Do programa constaram temas como o percurso de vida das pessoas com deficiência, desde a saída da escola ao envelhecimento, passando pela integração laboral, abordados tanto pela provedora da Santa Casa, Ana Jorge, como pela secretária de Estado da Inclusão, Ana Sofia Antunes.
“A Santa Casa tem como uma das suas missões ir ao encontro dos mais vulneráveis, e a área da deficiência nunca foi esquecida”, afirmou Ana Jorge.
Elogiando o trabalho desenvolvido pela Valor T – a agência de empregabilidade vocacionada para a deficiência com a chancela da Misericórdia de Lisboa –, a provedora considerou que este serviço “completa o ciclo”. Um ciclo que se inicia nos vários equipamentos da instituição que apoiam as pessoas com deficiência, desde a infância, e que se prolonga até ao momento da procura de emprego. “Estaremos, obviamente, muito envolvidos e empenhados para fazermos mais e melhor”, assegurou Ana Jorge.
Ana Sofia Antunes, por sua vez, realçou o trabalho desenvolvido pelo Governo ao longo dos últimos anos, destacando medidas como os apoios sociais para pessoas com deficiência ou a prestação social para a inclusão.
A secretária de Estado elogiou ainda a realização do seminário, acreditando que traria “ideias inspiradoras e novas parcerias”. E deixou uma garantia: “A provedora sabe que conta comigo. Esta casa tem o conhecimento, as pessoas, o saber e a capacidade de fazer, pelo que nunca iremos deixar de apoiar projetos e ideias”.
A iniciativa, que teve lugar no Convento de São Pedro de Alcântara, promovida por várias unidades orgânicas da Santa Casa, visou discutir alguns modelos de integração das pessoas com deficiência no mundo do trabalho e a plena integração destas pessoas na sociedade, durante a sua transição da adolescência para a vida adulta.
A conferência contou com a participação de Laura Owens, especialista internacional nesta matéria e presidente da TransCen, organização sem fins lucrativos dedicada a melhorar os resultados educacionais e de emprego para pessoas com deficiência.
Logo no início da sua intervenção, Laura Owens elogiou o trabalho que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) tem vindo a desenvolver na área da deficiência, destacando que é “importante que as organizações olhem cada vez mais para as questões da inclusão das pessoas com deficiência na sociedade”.
“Todo o trabalho que fazem aqui na Santa Casa é merecedor dos maiores elogios. É importante trabalhar a deficiência nos vários escalões etários e vocês (SCML) têm respostas adequadas e ajustadas a cada caso, para isso”, disse a presidente da TransCen.
Para Laura Owens é necessário compreender que “uma vida com significado para as pessoas com algum tipo de deficiência é sempre um desafio”, considerando que é importante “ouvir os interesses delas e as necessidades que têm, porque o que é significativo para a maioria de nós não o é para elas”. Para destacar este ponto, a especialista deu a conhecer aos presentes o exemplo de uma jovem com quem teve oportunidade de trabalhar na TransCen.
“Há alguns anos conheci a Anne e para ela o importante para ser verdadeiramente feliz não era ter dinheiro, nem um carro. Era principalmente ter amigos, ter uma família, mas acima de tudo ser parte da comunidade e ser útil a ela”.
Para a professora universitária, a integração de uma pessoa com deficiência, no quotidiano diário de uma sociedade, nem sempre é verdadeiramente inclusiva. “Mais do que habilitar as pessoas a conseguirem fazer a maioria das coisas que todos nós fazemos diariamente, precisamos igualmente de incluir e não apenas integrar. Não basta conseguir ir a um café e pedir uma bebida. É também importante que as pessoas conheçam a pessoa que está à sua frente, que falem e interagem com ela. Isso sim, é integrar e incluir”, concluiu a investigadora.
O Rock in Rio é, por definição, um festival de música, mas, nos últimos anos, tornou-se em algo muito maior. Pode ouvir-se música, é certo, mas também aprender. Esta quarta-feira, 22 de junho, as colunas desligaram-se para dar tempo à Rock in Rio Academy. Neste evento, seis candidatos da Valor T – que, entretanto, já estão inseridos no mercado de trabalho – fizeram o acolhimento e a credenciação dos participantes da Academia do Rock in Rio.
A Cidade do Rock de Lisboa abriu novamente as portas para receber a 3ª edição do Rock in Rio Academy – uma ação de formação em gestão com base no modelo de negócio de uma das maiores marcas de experiência do mundo.
A Valor T, a agência de empregabilidade dedicada a pessoas com deficiência da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, convidou Maria, Miguel, Marcos, Ronica, Tiago e Cânia para participar no evento. Uns encaminhavam os participantes, outros asseguravam a credenciação. Sempre acompanhados pela equipa da Valor T. À medida que as tarefas foram distribuídas, o nervoso inicial passou rapidamente. Orgulhosos pela oportunidade, estes homens e mulheres desejavam intensamente mostrar o seu valor e capacidade de trabalho.
“Já tinha desistido de procurar”
Entre os seis elementos, está Maria Moreira, 36 anos, de Sintra. Inscreveu-se logo no início do lançamento da Valor T. “O processo levou algum tempo”, recorda. Mas hoje está “feliz e realizada”. “Como se sabe, é difícil para as pessoas com deficiência entrar no mercado de trabalho. Trabalhei nas limpezas, mas não era o que gostava de fazer”.
A candidata tem uma lesão no plexo braquial, afetando principalmente os movimentos e a sensibilidade do ombro e cotovelo. Movimentos como levantar e abrir o braço, e dobrar o cotovelo ficam difíceis ou impossíveis. Por esta razão, cada vez que procurava emprego, “as portas fechavam-se”, conta.
Quando Maria recebeu um telefonema da Valor T, não esperava que do outro lado da linha fosse anunciada a oportunidade que tanto queria. Hoje é operadora ajudante de loja no El Corte Inglés. “Estou feliz. Já tinha desistido de procurar e, quando menos esperava, a sorte bateu-me à porta”, lembra, sorridente. “Vim apenas pela experiência, nem foi pelo bilhete que nos oferecem. Normalmente, apenas escolhem os modelos e perfeitos para fazerem parte destes eventos. Hoje é o meu dia”, rematou.
“É uma oportunidade para socializar”
Também Tiago Ferreira, 26 anos, de Santa Iria da Azoia, encontrou na agência de empregabilidade para pessoas com deficiência, da Misericórdia de Lisboa, um porto de abrigo. A história repete-se. “As pessoas com deficiência têm uma dificuldade acrescida em entrar no mercado de trabalho”, sublinha.
O jovem candidatou-se em 2021. Atualmente está a trabalhar como auxiliar de jardinagem no Pingo Doce. “Senão fosse a Valor T, não teria conseguido entrar no mercado de trabalho. Há um estigma enorme em relação às pessoas com deficiência”, nota.
Tiago sofre de uma doença crónica que o impede de absorver cálcio, estando medicado para o efeito. Sobre a iniciativa desta quarta-feira, o jovem jardineiro acredita que “é uma oportunidade para socializar, conhecer novas pessoas e perder um pouco da timidez” que tem.
“Faço o que gosto”
Já Marcos Rosa, 39 anos, de Porto Alegre (Brasil), há quatro anos em Portugal, encontrou a agência Valor T através do Google. Fez entrevista em janeiro e depois começou a receber várias propostas de trabalho ao seu perfil. Em abril, começou a trabalhar na Zara. “Comecei como part-time, o salário é bom em comparação com outros que já vi, e, agora, vou ter um horário completo. Faço o que gosto, trabalho com pessoas, com público, com vendas. Era exatamente o que eu procurava”, diz, satisfeito.
O brasileiro está a recuperar de cancro e à espera de transplante de médula. Enquanto recupera, confessa estar “feliz” por sentir-se útil de novo. Para finalizar, Marco conta que é a primeira vez que irá participar no Rock in Rio. “Eu estou a realizar um sonho”, diz, sorridente.
Esta é uma campanha que reflete a estratégia da Santa Casa no que respeita à sua política de diversidade e inclusão, e que surge após a aprovação do primeiro Plano para a Diversidade e Inclusão e a consequente elaboração da Política da Diversidade e Inclusão da Misericórdia de Lisboa, na qual se reconhece a importância de promover estes valores entre todos na instituição.
A Misericórdia de Lisboa fecha o Mês Europeu da Diversidade (maio) com a divulgação desta que começou por ser uma campanha direcionada a todos os colaboradores, envolvendo os próprios como protagonistas, mas que é divulgada agora, também, ao público em geral.
Paulo Silva, Lino Gomes, Catarina Almeida, Neli Costa, Leandro Culita, Eduarda Gomes, Alexandre Freitas e Irene Vieira são os protagonistas do filme institucional que alerta para a importância da diversidade e da inclusão na sociedade. E como os exemplos devem começar internamente, foi com a “prata da casa” que esta campanha se materializou. Oito colaboradores, com nacionalidades e experiências de vida distintas, a comprovarem que aquilo que distingue cada um de nós deve ser respeitado e naturalmente aceite, para que o mundo se torne cada vez mais inclusivo.
A representar os valores de diversidade de inclusão, inerentes à Misericórdia de Lisboa, cada um dos participantes nesta iniciativa transmite um pouco de si, relembrando que na instituição todos são iguais, independentemente de possuírem características ou representarem escolhas distintas.
Os rostos da campanha
Foi no final do verão de 2021 que a Misericórdia de Lisboa anunciou, internamente, que procurava quem representasse a diversidade existente na instituição: pessoas com diferentes identidades de género, orientação sexual, etnias, religião, território de origem, cultura, línguas, nacionalidades diferentes, entre outros fatores.
Ao apelo responderam dezenas de colaboradores que, um mês depois, participaram num casting. Os escolhidos foram, em novembro, mostrar o seu à-vontade frente às câmaras de filmar e fotografar, num dia de gravações repleto de animação e nervosismo, com recordações que ficarão na memória de todos.
Sob o lema “O que é para todos, começa em nós”, Paulo, Lino, Catarina, Neli, Leandro, Eduarda, Alexandre e Irene vestiram, com orgulho, a camisola da instituição, dando rosto à primeira campanha institucional da Misericórdia de Lisboa dedicada à diversidade, à não discriminação e à inclusão.
Há uma relação muito estreita entre a rádio e os deficientes visuais. A rádio é um meio democrático, de linguagem particular e com características que o tornam além de informativo, emotivo e imaginativo, permitindo que os ouvintes construam as suas próprias imagens.
Esta terça-feira, 24 de maio, nas instalações do Grupo da Rádio Renascença, na Buraca, o grupo do Centro de Reabilitação de Nossa Senhora dos Anjos (CRNSA), propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, espera com alguma ansiedade a visita. O coração bate mais depressa, sente-se emoção. Vão sentir onde se faz a magia da rádio.
A receção não poderia ser melhor. Após um breve resumo histórico do Grupo da Renascença, foi feita uma audiodescrição dos corredores, da redação, dos estúdios, das pessoas, como estão vestidas, se são altas ou baixas. O objetivo era descrever da melhor forma possível todos os elementos e pessoas nas instalações.
Os testemunhos
João Fernandes, 21 anos, com cegueira total, destaca-se pelo seu entusiasmo e curiosidade. Está a realizar um sonho de criança. Conhece como ninguém os locutores, as estações de rádio, os programas e tudo o que tenha a ver com este mundo.
Enquanto esperam para entrar, João explica a sua paixão pela rádio e o sonho que tem de conhecer o Pedro Azevedo da Renascença. Para o jovem utente do CRNSA o locutor está ao nível de um Cristiano Ronaldo. Um marca golos que valem milhões, outro faz relatos que são verdadeiras imagens. Um pequeno milagre para quem nada vê.
Nesse instante, João improvisa um relato de um jogo de futebol digno de qualquer emissora.
“A rádio é um modo de vida para mim. É uma companhia diária que me transporta para o mundo e que, pela descrição pormenorizada, me permite contruir imagens mentais do que ouço”, finaliza.
Carlos Pereira, 55 anos, perdeu a visão quando tinha 20. Foi técnico de som e é locutor numa rádio online. “A rádio é uma grande companhia para quem não vê, algo que a televisão não consegue fazer. A rádio tem uma descrição aprofundada que permite ao deficiente visual (com cegueira ou baixa-visão) construir imagens. O relato de futebol é um bom exemplo. Os detalhes e a descrição pormenorizada do locutor transportam-nos para uma construção de uma imagem do que se está a passar a cada segundo do jogo”, nota. “Gostava de um dia trabalhar numa rádio a sério, numa rádio grande. Esse é um dos meus sonhos”, confessa Carlos.
O sentimento é geral entre os utentes. A rádio é um importante meio de comunicação. Sentem-se valorizados e incluídos, pois podem “ouvir o mundo com palavras”, compreender melhor os mais variados temas e conhecer várias realidades.
Em maio, o mês Europeu da Diversidade na União Europeia, mostramos um retrato da diversidade e da inclusão presentes na Misericórdia de Lisboa. A temática é facilmente relacionada com a própria instituição, já que a sua missão é realizar a melhoria do bem-estar da pessoa no seu todo, prioritariamente dos mais desprotegidos. Nesta Casa, todos são respeitados, incluídos e valorizados, independentemente do género, idade, origem, orientação sexual, religião, contexto social, cultura ou incapacidade.
Um retrato de diversidade e inclusão no universo interno da instituição
Pelas diversas respostas da Santa Casa, numa manhã ouve-se português de Portugal, do Brasil, de Angola, de Moçambique, da Guiné, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe. Já pela tarde, ouve-se espanhol de Espanha, de Cuba ou da Venezuela. Continuando o roteiro, na Misericórdia de Lisboa também se fala ucraniano, italiano, francês, polaco, moldavo, romeno e inglês. É uma instituição do mundo, onde cachupa de Cabo Verde, cozido à portuguesa, paella de Espanha, borscht da Ucrânia, feijoada à brasileira, calulu de Angola ou kotlet schabowy da Polónia fazem parte do menu. Um olá, pode ser oi, um hello, um holla, um ciao ou salut, entre tantas outras versões linguísticas que no universo da instituição se fazem ouvir.
Diariamente, a instituição promove locais de trabalho inclusivos, onde todos se sentem seguros, respeitados e valorizados. É uma organização de “porta aberta” a todos, onde se privilegia a ética, a heterogeneidade, a diversidade, a não discriminação e a liberdade de crenças religiosas e pessoais. É uma casa onde trabalham pessoas do mundo inteiro – com diversos atributos físicos, emocionais, intelectuais, materiais – para dar “um mundo” a quem não o tem.
Trabalham na Misericórdia de Lisboa 6210 pessoas. 4738 são mulheres e 1466 são homens. Cerca de 160 têm mais de 60% de incapacidade. São oriundos de 17 países e de quatro continentes. Têm várias profissões e interesses. 369 têm até 29 anos. 1373 estão na faixa etária dos 30-39 anos, 1929 dos 40-49 e 1685 dos 50-59. 659 pessoas têm entre 60 e 69 anos. Já na faixa etária dos “mais de 65 anos” registam-se 193 colaboradores.
Formar equipas diversas e criar ambientes acolhedores é uma preocupação constante na Santa Casa. Numa sociedade cada vez mais globalizada, o respeito pelas diferenças tem sido a regra dentro e fora das organizações. Por isso, diversidade e inclusão fazem parte do ambiente da instituição.
Mas o que é a diversidade nas organizações?
Cada um de nós é um universo. A frase pode explicar o conceito de diversidade. As pessoas não são iguais, elas têm particularidades que as fazem grandiosas e únicas.
A diversidade é um conjunto de diferenças e semelhanças de género, crença, habilidades intelectuais e físicas, etnia, ideologias, idade, orientação sexual, deficiências, limitações, estatuto socioeconómico, nacionalidade e opiniões.
No caso das organizações, a diversidade está ligada à compreensão e aceitação de diferentes perfis. Devemos ser capazes de conviver harmoniosamente com a diversidade cultural, principalmente em grupo, estabelecendo relacionamentos pautados na inclusão, na dignidade, na equidade e na liberdade.
E a inclusão?
Inclusão tem que ver com o ato de criar um ambiente no qual as pessoas possam pertencer e prosperar. No mercado de trabalho, ser inclusivo significa criar estratégias para acolher as diversidades e garantir que os profissionais diversos tenham oportunidades iguais de crescimento e um ambiente seguro dentro da empresa.
Qual é a diferença entre diversidade e inclusão na prática?
Enquanto a diversidade está relacionada com a representatividade, a inclusão está ligada à instauração de uma mudança de cultura e comportamento em relação às pessoas diversas. Ou seja, é possível observar que a diferença entre diversidade e inclusão também reflete a diferença entre ambientes diversos e ambientes inclusivos — e a importância e necessidade de combiná-los.
Cinco respostas sociais e projetos de inclusão da Santa Casa
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem várias respostas e projetos que espelham o seu comprometimento no desenvolvimento de práticas de promoção de igualdade de oportunidades, em combater a discriminação e em criar um ambiente de inclusão. Na impossibilidade de mencionar todos, destaque para a Valor T, a agência de empregabilidade dedicada a pessoas com deficiência. A Valor T – o “T” traduz-se em talento e transformação – nasceu a 1 de maio de 2021 com o objetivo de ajudar, apoiar e suportar pessoas com deficiência na construção de carreiras profissionais estáveis e adequadas às capacidades de cada um, contribuindo para a transformação da vida destas pessoas através da empregabilidade.
A Obra Social do Pousal é outro exemplo. Esta resposta é uma Estrutura Residencial para Pessoas com Perturbações do Neurodesenvolvimento. Com um modelo de intervenção centrado na pessoa e nas atividades ocupacionais, neste espaço, o utente deve sentir-se útil com o seu trabalho. O objetivo é que esta situação tenha impacto na sua autoestima e autoconfiança, além de promover outras competências sociais e comportamentais.
Com mais de 50 anos de história, o Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos é um estabelecimento integrado na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que tem como missão promover a reabilitação de pessoas com cegueira adquirida ou baixa visão, visando a sua autonomia e inclusão.
Já o projeto da Orquestra Geração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem como objetivo constituir uma orquestra juvenil na instituição. A essência do projeto é o trabalho social. A Orquestra Geração não é um conservatório, não é uma escola de música, é um trabalho social que acontece através da música, da prática de orquestra de conjunto. A música é utilizada como veículo de integração social, fazendo chegar a educação e a cultura a grupos sociais que não têm acesso ou têm acesso limitado.
Sob gestão da Misericórdia de Lisboa, o Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral Calouste Gulbenkian presta cuidados a bebés, crianças, adolescentes e adultos com paralisia cerebral e condições neuromotoras limitadas, de modo a tornar a vida do paciente mais confortável, independente e inclusiva. O Centro garante, também, o acesso a serviços e a programas inovadores e de qualidade, graças a uma equipa multidisciplinar.
Esta parceria, válida para o triénio 2021-2024, permite oferecer mais-valias a profissionais e utentes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa provenientes de todas as áreas, nomeadamente infância e juventude, família e comunidade, população idosa, pessoas com necessidades especiais e outros segmentos populacionais mais vulneráveis.
De acordo com uma abordagem intergeracional e inclusiva, a parceria assume uma tripla vertente considerando as seguintes áreas de atuação: infância e seniores numa abordagem integrada – projeto Boca Aberta; adolescência – oficinas para jovens; formação – desenvolvimento de oficinas de formação para técnicos da Santa Casa.
O teatro é um lugar de todos e para todos
O projeto Boca Aberta visa dar a conhecer textos dos mais diversos géneros literários, estimulando o pensamento crítico; desafiar a criatividade partindo de linguagens narrativas diferentes; estimular a imaginação e a interpretação criativa da palavra escrita e contada; abordar as diferentes perspetivas e possibilidades de interpretação/representação de um texto , promovendo o gosto pela leitura e pelas artes performativas.
Já as oficinas para jovens visam a participação de jovens apoiados pela Santa Casa em oficinas de formação, a realizar nas férias escolares de Páscoa e Verão.
Por outro lado, as oficinas de formação para técnicos da Santa Casa têm por objetivo possibilitar a reflexão sobre ferramentas pedagógicas e estratégias de comunicação em sala de aula ou em contexto de trabalho.
Esta parceria é também um projeto de acessibilidade, que tem como intuito possibilitar o acesso universal ao edifício, à programação e a outras iniciativas desenvolvidas ao longo da temporada.
Em maio, enquanto João Antunes folheava o jornal Correio da Manhã, escrito a letras capitais estava a oportunidade de uma vida: a Misericórdia de Lisboa anunciava a criação da Valor T. Ao ler aquele artigo, o jovem natural de Lisboa percebeu que a Santa Casa tinha acabado de criar um canal de oportunidades para que pessoas com deficiência pudessem ingressar no mercado de trabalho. “Conheci a Valor T através de um artigo publicado num jornal. Após ter lido a notícia fui à procura do site da Valor T e fiz a inscrição na plataforma”, refere.
A Valor T nasceu em plena pandemia, com o desemprego a crescer e as distâncias a aumentarem. Trata-se de um projeto com uma abordagem que não se fixa na deficiência, mas antes na pessoa, no seu talento e determinação. Para João Antunes “a criação da Valor T foi uma lufada de ar fresco” para pessoas que, tal como ele, estão em “circunstâncias complicadas”. Para este engenheiro multimédia, de 36 anos, a distrofia muscular progressiva rara provocou-lhe limitações físicas, mas também poucas expetativas de emprego. A sua, já vasta, experiência profissional permite-lhe afirmar que há uma certa marginalização por parte das entidades empregadoras, que o próprio já sentiu na pele.
“O empregador pensa logo que não temos o perfil de uma pessoa normal. Cheguei a apresentar-me numa entrevista e a pessoa disse que me dizia qualquer coisa, mas nunca mais recebi feedback dessa empresa. Submeti o currículo e fui aceite. Quando fui chamado para a entrevista é que ocorreram alguns problemas. Na altura tive receio porque já sabia que existia esse preconceito no mercado de trabalho”, revela.
Mas a Valor T quer mudar o paradigma. Este projeto da Misericórdia de Lisboa pretende unir os seus parceiros e as empresas num desafio transformador da sociedade e do mercado de trabalho. O principal objetivo é que diferença não seja um problema no acesso a oportunidades. Foi a esse trabalho “muito exigente” que a diretora da Valor T, Vanda Nunes, e restante equipa, se dedicaram nos últimos sete meses.
O sucesso da agência de empregabilidade para pessoas com deficiência cresce, dia após dia, mas só é possível graças ao apoio da Rede Colaborativa T, que agrega várias áreas da Santa Casa. Desde logo a Direção de Sistemas e Tecnologias de Informação (DISTI), que traduziu a metodologia da Valor T em plataforma, e que permite a qualquer pessoa do país efetuar o registo no site. Foi devido ao trabalho desenvolvido por esta direção que o primeiro desafio foi superado: garantir a acessibilidade da plataforma. “Este não é um trabalho só nosso. É da DISTI, mas também dos colegas da área da ação social e da saúde que foram colaborando connosco na definição da metodologia”, explica Vanda Nunes.
Sete meses a potenciar talentos
A Valor T nasceu no passado dia 1 de maio, fruto de vários meses de trabalho interno de conceção do projeto. É um processo que resulta do contributo de parceiros como o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), Instituto Nacional para a Reabilitação (INR), federações, associações e empresas. Ao longo dos sete meses de atividade, a equipa da Valor T dedicou-se à análise pormenorizada de todos os registos feitos na plataforma. Como lembra Vanda Nunes, “cada pessoa é uma pessoa, cada caso é um caso”, o que implica um trabalho à medida de cada um. Foram dias a fio a conhecer os candidatos, contabilizando já cerca de 700 entrevistas realizadas.
Logo nos meses de maio e junho, centenas de candidatos bateram à porta do projeto. João Antunes é um dos cerca de 1000 candidatos de vários locais de Portugal que já efetuaram a sua inscrição na plataforma Valor T. Cumpriu todas as fases do processo de recrutamento: registo; fase de ativação (onde o candidato se descreve e revela as suas preferências); fase de avaliação (candidato recebe um contacto telefónico da Valor T para agendamento de uma entrevista); entrevista com psicólogo; perfil do candidato divulgado na plataforma; eventual match entre o candidato e uma empresa.
E o tão desejado match aconteceu. Em janeiro de 2022, graças à Valor T, João vai iniciar uma nova aventura profissional numa consultora tecnológica, a Bee Engineering. Para trás ficam quase 11 anos de serviço numa empresa portuguesa de conteúdos digitais, que fechou portas em outubro.
Mercado de trabalho mais solidário
As empresas têm vindo a dizer “presente” à Valor T. Cerca de 120 entidades empregadoras de todo o país já efetuaram também o seu registo na plataforma. A equipa da Valor T está empenhada em ajudar as empresas a contribuírem para um mercado de trabalho mais solidário, no qual todos podem vir a ter a oportunidade de conseguir um trabalho digno.
“Estamos a tentar perceber em que fase é que as empresas estão. Precisamos de perceber quais são, ao que vêm, se já iniciaram este processo de contratação de pessoas com deficiência ou se nos procuram precisamente para começarem esse percurso. A diferença é imensa. Temos empresas que já têm experiência nesta área, mas outras que não, e, por isso, vêm até nós para iniciarem esse caminho”, realça Vanda Nunes, lembrando que, neste momento, a Valor T “está a trabalhar de forma próxima com as empresas, de modo a preparar o ano de 2022”.
Durante o mês de novembro, a Valor T apresentou a empresas mais de 20 perfis para diferentes áreas de trabalho. Agora, começaram a ser feitos os primeiros pedidos para entrevistar algumas das pessoas que lhes foram dadas a conhecer. É neste último ponto, de ligação entre candidato e empregador, que culmina o trabalho da Valor T. É quebrar barreiras no acesso ao mercado de trabalho, mobilizando as empresas para um país solidário, mais coeso e, por isso, melhor.
O ritual foi cumprido rigorosamente, como se de surfistas profissionais se tratassem. Chegada à praia de Carcavelos pela manhã, vestir os fatos com mais ou menos dificuldade, pegar nas pranchas e dirigirem-se para a água. Primeiro, testando a temperatura, depois entrando no mar, uns com mais confiança e outros a medo, mas sempre apoiados pelos monitores da SURFaddict (Associação Portuguesa de Surf Adaptado) que, durante a aula exclusiva para os utentes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa ajudaram estes surfistas amadores a relaxar e a aproveitar todas as sensações possíveis que o surf consegue proporcionar.
Estas aulas anuais de surf adaptado já não constituem uma novidade para alguns dos utentes do Centro de Paralisia Cerebral Calouste Gulbenkian (CPCCG). Desde 2017 que este equipamento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa se associou à SURFaddict. A primeira experiência ocorreu na praia da Areia Branca, na Lourinhã; no ano seguinte, a aula passou para a praia de Carcavelos, tal como nesta terça-feira.
“Neste grupo, para três deles foi a primeira vez que participaram”, explicou Paula O`Neill, terapeuta ocupacional do CPCCG, assegurando que os estreantes “adoraram” a experiência. Os restantes, já habituados a estas aulas de surf adaptado, já sabiam o que os esperava: “Uma sensação de liberdade, muita adrenalina, o recordar dos dias na praia e uma sensação de maior facilidade em se movimentarem”, relatou a responsável.
Experientes ou estreantes, certo é que os níveis de expectativa destes utentes, com idades entre os 20 e os 50 anos, nunca tinha sido tão elevada. De tal forma, que existia muita ansiedade pela atividade, algum receio e muita alegria, com os dias a passarem e a mesma pergunta a repetir-se diariamente: “Vai mesmo acontecer?”.
Após duas horas a “furar” as ondas, até perto da hora do almoço, os efeitos desta aula terapêutica já se faziam sentir (e notar) junto destes utentes. Calmos, com confiança para estar na água e com mais energia são alguns dos benefícios apontados por Paula O´Neill. Já os rostos destes surfistas deixavam transparecer alegria e felicidade, sentimentos que eram verbalizados com frases como “quero mais” ou “não esperava que fosse tão bom”. Emoções que não deixam ninguém indiferente no CPCCG e que “fazem tudo valer a pena”, como faz questão de sublinhar a terapeuta ocupacional que os acompanha nesta “aventura”.
“É por isto que continuamos a apostar sempre, e cada vez mais, em atividades de integração”, conclui Paula O´Neill sem hesitações, após mais um dia inesquecível para estes utentes da Misericórdia de Lisboa.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tornou-se associada, no passado mês de julho, da Associação Portuguesa para Diversidade e Inclusão (APPDI), entidade que gere e monitoriza, a nível nacional, a implementação da Carta Portuguesa para a Diversidade, instrumento que a instituição assinou em 2018.
No âmbito desta ligação, a Misericórdia de Lisboa participa no novo projeto da APPDI, Divers@s e Ativ@s: Promoção da Diversidade e Não Discriminação no Âmbito Profissional, que nasce através do Programa Cidadãos Ativ@s, da Fundação Calouste Gulbenkian.
A Santa Casa passa a ter acesso a uma rede de boas práticas sobre diversidade e inclusão e apoio para o desenho e implementação de medidas, bem como, à possibilidade de participar ou coordenar grupos de trabalho sobre temas específicos, como os relacionados com legislação, educação, empregabilidade e desenvolvimento organizacional.
A iniciativa terá a duração de 24 meses, e estará dividida em quatro fases: fase 1, estudo inicial, inquérito e focus group; fase 2, desenho e teste dos guias; fase 3, formação; fase 4, campanha de sensibilização.
As duas primeiras fases são restritas a um conjunto de 20 entidades que são selecionadas pela sua dimensão, setor de atividade e práticas de diversidade e inclusão.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa foi uma das organizações selecionadas para integrar o projeto desde o início, em todas as etapas. Desta forma, a instituição servirá como estudo de caso e participará ativamente na elaboração das ferramentas que serão a base da formação e da sensibilização alargada, as últimas fases do projeto.