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Um livro que recupera a voz “profética” de Alfredo Bruto da Costa

“Que fizeste do teu irmão? Um olhar de fé sobre a pobreza no mundo” é o nome do livro que reúne textos de Alfredo Bruto da Costa. A obra, publicada pela Editorial Cáritas, tem um prefácio do secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, e do cardeal D. José Tolentino Mendonça. A apresentação do livro coube a Guilherme d’Oliveira Martins. A sessão pública foi promovida pela Cáritas Portuguesa, o Fórum Abel Varzim e a Misericórdia de Lisboa.

A iniciativa, que assinalou o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, contou com as presenças do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do provedor da Santa Casa, Edmundo Martinho, da presidente da Cáritas, Rita Valadas, do presidente da direção do Fórum Abel Varzim – Desenvolvimento e Solidariedade, António Silva Soares, e da família de Bruto da Costa.

Numa intervenção de cerca de meia hora, o Presidente da Republica alertou para a pobreza em Portugal, qualificando-a como um “problema enorme” e o “problema dos problemas”, apelando à ação dos cristãos.

Marcelo Rebelo de Sousa descreveu Alfredo Bruto da Costa como “um profeta” que fez da “libertação da pobreza” o desígnio da sua vida. No final condecorou, postumamente, o antigo ministro dos Assuntos Sociais com a Ordem da Liberdade, que entregou à família.

Livro_Que fizeste do teu irmão?

O Presidente da República partilhou “uma primeira reflexão” a propósito da obra lançada: “A urgência da pobreza, a urgência do tema deste livro, mas também do empenhamento de cada um de nós”.

“Antes da pandemia dizia-se que havia perto de 100 milhões de pobres, depois da pandemia 220 milhões de pobres no mundo. Antes da pandemia dizia-se que havia dois milhões de pobres em Portugal, depois da pandemia dois milhões e 200 mil em Portugal”, referiu.

“Temos, portanto, um problema enorme, um problema primeiro, o problema dos problemas, e só isso justifica a importância deste nosso encontro de hoje”, considerou.

Por outro lado, Edmundo Martinho começou por recordar que Alfredo Bruto da Costa foi provedor da Misericórdia de Lisboa, entre 1974 e 1980. “É um gosto receber o lançamento deste livro numa casa a quem ele deu tanto, por vários anos da sua vida e de forma tão empenhada”, disse.

“A questão da pobreza, que tanto mobilizou a vida do professor Alfredo Bruto da Costa, é também uma questão que nos mobiliza”, considerou, sublinhando que o legado deixado traz “responsabilidades acrescidas à Santa Casa”.

O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa alertou que em Lisboa morreram 212 pessoas, no último ano, cujo corpo não foi reclamado, lembrando que a Misericórdia de Lisboa com a Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa celebraram neste domingo, 17 de outubro, uma missa em memória de todos aqueles que morrem e cujo cadáver não é reclamado ao Instituto de Medicina Legal.

“Devem inquietar-nos os números dos mortos cujos corpos ninguém reclama. E este dia e este livro são um reforço e uma chamada adicional para aquilo que é a responsabilidade da Santa Casa”, na questão da pobreza.

Rita Valadas afirmou que Bruto da Costa “sempre inspirou o nosso trabalho”. Já António Silva Soares recordou o professor como um “homem de ciência, de ciência social, mas também um crente”.

O cardeal D. José Tolentino Mendonça e António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, deixaram uma mensagem de vídeo, elogiando o percurso do antigo provedor da Santa Casa, classificando estes textos como “um último e valioso legado do enorme saber e da profunda experiência”.

Na apresentação do livro, Guilherme d’Oliveira Martins considerou que “Alfredo Bruto da Costa está vivo dentro de nós e a sua obra também”.

Alfredo Bruto da Costa

Alfredo Bruto da Costa, antigo ministro e ex-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz da Igreja Católica, foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, entre 1974 a 1980. Licenciado em Engenharia e com um doutoramento em Sociologia, Bruto da Costa exerceu funções no Governo chefiado por Maria de Lurdes Pintassilgo, entre 1979 e 1980, lecionou em diferentes universidades antes de ser eleito pela Assembleia da República como o terceiro presidente do Conselho Económico e Social, cargo que exerceu durante dois mandatos, entre 2003-2009.

Entre finais de 2008 e 2014 foi presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz e conselheiro de Estado entre setembro de 2014 e janeiro de 2016.

Como presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, promoveu diversos estudos e investigações à volta da pobreza em Portugal, assumindo-se sempre como uma voz em defesa da dignidade humana e da justiça social.

Prémio Envelhecimento Ativo distingue individualidades no Dia Mundial do Idoso

A 9ª e 10ª edições do prémio decorreram em paralelo esta sexta-feira, 1 de outubro, dia Mundial do Idoso, uma vez que, devido ao contexto pandémico, a edição de 2020 não se concretizou. A cerimónia comemorativa dos 10 anos do prémio realizou-se pela primeira vez online, através da página do facebook da Associação Portuguesa de Psicogerontologia (APP).

Este ano, os distinguidos foram sete homens e cinco mulheres. Reúnem experiências e saberes diferentes, mas com um denominador comum: desde sempre foram ativos, e lutaram, permanentemente, pelas suas convicções.

O júri do Prémio Envelhecimento Ativo Dr.ª Maria Raquel Ribeiro distinguiu: Armando Acácio Leandro e Maria Manuela Ramalho Eanes (Intervenção Social); Maria Manuela Cortez e Almeida, Rui Jorge Mendes e Simone de Oliveira (Arte e Espetáculo); Jorge Jesuíno e Maria Máxima Vaz (Ciência e Investigação); Francisco Pinto Balsemão e Alberto Machado Ferreira (Política e Cidadania); António Barros Veloso e Constantino Sakellarides (Ética e Saúde) e Berta do Nascimento Garcia (Família e Comunidade).

Na sua intervenção, Edmundo Martinho, provedor da Santa Casa realçou que “é um orgulho enquanto representante desta instituição, que trabalha nestes domínios diariamente, apoiar iniciativas como esta”, defendendo que o percurso deixado por Maria Raquel Ribeiro “deve ser respeitado e acima de tudo honrado”.

“Pretendemos que estes exemplos de vida, que hoje são homenageados, sejam um motivo para que possamos fazer mais e melhor enquanto instituição, mas também enquanto indivíduos inseridos na sociedade”, concluiu o provedor.

Paralelamente à entrega destas distinções, foi ainda apresentado o livro comemorativo dos 10 anos do galardão, onde foram compiladas diversas histórias das anteriores edições do prémio e um breve enquadramento do trabalho realizado por Maria Raquel Ribeiro, figura ímpar da Segurança Social, percussora de diversas estratégias de intervenção, influenciando de modo construtivo a sociedade portuguesa, para as questões do envelhecimento ativo e com qualidade.

Este prémio é uma iniciativa da APP, em colaboração com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a Fundação Montepio. É uma distinção anual que tem por objetivo reconhecer a vida e atividade de pessoas com 80 e mais anos, que continuam a desenvolver atividade profissional ou cívica relevante, em cada uma das categorias definidas.

A força e a juventude dos maiores de idade

No Dia Internacional do Idoso, falámos com três idosos que vivem em residências assistidas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Autónomos, ativos, com mobilidade e gosto pela vida, os utentes fazem as suas vidas como se estivessem na sua própria casa. Sem tabus, dizem que a idade é apenas um número, e que o que interessa é o espírito. Maria José, Cândida e Alfredo são três exemplos de que a idade maior pode ser um sinónimo de força, atividade e juventude.

O artista e o homem das paixões

Alfredo Silva, 78 anos, residiu na Ajuda durante largos anos. Trabalhou numa fábrica de vidros e foi pintor por conta própria. Viveu uma bonita história de amor. Infelizmente, enviuvou há 20 anos. Mas o fruto dessa paixão ficou para sempre. “Sou um homem rico. Tenho duas filhas e seis netos”, conta, orgulhoso.

O utente da Santa Casa mudou-se para a residência há quatro anos. Além de não ter possibilidade de continuar na casa onde vivia, perdeu o contacto e a proximidade com a comunidade. “Sentia-me sozinho. Não tinha vida.”, lembra, justificando a razão pela qual se mudou.

A juventude e a força dos maiores de idade

As residências da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa promovem um espírito de comunidade, vizinhança e interajuda entre todos os seus residentes. Além disso, a instituição desenvolve um conjunto de atividades sociais, culturais e de lazer que incentiva a interação entre os utentes.

“Refiz a minha vida aqui. Sinto-me muito bem. Estou feliz e bem acompanhado. Tenho muitos amigos”, destaca, com um sorriso largo. Os seus dias são ocupados entre ler, ver o seu Benfica, e fazer miniaturas de casas utilizando cartão, cartolinas, embalagens, cola, tinta, entre outros materiais. Mas faz um pouco de tudo: “Limpo, lavo, passo a ferro, vou às compras, participo nas atividades, faço passeios, vou à praia, saio com os amigos”, nota.

Na altura que veio viver para a Residência Assistida, descobriu uma companheira. “Encontrei-a num bailarico na Casa do Alentejo, há quatro anos”. Uma relação que senhor Alfredo descreve como de “respeito, amor e carinho”. A mudança para a Residência Assistida e o relacionamento com a sua companheira deram-lhe “outra chama”, admite. “Tenho amor à vida. Estou velho pela idade, mas não estou velho de espírito”, remata.

A costureira autodidata

Maria José Caría, 87 anos, foi costureira e ajudante de lar na Misericórdia de Lisboa. Quando era jovem, veio de Santiago do Cacém para Lisboa à procura de uma vida melhor, como era frequente na altura. Por uma questão de saúde, aos 49 anos deixou o trabalho de costureira. “Estava a ficar com amnésia. Chegava a perder-me no bairro, do esforço de trabalhar noites e noites seguidas”. No entanto, continua a costurar quando alguém lhe pede um “jeitinho”. Em 1983, entrou para a Santa Casa para “apoiar os idosos”, algo que fez até se reformar.

A antiga funcionária da Misericórdia de Lisboa expressa-se com facilidade, não escondendo o que sente. Fala com orgulho das duas filhas e com saudade do marido. Também a dona Maria José perdeu o seu companheiro. Mas, com coragem, fintou as agruras da vida. “Vim para cá porque havia um bom lugar para a minha máquina de costura”, diz a brincar. E continua: “Entreguei a minha casa e vim de coração aberto”.

A juventude e a força dos maiores de idade

Apesar de contar com quase nove décadas, a utente da Residência Assistida Bairro Padre Cruz é uma autodidata, lê bastante e mantém um espirito invejável. Foi das primeiras pessoas a tirar um curso de comida macrobiótica, há cerca de 50 anos. Aliás, a dona Maria José defende um modo de vida em equilíbrio com o corpo, a mente e o planeta, fazendo escolhas alimentares de acordo com estes princípios.

A vida de Maria José é tudo menos calma. Apesar da sua idade, temos dificuldade em acompanhar a quantidade de histórias que quer contar, com o entusiasmo próprio de uma jovem com 18 anos. Continua a fazer arranjos de costura, lê, lava, passa a ferro, cozinha para si e para uma filha, passeia até à Pontinha, ajuda na horta, e faz as suas próprias compras. “O problema é que aqui não tenho ninguém que aguente a minha pedalada”, lamenta.

“Não me falta nada! Sou feliz aqui”. Fiz amigos. A trabalhar na máquina de costura Singer que a mãe lhe ofereceu quando tinha 15 anos, diz que “a idade não é o mais importante. É apenas um número”, finaliza.

A cuidadora tranquila

Cândida Prazeres Alves Simões, 69 anos, também veio, ainda bastante nova, de Trás-os-Montes para Lisboa. Foi auxiliar de educação e operadora de máquinas, entre outras funções. Por cá, casou e teve um filho. Há 21 anos, o marido faleceu, vítima de um acidente de viação, transformando a sua vida por completo.

Por uma questão de segurança, mudou-se para a residência da Santa Casa. “Já não me sentia segura em casa”, revela. “No equipamento da Misericórdia de Lisboa, os dias não são todos iguais, embora a pandemia tenha alterado por completo as rotinas”, observa.

A juventude e a força dos maiores de idade

“Gosto de estar aqui. Sinto-me segura. Sentia-me sozinha naquela casa. Podia gritar à vontade que ninguém me acudia, caso acontecesse alguma coisa”, acrescenta. “Nós somos uma família, ajudamo-nos umas às outras. Estou acompanhada e apoiada. Fiz amizades e construí laços importantes”, destaca ainda.

À semelhança dos seus vizinhos, a dona Cândida faz um pouco de tudo. Limpa, lava, passa a ferro, cozinha. Por falar em comida, por esta altura, já cheira a ervilhas com ovos escalfados. O almoço que a utente está a preparar.

A vida social da dona Cândida é bastante ativa, fazendo inveja boa à maioria das pessoas. Vai às compras, faz caminhadas, passeios, encontros, jogos de equipas, ginástica, refeições sociais e já viajou até à Madeira, Algarve e Bragança, através das iniciativas da Santa Casa.

“Vir para cá devolveu-me anos de vida”, admite, sublinhando que, para se ser feliz, “mais importante do que a idade são as condições de vida de cada um”.

Uma comunidade solidária

Sandra Baptista Elvas, diretora da Residência Assistida Bairro Padre Cruz, sublinha que “os residentes procuraram, na sua maioria, a residência assistida para deixarem de viver isolados e em solidão”, acrescentando que “existiam pessoas que viviam em habitações sem condições de habitabilidade ou mesmo pessoas sem habitação, havendo outros que sentiam insegurança nas suas casas”.

Residência Assistida do Bairro Padre Cruz

Inaugurada em 2017, a Residência Assistida Bairro Padre Cruz dirige-se a pessoas autónomas ou semiautónomas com capacidade para gerir as suas vidas. É uma resposta de segurança, que promove diariamente a autonomia dos residentes na sua multifuncionalidade, com o objetivo de retardar a institucionalização em lar.

A residência assistida é o mais semelhante que existe ao viver verdadeiramente na sua casa, permitindo manter a “identidade do eu”. Cerca de 90% dos residentes que vieram viver para esta resposta social já eram residentes no Bairro Padre Cruz, pelo que se encontram totalmente integrados na comunidade. A média de idade é de 75 anos, sendo que cinco residentes tem 89 anos.

Residência Assistida Bairro Padre Cruz

A residência assistida tem 30 apartamentos, 24 individuais e seis para casais e, propositadamente, os mesmos não continham mobília, para que o utente pudesse trazer as suas mobílias de referência.

 

Um jogo onde todos ganham

Foi um dia diferente para os cerca de duzentos jovens da Santa Casa que assistiram ao jogo solidário a favor da UNICEF, no último domingo, 5 de setembro, no estádio do Restelo. Um jogo amigável que uniu no mesmo relvado várias figuras conhecidas do mundo do desporto e da cultura.

Organizada pela Fundação do Futebol – Liga de Portugal, a iniciativa quis proporcionar a crianças e jovens de várias instituições de Lisboa uma tarde única e, ao mesmo tempo, angariar fundos para a organização mundial de apoio às crianças.

Vestidos a rigor com as camisolas dos seus ídolos, o público chegava ao estádio. De sorrisos no rosto e gargantas afinadas, reconheciam alguns dos “craques” que já estavam no relvado para o aquecimento pré-jogo.

O primeiro momento de alegria foi quando Toy, conhecido cantor de música popular portuguesa, entre toques na bola, chegou perto da vedação e, num simpático gesto, cumprimentou a assistência entusiasta. O cântico já preparado foi solto: “Vais ganhar, vais jogar, vais marcar, todo o jogo, todo o jogo”, numa referência a um dos últimos sucessos musicais do cantor.

Paulo, 15 anos, foi um dos mais efusivos. Entre várias fotografias e alguns incentivos de apoio dos colegas, foi o primeiro a descer até ao muro que separava a bancada do relvado, para cumprimentar o cantor. “Desde sempre que me lembro de ouvir o Toy lá em casa. A minha mãe é uma fã dele e prometi-lhe que tirava uma foto com ele para colocarmos no corredor”, afirmou o jovem, enquanto mostrava a selfie aos amigos.

Já Luís, 16 anos, e Diego, 13, ambos apaixonados por futebol, não tinham dúvidas: “o Luisão é o melhor jogador que aqui está e vai marcar vários golos”, destacando, ainda, que a iniciativa “foi uma das melhores que tivemos este ano na Santa Casa”.

Pouco antes das 18h00, as equipas subiam ao relvado. De um lado, a equipa da UNICEF composta por Nélson Pereira na baliza, Paulo Battista, Hugo Leal, David Carreira e Fernando Mendes no setor mais recuado; Marco Costa, Jorge Corrula e Silas no meio-campo; Fradique, Edite e Pedro Fernandes, o trio mais ofensivo. Com Toni a treinador, no banco de suplentes estavam outros nomes conhecidos do grande público como Paulo Santos, Pedro Alves, António Ferreira, Filipe Gaidão, Nelson Rosado, Sérgio Rosado, Chakall, Mickael Carreira, Rúben da Cruz, Rodrigo Gomes e a “arma secreta”, o que viria a ser o homem do jogo, Francis Obikwelu.

Do outro lado do campo, a formação da Fundação do Futebol – Liga de Portugal, com Helton a guarda-redes titular; Luis Marvão, Ricardo Rocha e Jorge Andrade numa linha de três; João Pinto, Chainho, Pedro Teixeira, Simão Sabrosa e Alan no apoio à dupla de avançados Nuno Gomes e Carla Couto. Manuel Fernandes, técnico da equipa, contou ainda com um banco de suplentes composto por Quim, Raminhos, Luciano Gonçalves, Toy, Dino D’Santiago, Conguito, João Pedro Pais, Daizer, Ana Silva e José Condessa. Os árbitros da partida foram Pedro Henriques e Eunice Mortágua.

Apesar do nulo no marcador até ao final do primeiro tempo, não faltaram alegria e emoção nas bancadas. A cada toque, jogada ou remate das equipas, os espetadores retribuíam com cânticos de apoio e carinho.

Já no intervalo, várias crianças e jovens da instituição foram convidadas a entrar no relvado para, por breves momentos, confraternizarem com os seus ídolos.

Os irmãos Hugo, 16 anos, e Tiago, 15, quase como numa corrida de 100 metros rasos, foram os primeiros a viver o momento inesquecível. O prémio era uma fotografia e a troca de algumas palavras com o cantor Dino D’Santiago. Entre a timidez e o espanto de estarem a poucos centímetros do seu ídolo, rapidamente as palavras presas começaram a soltar-se. “Somos teus fãs, adoramos a tua música. És o maior que aqui está”, realçaram os irmãos.

Ao longe, Ana, mãe dos jovens, tirava algumas fotografias do momento e, entre sorrisos e lágrimas de alegria, confidenciava que “conhecer o Dino era um sonho para eles”. “Eles estavam em pulgas. Desde manhã que estavam à espera de vir para o estádio. Hoje, lá em casa não se ouviu outra coisa senão a música do Dino. Como mãe, estou feliz e orgulhosa pelos meus filhos”, dizia Ana entre alguns cliques, para mais tarde recordar.

Para o início da segunda parte, as equipas foram alteradas. Estava dado o apito para o começo da segunda parte. O jogo morno que se tinha assistido na primeira metade, aquecia agora. E um herói improvável tinha saltado do banco para abrir o marcador. Num remate digno de uma medalha de ouro, Francis Obikwelu marcou o primeiro golo do jogo, e logo de seguida confirmou o seu estatuto de melhor em campo ao marcar o segundo para equipa da UNICEF. Só nos últimos dez minutos de jogo, a antiga estrela do Sporting Clube de Braga, Alan, marcava a favor da equipa da Fundação do Futebol– Liga de Futebol.

O resultado não sofreu mais alterações, mas o mais importante estava alcançado. A angariação de verbas para apoiar a UNICEF foi um sucesso, através desta iniciativa que ficará na memória de todos os espetadores e participantes.

António Santinha, diretor da Unidade de Apoio à Autonomização da Santa Casa, salienta que “este tipo de ações é muito importante para as crianças e dá-nos um sentimento de dever cumprido. É sempre gratificante vermos os nossos jovens felizes e a divertirem-se”. Considera ainda que “esta é uma iniciativa muito bem conseguida, com uma vertente solidária de peso, no qual queríamos estar presentes. Todos nós temos o dever e a obrigação de proporcionar um futuro melhor e condigno a todas as crianças”, concluiu o responsável.

“Mostrar a todos que é possível”. A inclusão saiu à rua no World Bike Tour

À chegada à Avenida da Liberdade, Felisbina Gomes está radiante. Rápido faz a passagem da cadeira de rodas para a handbike, para cedo ajustar o veículo às suas necessidades. Aos 57 anos, é muitas vezes o desporto que a faz sair da cama, que lhe dá vontade de seguir em frente. Entra com o espírito competitivo que a caracteriza para todos os desportos que pratica: ciclismo adaptado, vela adaptada ou, até mesmo, uma simples aula de ginásio. Hoje, na partida para mais uma edição do World Bike Tour (WBT), deixou a competitividade de lado. Paira no ar uma alegria, que se sente em cada palavra pronunciada pelos oito utentes do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (CMRA), que marcaram presença no evento apoiado pelos Jogos Santa Casa.

Na edição do ano passado, tudo correu bem. Chegou ao Parque das Nações disposta para percorrer mais dez quilómetros se fosse necessário. Este ano, existem duas subidas no percurso entre Lisboa e Oeiras que a preocupam. Teme que só com a força dos braços não consiga ultrapassar esses obstáculos.

“Esta prova não vai ser fácil. Tenho noção de que vai exigir esforço, mas estamos cá para nos ajudarmos uns aos outros. Estamos cá para nos divertirmos um bocadinho. Isto é desporto, diversão e convívio, que são coisas muito importantes”, realça.

Tudo isto só é possível graças às handbikes cedidas pela Misericórdia de Lisboa e que tantas alegrias têm proporcionado aos utentes do CMRA. As primeiras handbikes chegaram ao CMRA em 2017. Felisbina foi das primeiras a experimentar o “novo brinquedo”. Tem a certeza que sem elas “jamais seria possível praticar ciclismo”, até porque é “um material caro e que nem todos têm capacidade para adquirir”. “Agradeço muito à Santa Casa por esta oportunidade que nos dá de, através das handbikes, podermos ter uma vida um pouco mais normal”, refere.

GALERIA

Feliz por poder contribuir

Feliz por poder contribuir

Teresa Lara Pais já sinalizou casos problemáticos à Santa Casa.

“Iniciativa é uma grande mais-valia para os idosos”

“Iniciativa é uma grande mais-valia para os idosos”

Manuel Bastos aderiu ao projeto Radar sem a mínima hesitação.

É preciso estar atento aos outros

É preciso estar atento aos outros

José Ramos elogia empreendimento da Santa Casa e sente-se bem por estar a ajudar.

Habituados a dar uma ajuda

Habituados a dar uma ajuda

Lucília Lourenço e Hélder Reis nunca fecham a porta a quem precisa.

Reabertura dos centros de dia: “Estava deserta para vir para cá”

A pandemia chegou e com ela trouxe o confinamento, o distanciamento físico, a crise económica e a incerteza no futuro. A população idosa foi das que mais sofreu com a separação física e o isolamento. Mais dependentes, com problemas de saúde e/ou mobilidade, muitos ficaram limitados à sua própria casa. Os planos foram adiados, mas os sonhos não. Conheça os três utentes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que todos os dias ansiavam em voltar ao seu centro de dia… para partilhar a vida!

Riqueza é ter com quem contar. É partilhar a vida!

Aurélia Ricardo, de 94 anos, foi uma mulher dos sete ofícios: serviu, limpou, trabalhou em casa de famílias e foi cozinheira. Quando era jovem, veio para Lisboa à procura de uma vida melhor, como era frequente na altura. Conquistou a vida a pulso e com um sorriso no rosto. Teve um casamento “feliz” com cerca de 50 anos. “Fui muito feliz. Vivíamos um para o outro. O amor era só para nós”.

Apesar de contar mais de nove décadas, a utente do Centro de Dia do Centro Comunitário do Bairro da Flamenga mantém um espírito jovem e uma atitude positiva invejável. Frequenta o Centro de Dia da Santa Casa há quatro anos. “Sentia-me só. O meu marido tinha morrido há pouco tempo. As pessoas falavam-me bem do centro e resolvi experimentar. Fez-me bem vir para cá. O convívio é bom, faz-nos bem. É uma terapia”, salienta.

Idosa a falar com outra idosa

A nonagenária expressa-se com facilidade, não escondendo o que sente. “O amor é cada vez mais raro. As amizades já não são o que eram. Por essa razão, respeito tanto aquilo que o centro de dia me proporciona”, observa.

Os centros de dia fecharam durante o confinamento, algo que deixou os idosos sem o seu habitual espaço de convívio, atividades e partilha. “Foi difícil estar sozinha, deixei de ter as minhas amigas, mas habituei-me, que remédio!”.

“As saudades eram mais do que muitas”. Foram muitos dias sem o convívio, as colegas e as atividades do equipamento da Santa Casa. Mas um dia, as portas de centro voltaram a abrir. “Estava deserta para vir para cá. É a minha segunda casa, sinto-me feliz aqui”, desabafa, entre sorrisos.

Arminda Pereira, 83 anos, também encontrou no centro de dia uma segunda casa, amigos e uma razão para continuar. “Precisava de apoio, não tinha ninguém para me ajudar. Os meus filhos estão no estrangeiro”, explica.

Deixou Angola após o 25 de Abril com o marido, dois filhos e a roupa no corpo. Nunca deixou de batalhar, mas a morte do marido e o facto de estar numa cadeira de rodas foram um duro golpe. Este espaço é quase tudo para Arminda. É onde passa o tempo, convive, joga, faz atividades e passeios. É o seu mundo!

Idosaa no centro de dia

Arminda não recebeu bem a notícia do encerramento dos centros de dia. “Foi tão mau. Eu chorei tanto. O confinamento foi horrível. Eu deixei de ter vida. Já viu o que é um idoso – sem poder andar -, estar fechado em casa?”, questiona. “A minha sorte foi o centro enviar uma funcionária todas as semanas para eu fazer um passeio higiénico”, recorda. “Recebi a notícia da reabertura com muita alegria. Este lugar é um céu aberto, uma segunda família”, confessa.

Após alguns problemas de saúde, Cezar Freire, 62 anos, começou a frequentar o Centro de Dia do Centro Comunitário do Bairro da Flamenga para estar mais ocupado. Tomava conta do café que está nas instalações do equipamento da Misericórdia de Lisboa. Sentia-se valorizado, promovia a sua autoestima e participava em várias atividades. “O café era a minha forma de estar ocupado, ajudava as funcionárias e sentia-me bem”, recorda.

idoso a fazer trabalhos manuais

Embora seja o mais novo, o ex-empregado de comércio é dos utentes mais antigos do equipamento da Santa Casa, e também não tem boas recordações do confinamento. “No princípio custou-me muito. Fiquei isolado”, revela. Como a maioria destes utentes vivem sozinhos, a vida deixou de ser partilhada e instalou-se a tristeza. “O que vou eu fazer um dia inteiro em casa?”, perguntava, sem ter a resposta.

Já em abril, os centros de dia da Misericórdia de Lisboa retomaram as atividades de apoio social, ainda que com limitações. Algo que deixou o lisboeta feliz. “Eu precisava de voltar a ver estas caras, mesmo com máscaras”, disse, sorridente.

Esmeralda Maria Correia Saragoça, 55 anos, diretora do Centro Social Comunitário do Bairro da Flamenga, sublinha que o confinamento teve um “impacto fortíssimo” na vida dos idosos e das instituições. “Foi complicado para nós”, admite, mas a resposta da Santa Casa ganhou nova dinâmica, valorizou-se e soube adaptar-se aos novos tempos.

Diretora C.C. Bairro da Flamenga

“Estes espaços são importantes, porque são locais de socialização e de relação, e isso é significativo para as pessoas. A relação é aquilo que dá sentido à vida. O encerramento forçou-nos a uma reorganização, fomos criativos, não deixámos de estar próximos e procurámos assegurar acompanhamento e apoio a todos os utentes”, explica.

Num tempo marcado por mudanças, Esmeralda sublinha que os utentes passaram “a valorizar e olhar o Centro de Dia de outra forma. Muito mais do que garantir as necessidades básicas do seu dia a dia, reconheceram uma «casa» que acolhe e se preocupa com todos os que «abriga»”, salienta.

Uma comunidade, uma casa

O Centro Comunitário do Bairro da Flamenga da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa é uma estrutura comunitária onde são desenvolvidos serviços e atividades que visam a prevenção de problemáticas sociais e a promoção de um projeto de desenvolvimento local.

O equipamento conta com as respostas sociais de Creche e Animação Socioeducativa (ASE). No apoio a idosos integra a resposta de Centro de dia /Espaço InterAge. Na área da Família e Comunidade, responde ao serviço de Apoio Comunitário a Indivíduos e Famílias em situação de Exclusão Social e Espaço de Inclusão Digital.

Diversas especialidades médicas e cirúrgicas

Programas de saúde

Unidades da rede nacional

Unidades que integram a rede de cobertura de equipamentos da Santa Casa na cidade de Lisboa

Prestação de apoio psicológico e psicoterapêutico

Aluguer de frações habitacionais, não habitacionais e para jovens

Bens entregues à instituição direcionados para as boas causas

Programação e atividades Cultura Santa Casa

Incubação, mentoria e open calls

Anúncios de emprego da Santa Casa

Empregabilidade ao serviço das pessoas com deficiência

Jogos sociais do Estado e bolsas de educação

Ensino superior e formação profissional

Projetos de empreendedorismo e inovação social

Recuperação de património social e histórico das Misericórdias

Investimento na investigação nas áreas das biociências

Prémios nas áreas da ação social e saúde

Voluntariado nas áreas da ação social, saúde e cultura

Locais únicos e diferenciados de épocas e tipologias muito variadas

Ambiente, bem-estar interno e comunidade

Ofertas de emprego

Contactos gerais e moradas

Jogos sociais do Estado e bolsas de educação

Ensino superior e formação profissional

Projetos de empreendedorismo e inovação social

Recuperação de património social e histórico das Misericórdias

Investimento na investigação nas áreas das biociências

Prémios nas áreas da ação social e saúde

Voluntariado nas áreas da ação social, saúde e cultura

Locais únicos e diferenciados de épocas e tipologias muito variadas

Ambiente, bem-estar interno e comunidade

Ofertas de emprego

Contactos gerais e moradas