Tudo começou há um ano, na sequência da segunda edição do concurso Gerações Solidárias, da Misericórdia de Lisboa, quando foi apresentado o projeto “CUBO – Uma Biblioteca Original”, o qual consistia na construção de cubos de madeira que seriam “transformados” em pequenas bibliotecas. Colocados em três escolas das Avenidas Novas – na Escola Básica de São Sebastião, na Escola Mestre Arnaldo Louro de Almeida e na sede de agrupamento, na Escola Marquesa de Alorna –, o projeto foi implementado desde o segundo semestre de 2024 até ao primeiro semestre de 2025.
“Paralelamente foram realizadas várias atividades de aproximação de gerações, em particular entre os utentes do Centro de Dia Rainha D. Maria I com os alunos das escolas da freguesia. Foram realizadas atividades de jogos tradicionais, workshops temáticos e oficinas de ópera”, explicou Hugo Caixaria, diretor do equipamento, adiantando que as pequenas bibliotecas (ou armários) “permitiram ser o mote para a criação de mais atividades em conjunto com as escolas”.

Depois do fim, um novo “capítulo”
O Centro de Dia Rainha D. Maria I, o local onde “nasceu” o CUBO, será o mesmo onde foi decretado oficialmente o seu fim. Numa cerimónia que contou com a presença de responsáveis da Ação Social da Santa Casa e de vários utentes, o projeto que agora terminou foi alvo de um balanço repleto de elogios, tornando-se numa rampa de lançamento para uma nova fase que, tal como a anterior, promove a intergeracionalidade.
“Pensamos em envolver o Museu Bordalo Pinheiro e, com o seu serviço educativo, dinamizar um conjunto de atividades para capacitar os utentes do Centro de Dia a serem, eles próprios, guias para apresentação do museu a futuros visitantes. Aqui o CUBO [o quarto, já que os três anteriores que estiveram nas escolas deixarão de existir] irá funcionar como um «armário portfólio» onde serão guardados todos os instrumentos ou trabalhos alusivos ao artista Bordalo Pinheiro e através dos quais serão «guiadas» as visitas”, revelou Hugo Caixaria.
De acordo com o responsável, esta atividade não estava prevista na fase inicial do CUBO, apesar de “fazer sentido” para a sustentabilidade e continuidade do projeto, na relação com as escolas e na dinamização de atividades conjuntas, que permitam valorizar a relação entre gerações.

O artista
Acácio Lopes tem 82 anos e uma longa experiência como marceneiro. Desde que se tornou utente do Centro de Dia Rainha D. Maria I que havia a preocupação, no seio do equipamento, de se encontrar uma atividade que pudesse ser apelativa e interessante para o idoso, dado o seu perfil não se enquadrar nas atividades tradicionais dos centros de dia, como a prática de ginástica, ioga ou caminhadas. A esta situação, acrescia outra: o pedido do Sr. Acácio para desenvolver uma atividade relacionada com a sua arte, a marcenaria.
“Se já tínhamos o talento do marceneiro, ainda nos faltava a madeira e a utilidade do que poderíamos construir. O Sr. Acácio começou por fazer pequenas reparações de cadeiras e móveis de outros estabelecimentos da Santa Casa, mas queríamos algo maior, que tivesse um maior impacto e que, simultaneamente, pudesse criar uma dinâmica de parceria no território”, explicou o diretor do Centro de Dia Rainha D. Maria I. Assim, quando “nasceu” o projeto CUBO, que outro artista haveria para executar as pequenas bibliotecas senão o Sr. Acácio?

O balanço
“De uma forma geral consideramos que o projeto respondeu aos propósitos inicialmente estabelecidos. Começou por dar um «sentido» para a participação do Sr. Acácio e evoluiu para uma estratégia de aproximação de vários parceiros na comunidade, permitindo a realização de atividades numa dinâmica de intergeracionalidade”, avaliou Hugo Caixaria.
Segundo o responsável, a relação com o Museu Bordalo Pinheiro representará “uma nova dimensão de continuidade do projeto”, prevendo-se a sua concretização durante o segundo semestre de 2025. Sempre, com um único objetivo em mente: Valorizar o conhecimento de cada utente e colocá-lo ao serviço do outro. Neste caso, os visitantes do Museu Bordalo Pinheiro.