O concerto inaugural de um dos mais emblemáticos e conceituados ciclo de espetáculos musicais do país será marcado pela estreia absoluta de duas obras, as quais foram criadas sob encomenda da Santa Casa aos compositores Sara Ross e Carlos Caires, reforçando o papel da instituição como mecenas da criação musical contemporânea.
Carlos Caires, professor na Escola Superior de Música de Lisboa, tem uma carreira marcada pela experimentação sonora e pela incorporação de tecnologias digitais na composição. A sua obra, apresentada em festivais internacionais e distinguida com diversos prémios, reflete uma constante procura de novas linguagens, em diálogo com a tradição musical europeia.
Por sua vez, Sara Ross – compositora e investigadora portuguesa – desenvolve trabalho inovador em torno da relação entre voz, corpo e espaço. A sua produção abrange ópera, música coral e repertório instrumental, com especial atenção às dimensões performativas e interdisciplinares da criação artística. As obras de Sara Ross são apresentadas regularmente em Portugal e no estrangeiro, com a artista a ser reconhecida como uma das vozes mais singulares da música portuguesa contemporânea.
Nesta edição, a Temporada Música em São Roque assume especial importância, dado ocorrer no ano em que se evocam os 500 anos da morte da Rainha D. Leonor (1458–1525), fundadora da Misericórdia de Lisboa em 1498. A sua visão perdura como matriz identitária da Santa Casa e inspira a 37.ª temporada, dedicada à memória de “A Princesa Perfeitíssima” como é conhecida esta figura histórica, que deixou marca profunda na vida social e artística do país.
Além destas estreias, a programação da 37.ª Temporada Música em São Roque integra um conjunto de propostas que cruzam a recuperação de património musical com a leitura contemporânea das fontes históricas. É o caso do “Ensemble SEO” (Sintra Estúdio de Ópera), que interpreta repertórios sacros portugueses preservados em arquivos nacionais, apresentados agora em estreia moderna.
No programa consta ainda o “Concerto Atlântico”, que recria ambientes sonoros das cortes ibéricas do tempo de D. Leonor, revelando o esplendor artístico e cultural da época; o “Musurgia Ensemble”, que apresenta obras portuguesas e franco-flamengas do século XVI conservadas na Universidade de Coimbra ou o grupo “Arte Minima”, que evoca Lisboa quinhentista através de itinerários musicais que permitem “ouvir” a capital no período da fundação da Misericórdia, marcada pelo encontro entre tradição local e influências internacionais.
O encerramento da temporada é protagonizado pelo agrupamento “Cupertinos”, da Fundação Cupertino de Miranda, com um programa centrado na devoção mariana na polifonia portuguesa e ibérica dos séculos XVI e XVII. A escolha reafirma a espiritualidade que inspirou D. Leonor e estabelece uma ponte entre memória, fé e criação artística.
A 37.ª Temporada Música em São Roque decorre entre 13 e 16 de novembro, na Igreja de São Roque e na Igreja de São Pedro de Alcântara, espaços emblemáticos da Misericórdia de Lisboa. O programa completo poderá ser consultado no site oficial do evento.