“É um orgulho para a SCML apoiar esta iniciativa, que não podia ser mais atual nos dias de hoje. Esta história é um verdadeiro testemunho de esperança e resiliência na procura de um futuro melhor. O livro desafia-nos a compreender melhor as realidades dos refugiados e salienta a importância do desenvolvimento de respostas de inclusão.”
Foi com estas palavras que Rita Prates, vice-provedora da SCML, abriu a sessão de apresentação do livro 100 milhões de nós, que decorreu na passada sexta-feira (13) na Sala de Extrações da Misericórdia de Lisboa.
A obra dá a conhecer a história de Ali Nazari, hoje com 25 anos e cidadão português, que teve de sair do Afeganistão com apenas 14 anos, para fugir a uma vida de perseguição, guerra e pobreza. O jovem emocionou os presentes ao partilhar detalhes da sua longa jornada que o trouxe a Portugal, país do qual nunca tinha ouvido falar, exceto por um tal de “Cristiano Ronaldo”.
No evento, moderado pelo jornalista da SIC Paulo Nogueira, participaram diversos convidados, incluindo a autora do livro, Filipa Baptista, bem como representantes das entidades envolvidas no acolhimento de refugiados, e de Ali, em particular. Foi o caso de Sara Pimenta, Leadership & Competence Leader da IKEA, empresa onde trabalha Ali, no setor da restauração. A responsável contou que o jovem chegou à empresa sueca através do Alto Comissariado para as Imigrações e da Santa Casa, tendo sido dos primeiros a entrar ao abrigo do programa de empregabilidade para refugiados que a IKEA pratica. Sara Pimenta salientou a disponibilidade do Ali não só para aprender, mas para facilitar e promover a integração de outros.
Já Dora Estoura, do Conselho Português para os Refugiados, realçou o jovem afegão como um exemplo para ele próprio e para os outros, lembrando que existem atualmente mais de 125 milhões de refugiados no mundo. “Estas pessoas não deixam os seus países por escolha própria, mas sim porque enfrentam perseguições e ameaças que colocam as suas vidas em risco. A história de Ali é um exemplo de coragem e de inspiração.”
Esteve também presente o Padre Fernando Ribeiro, do Serviço Jesuíta aos Refugiados, que abordou a importância da fé no processo de superação dos desafios:
“O aspeto espiritual é um parente pobre no contexto do acolhimento aos refugiados. A questão da fé é algo profundamente vincada nestas pessoas e nas suas experiências. Desempenha um papel crucial nas decisões que tomam e na ultrapassagem dos obstáculos e das dificuldades que enfrentam nas suas vidas.”
Por sua vez, a autora Filipa Baptista explicou que o livro que escreveu e ilustrou “narra a experiência do Ali, por quem nós todos nos sentimos impactados pela pessoa que é, pela experiência de vida que tem, mas também pela resiliência e pelo sorriso, pela disponibilidade e pelo voluntarismo que o caracterizam. Pretende-se narrar a história do Ali, mas não se ficar por aí; de alguma forma, é também interpelação e um convite à ação. É difícil, é complexo, mas é possível. Assim existam instituições e organizações para atuarem.”
Esta é, aliás, uma área na qual a Santa Casa tem desempenhado um papel preponderante, como lembrou Rita Prates: “A equipa de Integração Comunitária da Direção de Infância e Juventude da Misericórdia de Lisboa apoia 160 jovens de 24 nacionalidades diferentes, num esforço contínuo para construir futuros mais promissores.”
Ali Nazari já conseguiu visitar o seu país natal, em 2023. Hoje, além de continuar os seus estudos (está agora no 12.º ano), pratica MMA (uma modalidade desportiva de artes marciais) e pretende constituir família. Para tal, poderá contar com a ajuda das receitas provenientes da venda do livro, ajudando-o a concretizar os seus sonhos.
Esta história não é apenas uma jornada individual, mas também uma celebração da solidariedade e da capacidade humana de acolher e transformar vidas. Como sintetizou Dora Estoura, “estas pessoas pegaram na sua tristeza, no seu esforço e na sua mágoa e não as transformaram em nada negativo, bem pelo contrário. Utilizaram-nas para lutarem pelos seus sonhos, para construírem uma vida melhor e para contribuírem com algo muito positivo para a sociedade que os acolheu.”