Os desafios inerentes à longevidade (agravados com a atual situação pandémica) e a busca por soluções inovadoras que garantam segurança, autonomia, participação e cuidados aos idosos, foram alguns dos temas em debate no seminário que decorreu ao longo de todo o dia de hoje, no Teatro Thalia, em Lisboa. Após o Workshop Políticas Públicas na Longevidade, em julho passado, chegou a vez dos colaboradores da Santa Casa contribuírem para o debate, com a experiência acumulada “no terreno” ao lidar de perto com os problemas que mais afetam os idosos da cidade.
“A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem ultrapassado a sua missão normal e tradicional, respondendo de uma forma completamente única a este desafio nacional”, começou por afirmar a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, destacando o trabalho realizado pela instituição durante a atual situação pandémica, sobretudo na ajuda ao programa implantado pelo Governo nos lares, na realização de testes à COVID-19 e na implementação da linha telefónica de apoio aos lares, a qual será apresentada publicamente esta quarta-feira.
O trabalho realizado pela Misericórdia de Lisboa, em particular nos últimos meses, serviu de mote para a governante apelar “à inspiração” da instituição, recordando que os tempos atuais – com o envelhecimento da população e a crise pandémica – constituem “uma oportunidade única” para se encontrar “novas respostas sociais, novos equipamentos sociais, novos modelos, novas formas de funcionamento e novas formas de enquadramento”. Em suma, explicou, é necessária “uma construção a muitas mãos”, com o envolvimento de todos os setores da sociedade e com a participação de quem conhece verdadeiramente os desafios associados à longevidade.
“Essa é a última lição que tenho aprendido com a pandemia: é fundamental construir soluções pragmaticamente, do terreno para a construção de uma estratégia pois, se não o fizermos, estaremos a ser ineficazes, não estaremos a aprender com o passado e não estaremos a construir soluções que funcionem”, referiu.
Afirmando que “o tempo corre contra nós”, Ana Mendes Godinho pediu “a inspiração” de quem lida diariamente com os desafios (e problemas da longevidade), terminando com uma convicção: “Sei que, com a vossa garra, vamos conseguir chegar a todos, da melhor forma, a quem precisa, onde precisa e como precisa. É essa a nossa missão e sei que posso ser inspirada por todos vós”, disse, dirigindo-se aos colaboradores da Misericórdia de Lisboa.
Na abertura do seminário, o provedor da instituição, Edmundo Martinho, tinha já reconhecido que a participação da Santa Casa na construção de uma Estratégia Nacional Para a Longevidade representava uma “oportunidade muito importante e relevante” para se poder fazer “mais e melhor”.
“Tudo isto serve para estimular o debate interno e para criar uma reflexão, que se traduzirá numa riqueza muito maior para o trabalho que estamos a fazer”, declarou Edmundo Martinho, adiantando que os contributos dos parceiros que participaram no Workshop Políticas Públicas na Longevidade, em julho passado, serão compilados num livro que será editado até ao final do ano.
As primeiras conclusões do Workshop foram ainda apresentadas pela coordenadora do projeto Políticas Públicas na Longevidade, Maria da Luz Cabral. Perante a plateia diminuta – devido às regras de segurança necessárias em tempos de pandemia -, a responsável explicou que a análise está ainda “numa fase muito preliminar”, sendo já evidentes algumas necessidades apontadas pelos vários peritos, parceiros e stakeholders. É o caso da utilização das novas tecnologias ao serviço dos idosos (principalmente no âmbito da telemedicina e teleassistência), a importância de um trabalho em rede, a criação de novas estruturas residenciais que promovam a autonomia, a prestação de cuidados na comunidade e ao domicílio (uma “exigência” comum a quase todos os intervenientes no anterior workshop), entre muitas outras.
Antes de chegar a vez dos colaboradores da Misericórdia de Lisboa fazerem ouvir a sua voz e partilharem contributos e experiências, Sérgio Cintra, Administrador da Ação Social da Santa Casa, alertou para o facto da atual conjuntura pandémica exigir distanciamento físico, situação que “obriga a repensar as estratégias para combater o isolamento e a solidão”.
“Mais do que nunca, a conquista da Humanidade ao longo da vida obriga-nos a pensar como dar mais vida aos anos”, sublinhou Sérgio Cintra, recordando alguns dos mais recentes estudos realizados no Reino Unido, que mostram que os impactos da solidão e isolamento juntos dos idosos “são devastadores“.
“Não caia nisso. Prevenir para não cair” é o nome da nova revista que estará nas bancas na próxima sexta-feira, dia 25. A publicação conta com o apoio da Misericórdia de Lisboa.
Alertar a população idosa para a importância da prevenção de quedas através de alguns cuidados a adotar no dia-a-dia é o objetivo da nova publicação, preparada pela Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT), com o apoio da Santa Casa. A publicação integra-se no âmbito de uma campanha destinada a chamar a atenção para “o flagelo nacional” que são as quedas nos idosos, como classificou Carlos Evangelista, Ortopedista do Hospital de Sant´Ana (HOSA) e coordenador do grupo de estudo de Ortopedia Geriátrica na SPOT.
A apresentação pública da revista “Não caia nisso, prevenir para não cair” encerrou os trabalhos do seminário sobre a Longevidade. Várias horas depois da sessão de abertura, apresentadas diferentes perspetivas sobre os desafios da longevidade e partilhados conhecimentos e experiências sobre esta temática permitiram ao Provedor da nossa instituição, Edmundo Martinho, concluir que este dia representou “mais um passo” no caminho de recolha de contributos para a Estratégia Nacional Para a Longevidade.
Contributos que, como revelou, não se esgotam no Workshop de Políticas Públicas para a Longevidade, que decorreu em julho passado, nem no seminário desta terça-feira: “Está em curso um estudo de opinião com pessoas acima dos 55 anos, para percebermos como essas pessoas entendem a sua própria situação”, explicou o provedor à plateia presente no Teatro Thalia, em Lisboa, mas também à que assistiu online.
Antes de passar a palavra ao ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, a quem coube encerrar oficialmente a sessão, Edmundo Martinho reiterou o apelo para que todos os que trabalham no terreno partilhem experiências e conhecimentos sobre a longevidade. Afinal, concluiu, “quanto mais diversos forem os olhares, mais rico será o contributo” da Misericórdia de Lisboa para a Estratégia Nacional Para a Longevidade.