Igor tem 34 anos. Nasceu na Moldávia e vive em Portugal há 20 anos. Em 2019, numa festa de aniversário, e apesar de “ter experiência em mergulhos e natação”, mergulhou numa piscina, a pouca profundidade. Fraturou a C7, o que lhe provocou tetraplegia incompleta. Esteve no Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão entre 2020 e 2022, tendo passado por vários internamentos e tratamentos ambulatórios.
“É, de facto, muito importante alertar a sociedade sobre os mergulhos e brincadeiras nas praias e piscinas. Pensamos que estas situações só acontecem aos outros, mas não. E se estas campanhas de sensibilização forem feitas por pessoas como eu, que passaram por isto, mais impacto terão nos recetores”, diz Igor.
Esta é uma posição partilhada também por Henrique, 50 anos e 32 de tetraplégico. Também ele mergulhou “numa piscina pouco profunda. Bati no fundo e fraturei a C4, C5 e C6. O perigo está sempre lá, tal como quando conduzimos uma viatura”. Por isso, considera que “todas as campanhas que possam existir são bem-vindas, o que não invalida que seja feito um trabalho mais amplo, sobretudo nas escolas e nas idades mais jovens, pois quando ganhamos alguma autonomia e não temos tanta supervisão dos adultos, e se tivermos recebido informação sobre os perigos que existem quando mergulhamos no desconhecido, talvez consigamos evitar alguns acidentes destes”.
Tanto Igor como Henrique insistem na prevenção como a melhor forma de evitar males maiores, alguns deles sem retorno: “É preciso que sejamos responsáveis. Não fazer uma coisa tão simples como, por exemplo, brincar aos empurrões à volta das piscinas, porque tudo acontece num segundo e esses ambientes têm tudo para correr mal”, insiste Igor. Henrique assina por baixo: “O que eu digo às pessoas é que se divirtam, sim. Mas na hora de mergulhar, não custa nada verificar primeiro o local onde o vão fazer. Além disso, não fazer mergulhos para os quais não se está apto – mergulhar bem exige coordenação motora, alguma força e técnica”.
Apesar das situações limitativas que vivem, estes dois exemplos de superação mantêm muita esperança no futuro. Igor pratica rugby em cadeira de rodas no Casa Pia e atletismo adaptado na associação Jorge Pina, tendo já praticado outras modalidades adaptadas como surf, andebol e cross fit. “Apesar de ter recuperado muito após o acidente, tenho esperança que a ciência ainda nos ajude a recuperar mais movimentos. Quem sabe, voltar a conseguir subir mais alguns metros”. Já Henrique espera continuar a trabalhar como analista de sistemas. “Apesar de a tetraplegia obrigar a uma constante adaptação ao dia a dia, seja no trabalho ou em ambiente mais social, a exigência física e mental é muito grande. Mas espero conseguir, tal como até aqui, integrar-me em todos os aspetos da vida”.
Com o lema “Mede as consequências. Mergulha em Segurança”, a campanha “Mergulho Seguro” tem como objetivo alertar e sensibilizar os mais jovens para a prevenção de lesões vertebro-medulares provocadas por acidentes relacionados com mergulhos imponderados (em piscinas, praias ou outras zonas balneares, costeiras ou fluviais), e que constituem uma das maiores causas de situações graves de paraplegia e tetraplegia.
Lançada, em 2013, pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e pela Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT), dez anos depois o alerta mantém-se, porque “mais vale prevenir do que remediar”.
E porque nunca é demais lembrar, antes de mergulhar, avalie primeiramente o espaço, perceba onde há mais profundidade bem como se há rochas envolventes e/ou correntes de água. Evite locais desconhecidos, não vigiados e sem as devidas condições de segurança indicadas para mergulhar. Informe-se, fale com frequentadores do local e com as equipas de nadadores salvadores. Garanta que existe água debaixo de água, para não bater no fundo. Mergulhe em segurança.