitra vocacionou-se no acolhimento de doentes psiquiátricos. Entre 1952 e 1974, inicia-se então um período em que a “Mitra” se tornou um equipamento de retaguarda para doentes psiquiátricos prolongados, considerados incuráveis e sem perspetiva de tratamento, enviando-se para os hospitais (Júlio de Matos e Miguel Bombarda) apenas aqueles que pudessem ser tratados com novos fármacos que, entretanto, iam sendo criados.

A 31 de maio de 1977, o Albergue Distrital de Mendicidade de Lisboa, foi extinto e colocado sob tutela da Secretaria de Estado dos Assuntos Sociais, tendo sido reconvertido, no ano seguinte, no Centro de Apoio Social de Lisboa, com duas valências, a de Centro de Terceira Idade e de serviço de acolhimento e triagem para encaminhamento para instituições especializadas.

mitra

Foi já depois da viragem do milénio, em 2014, que a Câmara Municipal de Lisboa transferiu para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa os terrenos e instalações do antigo Albergue da Mitra. Com o intuito de acabar com o estigma associado à mendicidade e à indigência, e devolver à cidade um espaço voltado paras as exigências do século XXI, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa iniciou vários de trabalhos de restauro e preservação do espaço, criando várias respostas sociais de referência.

O antigo Albergue da Mitra, que antes foi a Fábrica Seixas e hoje é o “Lisboa Social Mitra” da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa é assim um dos locais mais importantes da cidade de Lisboa pela carga histórica que possui e pelo legado social e cultural que tem.

Museu de São Roque

Ao descer do Príncipe Real ou a subir do Chiado, no Largo Trindade Coelho, conhecido por muitos como o Largo da Misericórdia por ser a morada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, encontra-se o Museu de São Roque. Instalado na antiga casa professa dos padres jesuítas, foi doado à Santa Casa, em 1768, com a igreja, de quem tomou o nome do santo por empréstimo, como “vizinha do lado”. Guarda no seu interior uma das mais ricas e importantes coleções de Arte Sacra conhecidas e um espólio de relíquias de santos, raro no mundo.

Ourivesaria, escultura e pintura, mas também um conjunto de paramentos feito em ricos tecidos, bordados a ouro e a fio de seda, para serem utilizados em celebrações religiosas a que assistiram reis e rainhas, “pintam” os vários núcleos museológicos do Museu de São Roque. É neste espaço que encontramos peças únicas, tesouros que testemunham diferentes épocas, que tornam o passado mais próximo e um encontro com mais de 500 anos entre a arte e a história.

Embora fundado oficialmente no início do século XX, em oitocentos, era já visível a preocupação da instituição em divulgar ao público o seu rico acervo artístico. Exemplo disso é a primeira apresentação das relíquias da igreja de São Roque, a 30 de janeiro de 1843, na presença da família real.

Em 1898, por ocasião das comemorações do IV centenário da fundação da Santa Casa, são pela primeira vez expostas publicamente na sacristia da igreja as alfaias e paramentos do tesouro da capela de São João Batista, obra-prima de importação romana de setecentos, edificada por iniciativa de D. João V, num cenário de grande fausto espiritual, cultural e político, e numa tentativa de emulação do culto litúrgico pontifical. Nesse mesmo ano, assinala-se também o IV centenário do descobrimento do caminho marítimo para a Índia, cujas celebrações contribuíram para o sucesso da exposição de obras de que a Santa Casa era possuidora.

Nesta ocasião, foi igualmente apresentada ao público, nos altares que ladeiam a capela-mor, a coleção de relíquias de que a Santa Casa era proprietária como um dos principais polos dos festejos.

A curiosidade e interesse pela beleza e raridade desta coleção incentivou a apresentação permanente deste tesouro da Misericórdia de Lisboa num espaço mais amplo, motivando o então provedor António Augusto Pereira de Miranda (1838-1922), ministro do Reino, a criar o Museu do Thesouro da Capela de São João Batista, escolhendo a antiga sala de extrações da lotaria para a sua instalação. O arquiteto Arnaldo Adães Bermudes foi o escolhido para a elaboração do projeto e da regularização da fachada do edifício adjacente à igreja.

Concluídas as obras, o Museu de São Roque foi solenemente inaugurado em 1905. Mais de cem anos passados sobre esse dia 11 de janeiro, momento que contou com a presença de ilustres figuras, entre elas o rei D. Carlos e a rainha D. Amélia, o Museu de São Roque apresenta-se como uma realidade cultural profundamente distinta da que abriu portas no início do século passado.

NOTA: Vídeo produzido, em 2021, durante o período pandémico, provocado pelo Covid-19.

Ao longo do século XX, foi objeto de várias remodelações, que permitiram acompanhar as mudanças operadas no domínio da museologia. A remodelação mais profunda foi feita entre 2006 e 2008, permitindo ao museu ampliar e duplicar a sua área de exposição permanente.

Hoje, completamente reestruturado possui uma riquíssima coleção, o antigo espólio de arte sacra pertencente à Companhia de Jesus, compreendendo pintura, escultura, objetos litúrgicos, arte oriental, e uma das mais importantes coleções de relicários da Europa, assim como o espólio da instituição. Destacam-se os núcleos expositivos da Ermida de São Roque com as quatro tábuas quinhentistas atribuídas a Cristóvão de Utreque, o núcleo dedicado à Companhia de Jesus documenta os cerca de duzentos anos de permanência desta Ordem, em São Roque, o núcleo de Arte Oriental que inclui peças de arte oriundas do Próximo Oriente, Índia, Japão e China e, ainda, um núcleo dedicado à Santa Casa, que “narra” a história da instituição.

 

Centro de Bem Estar Infantil das Janelas Verdes

Criado em 1972, ano em que foram recebidas as primeiras crianças, o Centro de Bem Estar Infantil das Janelas Verdes foi construído no espaço onde existia uma vivenda doada por D. Hortênsia Castanheira Klein à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, tendo sido neste mesmo local que viveu o primeiro presidente da República Portuguesa, Manuel de Arriaga.

Em 1941, D. Hortênsia Castanheira Klein decide em testamento que o espaço seria entregue à Misericórdia de Lisboa, com o encargo de aí se fazer uma creche-escola infantil para acolher os filhos das “mulheres pobres” e que o financiamento deste equipamento seria feito através do rendimento dos seus outros ativos imobiliários.

Volvidos onze anos, em 1952, a esposa do Ministro da Presidência, D. Maria Amália Lumbrales, solicitou o imóvel para aí instalar provisoriamente as oficinas de trabalhos manuais do Instituto Condessa de Rilvas, pedido que foi recusado. Só em 1957 foi escolhido o arquiteto Manuel Alzina de Menezes, que ficou encarregue de fazer o anteprojeto da creche a instalar no imóvel.

Em 1971, é concluído com sucesso o projeto do novo edificado, sendo a loja e o piso 4 ocupados pelas duas firmas, os pisos 1 a 3 pela divisão de informática da instituição e os pisos 6 e 7 por uma creche e jardim de infância da Santa Casa, que viria a ser batizada como Centro de Bem Estar Infantil das Janelas Verdes. Assim, a 2 de julho de 1972 a creche abre finalmente as suas portas às primeiras crianças.

 

Hospital de Sant’Ana

O Hospital Ortopédico de Sant’Ana, localizado na marginal que une Lisboa a Cascais, na Parede, é uma referência na área da ortopedia e traumatologia. Com 118 anos de história, este equipamento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa nasceu como Sanatório de Sant’Anna e é hoje uma unidade de saúde com uma notável reputação nacional e internacional.

A sua longa fachada, paralela à Avenida Marginal, revela o gosto eclético da arquitetura portuguesa do início do século XX, ao qual se alia uma profunda capacidade funcional, bem expressa na articulação de espaços, serviços e equipamentos.

A iniciativa para a sua edificação partiu do casal filantropo Amélia e Frederico Biester, depois sucedidos por Claudina Chamiço. Donos de avultada fortuna, sem filhos, afetados pela morte de familiares com tuberculose, cedo se entusiasmaram com o desafio do médico e amigo da família, Dr. Sousa Martins, de construir um sanatório para as crianças desfavorecidas.

Em 1899 e já com o projeto dos arquitetos Rosendo Carvalheira, Álvaro Machado, Couto Abreu, Norte Júnior e Marques Silva, autorizado pela Câmara de Cascais, uma sucessão de acontecimentos trágicos – a morte prematura da quase totalidade dos seus mentores – ia comprometendo o início da obra. Ainda assim, foi lançada a primeira pedra em 1901 e em 31 de julho de 1904 é inaugurado, não pelo casal Biester, mas pela herdeira da fortuna dos Biester, Claudina de Freitas Guimarães Chamiço.

O sanatório surge na época como uma unidade hospitalar modelo, especializada no combate e prevenção da tuberculose óssea e destinada a acolher sessenta crianças do sexo feminino e quarenta adultos, vinte homens com complicações cardiovasculares e vinte mulheres com problemas cancerígenos.

Para a prossecução deste propósito, a fundadora contou com o apoio das irmãs de S. Vicente de Paulo, sendo estas substituídas, em 1910, pelas irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena e um capelão, ficando com residência permanente numa área distinta no piso superior do edifício principal.

Por vontade expressa no testamento de Claudina Chamiço e após a sua morte, em 1913, o sanatório passa a ser gerido por uma comissão de administração composta por sete elementos: o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. António Mendes Belo como presidente não executivo, para tesoureiro, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Conselheiro Augusto Pereira de Miranda, um familiar dos herdeiros (na altura o marido da sobrinha de Claudina Chamiço), António José de Carvalho, um membro representante da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa e mais três membros escolhidos pelo Cardeal. A dificuldade financeira sentida por esta comissão, determinou que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa assumisse a administração do sanatório, em 1927.

Em 1956, é idealizado o projeto de realização de um Centro de Recuperação de Incapacitados Motores, que passa a ser designado por Centro de Reabilitação de Diminuídos Motores. É só em 1961 e por despacho governamental que o sanatório ganha identidade jurídica como hospital central, passando a denominar-se Hospital Ortopédico de Sant’Ana.

Desde então, o hospital promoveu várias especialidades e iniciativas pioneiras, que passaram pela criação, formação e especialização de equipas multiprofissionais, como ortopedistas, anestesiologistas, fisiatras, enfermeiras, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e técnicos ortoprotésicos.

Já neste milénio o Hospital Ortopédico de Sant’Ana inicia um processo de modernização e atualização tecnológica, com a criação e remodelação de novos espaços do complexo. Em 2014, é lançada a primeira pedra de um novo edifício hospitalar, inaugurado em 2018. Esta unidade conta com uma área total de construção de mais de 6.000 m², um bloco operatório com 4 salas, 60 camas de internamento, uma unidade de cirurgia ambulatória e uma central de esterilização.

Assista ao episódio do programa da RTP, Visita Guiada, dedicado ao Hospital Ortopédico de Sant’Ana, aqui.

 

Diversas especialidades médicas e cirúrgicas

Programas de saúde e cuidados de saúde ao domicílio

Unidades da rede nacional

Prestação de apoio psicológico e psicoterapêutico

Aluguer de frações habitacionais, não habitacionais e para jovens

Bens entregues à instituição direcionados para as boas causas

Programação e atividades Cultura Santa Casa

Incubação, mentoria e open calls

Anúncios de emprego da Santa Casa

Empregabilidade ao serviço das pessoas com deficiência

Jogos sociais do Estado e bolsas de educação

Ensino superior e formação profissional

Projetos de empreendedorismo e inovação social

Recuperação de património social e histórico das Misericórdias

Investimento na investigação nas áreas das biociências

Prémios nas áreas da ação social e saúde

Voluntariado nas áreas da ação social, saúde e cultura

Ambiente, bem-estar interno e comunidade

Ofertas de emprego

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